São belos e são nossos, por isso merecem ser protegidos e preservados! A Associação Jardins Históricos (APJSH) venceu uma candidatura ao programa EEA Grant, apoiado em fundos da Noruega, para a recuperação das estruturas hidráulicas de 12 jardins históricos nacionais, em 2007. As obras contempladas deverão estar concluídas em 2010. O projecto está avaliado em 1,84 milhões de euros.

O recurso aos fundos do EEA Grant permite um apoio na ordem dos 650 mil euros, o que corresponde a 60% do total do projecto. Os restantes 40% (cerca de 433 mil euros) são suportados pelos respectivos proprietários dos jardins. A candidatura da APJSH foi seleccionada entre 150 concorrentes.

De acordo com a presidente desta associação, a professora e arquitecta paisagista Cristina Castel-Branco, "a opção foi uma proposta que garantisse a recuperação das estruturas hidráulicas dos jardins antigos e dessa forma atingisse um duplo objectivo: poupança de água para rega e melhoria do património através da notável contribuição da água para os efeitos estéticos dos jardins", sublinha.

"A adesão foi naturalmente voluntária e 12 proprietários de jardins históricos que são sócios da associação integraram a candidatura, entre eles alguns dos mais importantes monumentos paisagísticos portugueses, como os Jardins do Palácio de Fronteira, o Paço de Belas, o Jardim Botânico de Coimbra, o Jardim da Quinta das Lágrimas, o Jardim José do Canto em Ponta Delgada, o da Casa da Boa Viagem em Viana e os dos Paços de Calheiros, Aurora e Vitorino em Ponte de Lima", acrescenta ainda.

Integram ainda o lote dos 12 jardins a serem alvo de recuperação a Quinta da Francelha, a Quinta de Sto. António em Lisboa e o Paço Vitorino em Ponte de Lima.

Muito trabalho para fazer

O projecto recentemente aprovado vai desenrolar-se em três anos e consistirá em igual número de produtos finais. "Os projectos de recuperação, as obras em cada jardim que irão pôr a funcionar as velhas canalizações, as minas agora entupidas, os antigos de sistemas de noras, os poços e caleiras e cisternas que permitiam fazer funcionar os repuxos, encher os tanques e no final do sistema distribuir água para rega", refere Cristina Castel-Branco.

"No final, será também feita uma brochura para cada jardim restaurado, para que se possam incentivar as visitas aos jardins históricos espalhados, e por vezes escondidos pelo País", revela ainda a arquitecta paisagista.

Para Cristina Castel-Branco, "a aprendizagem sobre cada jardim que irá ser restaurado é um produto lateral mas não deixa de ser muito importante". Nesse sentido, destaca "a experiência da equipa formada pelas arquitectas paisagistas Teresa Chambel, Ana Luísa Soares e eu própria aquando do início do restauro do Jardim Botânico da Ajuda, que se prolongou durante três anos e ao qual se seguiu a gestão do mesmo jardim durante mais cinco anos".

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"O conhecimento acumulado permitiu avançar para outro jardim também de origem real, o jardim do Cerco junto ao Convento de Mafra. Dessa aprendizagem de manusear setes monumentos vivos que são os jardins históricos nasceram vários livros que registam os conhecimentos e métodos e nasceu sobretudo a vontade de continuar", confessa.

A equipa conta agora com novos membros, todos jovens arquitectos paisagistas: Miguel Coelho de Sousa, Inês Pereira de Lima, Raquel Carvalho e a estagiária Maria Matos Silva.

"O trabalho que se antecipa é uma continuação da investigação, mas também é um desafio à criatividade para conseguir com novas tecnologias garantir sistemas de águas mais ecológicos, mais responsáveis do bem escasso que é a água doce", explica a presidente da APJSH.

Modernizar sem romper com a tradição do passado

Trabalho é coisa que não lhes falta! Em entrevista à Jardins, Cristina Castel-Branco levantou um pouco o véu das tarefas que a sua equipa tem pela frente. "Um dos pontos fortes destes trabalhos, para quem está ainda no arranque da profissão, são as soluções com que os antigos trabalhavam e nas quais se encontram notáveis inspirações para o desenho de jardins contemporâneos", refere.

"Não esqueçamos que a gestão de um jardim histórico era profundamente ecológica. Desde os produtos da estrumeira que repunham a matéria orgânica no solo até à forma como a água era contida em tanques, feita saltar em canais e repuxos para depois ser recuperada para rega, todo o traçado do jardim revelava bom senso, poupança, conforto com os máximos efeitos estéticos para recursos mínimos", acrescenta.

O projecto da Associação Jardins Históricos pretende ser um ponto de partida para a viabilidade do jardim como monumento e para a garantia da sua sustentabilidade. Constituída em 2002 para dar resposta à necessidade de preservar e valorizar o rico e diverso património de arte paisagista portuguesa, resulta da iniciativa de uma equipa de profissionais e proprietários que preocupados com o estado em que se encontram os jardins espalhados por todo o país.

Desde essa altura, a APJSH tem vindo a reunir um conjunto de proprietários de jardins históricos, arquitectos paisagistas com obra feita na requalificação destes espaços, professores nas áreas de história de arte de jardins, agronomia e silvicultura, juristas, economistas e arquitectos. A aprovação da candidatura que apresentaram ao programa EEA Grant é mais uma prova do reconhecimento desse esforço.

Texto: Luís Melo
Foto: APJSH