Sol, mar, descanso... Cabe-lhe, a si, não deixar que a palavra doença force a entrada neste cenário.

É que a deslocação para certas áreas geográficas requer precauções acrescidas.

Destinos como países africanos, asiáticos e da América Central e do Sul podem implicar riscos para a saúde sendo, por isso, importante marcar uma consulta do viajante antes de partir. Para que aproveite as suas férias em pleno, siga as recomendações dos especialistas.

Vá à consulta

«Uma consulta de Medicina do Viajante baseia-se no estabelecimento dos riscos possíveis e prováveis da deslocação desse viajante e na forma de os evitar. Fazem parte da nossa actividade não só as medicações, vacinas e toda a componente de prevenção de doenças, como também o aconselhamento e questões culturais ligadas à segurança do viajante», explica Jorge Atouguia, especialista em Infecciologia e Medicina Tropical.

O primeiro passo é estudar todo o panorama da viagem: «Ter em conta o perfil do viajante, as suas características, as actividades que vai realizar, os locais a visitar, as condições de alojamento e alimentação que vai ter e saber se tem algum problema de saúde. Os riscos dependem de cada tipo de viajante», acrescenta. Por isso, é tão importante que seja uma consulta particular e vocacionada apenas para uma pessoa.

Plano de viagem

Embora dependendo das zonas de destino e dos cuidados de prevenção, aconselha-se que a consulta ao viajante seja feita uma ou duas semanas antes da partida. Jorge Atouguia explica que «é preciso elaborar todo um programa de vacinação e estudar as incompatibilidades que podem surgir entre as próprias vacinas».

«A prevenção de algumas doenças como a malária pressupõe uma medicação que começa uma ou duas semanas antes de se iniciar a viagem. Se a pessoa vier à consulta seis meses antes fica com uma boa preparação mas está sujeita a apanhar os surtos epidémicos que entretanto possam surgir e que são frequentes nos países tropicais», adverte.

A visita à consulta do viajante deve ser feita mesmo naqueles casos em que algumas vacinas já foram previamente tomadas, para que o viajante fique a par das últimas notícias a nível de saúde do país de destino. Para além das vacinas, é feita a prescrição de alguns medicamentos. «Os da malária, por exemplo, são tomados antes, durante e depois da estadia, devido ao período de incubação da doença», sublinha este médico.

Prevenção total

Uma parte considerável dos problemas surge devido à precariedade dos cuidados de saúde e saneamento básico nas zonas de destino e pelo risco de transmissão de doenças por picadas de insectos. Assim, a prevenção das doenças é feita não só através da vacinação como pela prescrição de medicamentos.

As vacinas destinam-se a prevenir, por exemplo, a febre amarela, febre tifóide ou hepatite A. De acordo com destinos especiais, tomam-se outras vacinas menos comuns, como por exemplo contra a cólera ou a raiva.


Veja na página seguinte: Os cuidados a ter com a água

Outro problema prende-se com a ingestão de água e alimentos aos quais a nossa flora intestinal não está habituada.

Jorge Atouguia alerta que «temos os nossos próprios hábitos alimentares e quando os alteramos estamos a causar um choque ao organismo.

Noutros casos, os alimentos e líquidos podem conter agentes infecciosos que frequentemente provocam diarreias e indisposições». É essencial que leve consigo uma pequena farmácia que lhe permita um auto tratamento caso seja necessário.


Regras alimentares

Para evitar as doenças transmitidas pela água e pelos alimentos deve ter alguns cuidados:

  • Utilize a água da rede pública apenas para a higiene pessoal (excepto lavar os dentes) e para cozinhar (fervendo-a)

  • Beba sempre água engarrafada e não coma gelados artesanais nem ingira bebidas com gelo preparado com água de origem duvidosa (mesmo em bebidas alcoólicas)

  • Prefira alimentos cozinhados e consuma-os logo após a confecção; prefira fruta que possa ser descascada ou que tenha sido cozinhada

  • Evite leite, iogurte ou queijo que não sejam pasteurizados ou fervidos

  • Lave sempre as mãos antes, após as refeições e quando for à casa de banho

Pães, biscoitos, tostas e bolos secos, assim como vinho, cerveja, sumos industriais, chá ou café são, normalmente, opções seguras.


Doenças à vista

Dividir doenças por área geográfica não é fácil. «Os surtos epidémicos são imprevistos e o panorama está sempre a mudar. A malária é a doença mais grave mas existem outras doenças endémicas ou com surtos epidémicos como o dengue, a febre amarela, a febre tifóide, a hepatite A, o SARS (Síndrome Respiratório Agudo) o H5N1 ou até a chikungunya.

Pelo contágio interpessoal, pode haver riscos de hepatite B, VIH ou outras infecções de transmissão sexual. Sendo difícil definir países, o risco maior em termos de continentes é África, depois América Central e do Sul, seguida da Ásia, especialmente Timor.

Quanto mais próximos estão os países ou as regiões da linha do Equador, mais calor e humidade existe, mais agentes infecciosos e vectores existem e consequentemente maiores probabilidades de doenças transmissíveis para o viajante», esclarece o especialista.


Veja na página seguinte: Por que deve ir ao médico quando regressa de certas viagens

Consulta pós-viagem

Muitas das doenças tropicais são silenciosas e podem apenas manifestar-se alguns meses ou até anos após o contacto com elas.

A consulta pós-viagem indica-se normalmente para permanências por um período superior a 30 dias e depende da zona de viagem, das actividades realizadas ou se a pessoa sofreu algum tipo de problema.

Segundo Jorge Atouguia, a consulta pós-viagem «justifica-se em viajantes com estadias longas. O que acontece, nestes casos, é uma adaptação do viajante aos costumes locais de tal modo que são deixadas de parte as precauções necessárias».

«E convém fazer uma avaliação periódica, para detectar doenças transmissíveis que possam, mais tarde, vir a afectar a saúde», adverte ainda. Para saber mais sobre Medicina do Viajante, consulte os sites www.cmtv.pt e www.who.int/ith.

Texto: Mariana Correia de Barros