Eleito pela segunda vez presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva (SPCPRE), Horácio Costa revela ser um cirurgião plástico que faz mais cirurgia reconstrutiva do que estética. A área em que está mais empenhado é a microcirurgia reconstrutiva, «por possibilitar aos doentes recuperar a funcionalidade de uma determinada parte do corpo destruída».

No que diz respeito à cirurgia estética, sublinha a importância desta ser realizada por um cirurgião plástico devidamente habilitado. «A cirurgia estética é um capítulo da Cirurgia Plástica que envolve seis anos de formação», refere.

Por isso, alerta. «Pode haver cirurgiões (que não cirurgiões plásticos) com algum treino de cirurgia estética mas esse treino geralmente é inadequado», adverte. «Se ocorrer uma infecção ou uma necrose de pele no decorrer de uma redução mamária, por exemplo, é necessário ter uma preparação que vai além da estética para resolver o problema», sublinha.

Para saber os cuidados que deve ter antes de seleccionar um cirurgião plástico, clique aqui. Para confirmar se um cirurgião está devidamente habilitado, consulte o site da SPCPRE (www.spcpre.org) e veja a lista dos cirurgiões plásticos acreditados.

Além da formação adequada, Horácio Costa considera que um bom cirurgião plástico deve primar pela honestidade. «É importante deixar bem claro ao doente que há resultados, em particular na cirurgia estética, que são inatingíveis», alerta.

«Aparecem-me doentes que fizeram cirurgia de redução mamária e que queriam ter a mesma redução mas sem a cicatriz, o que não é possível (ao contrário da mamoplastia de aumento», revela.

Por que se especializou em cirurgia plástica?

Porque na altura comecei a trabalhar com o director do hospital de S. João (Dr. Flávio Guimarães, que foi presidente da SPCPRE) e ao ver algumas cirurgias plásticas comecei a verificar que era bastante útil, particularmente em cirurgia reconstrutiva.

O que mais gosta no seu trabalho?

A área que mais gosto é a cirurgia reconstrutiva, que implica transferências de tecidos (músculo, pele ou osso). Este tipo de cirurgia permite, em caso de perdas extensas de uma mão ou esfacelos graves da face devido a um acidente de viação, por exemplo, que o doente não fique deformado e que possa continuar a falar, alimentar-se e movimentar-se, ou que um doente com um tumor na face, depois de extraído o tumor, veja reconstruído o rosto. É uma área muito útil para a sociedade e por isso estou mais empenhada nela.

Já se submeteu a alguma cirurgia plástica?

Não.

Aconselharia alguém próximo a fazê-lo?

Aconselharia, se houvesse indicação médico-cirúrgica. E nesse caso faria intervenção pessoalmente, sem qualquer problema.

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Algum caso o comoveu particularmente?

Sim. Não vou dizer quais, mas sim. Em particular os que envolvem tumores malignos, porque são situações algo complicadas.

Qual foi o momento mais importante da sua carreira?

Lembro-me de vários, desde a minha formação em Glasgow, no Hospital de Caniesburn até ao meu doutoramento na Faculdade de Medicina do Porto, passando pela fundação do Serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva no Centro Hospitalar de Gaia, do qual sou director.

O que mais o atrai no corpo humano?

A harmonia anatómica dos tegumentos, que envolve a parte esquelética/óssea, cutânea, adiposa e muscular.

Qual o hábito de vida considera mais saudável?

O oposto do que eu faço. Ter tempo para si próprio, fazer alguma actividade física, caminhar em particular, e claro o resto, a alimentação regrada, não fumar e não beber em excesso.

O que faz nos tempos livres?

Fui jogador de râguebi (em Portugal e na Escócia) e continuo a jogar um pouquinho. O meu maior hobbie é jardinagem e a leitura.

O que seria se não fosse cirurgião plástico?

Estive para ser engenheiro agrónomo. Gosto muito de plantas. Neste momento estamos com uma toxidade enorme a nível mundial. Se cada homem plantasse uma árvore, provavelmente haveria menos cancro do pulmão e gástrico.

Qual o avanço por que mais anseia?

A maior capacidade de transferência de tecidos e a bioengenharia de tecidos (fabrico tecidos em laboratório), isto é pegar num bocado de pele, músculo ou osso e fazer, a partir daí, um bocado maior.

Currículo vitaeLicenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina do Porto, é especialista em Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Especialista em Cirurgia Máxilo-Facial. É também doutorado em Medicina e Cirurgia e professor catedrático da Faculade de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS).

Director do Serviço de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Máxilo-Facial do Centro Hospitalar de Gaia, é presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética (SPCPRE), desde 2005. Exerce clínica privada no Hospital da Ordem de S. Francisco, no Porto.

Texto: Fernanda Soares