Numa produção da editora Ideias & Rumos, "Momentos" foi escrito pela jornalista Manuela Brandão e é ilustrado com fotografias do fotojornalista Jorge Monteiro (ambos da Gestifute Media) e conta ainda com um prefácio assinado por Bobby Charlton, figura emblemática do Manchester United e também do futebol mundial.
A versão inglesa será publicada ainda este Verão.
Conheça aqui excertos pré-publicados pelaGestifute Media
“Timor, 2005
O avião tinha acabado de tocar o solo da pista do Aeroporto de Comoro, em Díli. Espreitei pela janela e o que vi deixou-me boquiaberto. Uma pequena multidão aguardava, pacientemente, a minha chegada, com máquinas fotográficas ou câmaras de filmar numa mão e pedaços de papel em branco ou posters de boas-vindas na outra.
Foi impressionante, mas nada que se comparasse com o que me esperava no resto do dia que passei na capital de Timor-Leste. As ruas encheram-se de um mar de gente. Todos para me verem, para me acenarem, para obterem um sorriso, uma saudação, uma palavra, um autógrafo, uma fotografia minha. Emocionei-me. Fiquei impressionado com o interesse de todo aquele povo por mim. […]
[...] Fomos para o estádio. Presenciei algo como nunca tinha imaginado: mais de 20 mil pessoas à minha espera, a gritarem por mim. Senti uma grande emoção e, ao mesmo tempo, um pouco de receio. Mas Xanana Gusmão não estava a mentir: escoltou-me, vestiu ele próprio a pele de segurança e abriu caminho para eu passar, esforçando-se por convencer os timorenses a afastarem-se para eu entrar no recinto. Os polícias, contagiados pela multidão, tiravam fotografias!…
Foi difícil, mas conseguimos subir até à tribuna do estádio. Um verdadeiro delírio. Xanana Gusmão foi o primeiro a dirigir-se à multidão. Pediu calma e alertou para os perigos de uma tragédia se a multidão não se contivesse, numa tentativa de serenar a euforia. Quando chegou a minha vez de falar, agradeci, do fundo do coração, as honras de estado que tinha recebido, o carinho, o apoio, o amor que senti durante aquele memorável dia.
[…] A minha professora do quinto ano também teria ficado surpreendida se tivesse assistido àquele episódio. E hoje não posso deixar de sorrir quando recordo a preocupação dela sempre que me via chegar à aula – algumas vezes atrasado... – com a bola na mão. “Ronaldo, larga a bola”, dizia uma e outra vez.
“A bola não te vai dar de comer. Não faltes às aulas, porque a escola é que é importante para ti e não a bola, que não te vai dar nada na vida”. Estava a entrar no avião em Dili e lembrei-me destas suas palavras. A vida é uma caixinha de surpresas. Na altura ouvia e não ligava. Mas hoje percebo-a.
E, apesar de ela ainda continuar a dizer à minha mãe e à minha tia que nunca mais vai fazer este tipo de comentário com nenhum aluno, acho que ela fez bem e que deve manter a sua pedagogia. Fez o seu papel de docente e foi um bom conselho, porque nunca se sabe o dia de amanhã. Eu é que nunca lhe dei ouvidos.” […]
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