“Para quem faz ciência, é sempre bom saber que quem está à frente do país é alguém que esteve do outro lado, e que percebe que, para o desenvolvimento de um país, é preciso apostar muito forte na inovação, na ciência, no desenvolvimento, e penso que tem sido um ponto forte da liderança da Angela Merkel”, disse à Lusa Tiago Fleming Outeiro, professor catedrático na Faculdade de Medicina da Universidade de Göttingen.

Já a cientista Sofia Figueiredo, presidente da Associação de Pós-Graduados Portugueses na Alemanha (ASPPA) no biénio 2019-2020, considera que a chanceler Angela Merkel fez um caminho “inteligente” e “passo a passo” para atingir a igualdade de género no país

“Foi durante a liderança dela que houve uma paridade maior entre pai e mãe, em que houve oportunidade dos pais tirarem também tempo para tratarem dos filhos, e claro que isso contribuiu imenso para a igualdade entre homens e mulheres no trabalho e no acesso à família”, realçou Sofia Figueiredo, que chegou ao país em 2005.

Em janeiro de 2007, o governo alemão implementou novas regras para regulamentar as licenças para mães e pais depois do nascimento dos filhos, alargando os benefícios sociais, com “cada vez mais empresas a aceitarem isso como o novo normal”, explicou a investigadora portuguesa a viver em Mannheim.

Angela Merkel foi, em 2000, a primeira mulher a ser eleita presidente da União Democrata-Cristã (CDU), e em 2005, a primeira a ser escolhida para governar o país.

“Merkel fez um longo caminho desde que entrou até hoje. Vemos que, apesar da Alemanha ainda não ter atingido os patamares que desejamos, existem várias mulheres na liderança e transparência em mostrar esses números, isto é, onde estão colocadas e as empresas que estão a abertas a isso”, frisou Sofia Figueiredo.

Este caminho também foi conseguido através de uma estratégia metódica, herdeira da formação académica em química quântica de Ângela Merkel, que foi investigadora cientifica antes de entrar na política, considerou, por seu turno, Tiago Fleming Outeiro.

Essa formação ajudou Merkel “a ser capaz de analisar situações complexas, a interpretar, a tomar decisões, a chegar a consensos com colegas e parceiros com quem tinha de interagir”.

O investigador está desde janeiro de 2011 na Alemanha, depois de ter recebido um convite “difícil de recusar” para dirigir o departamento de Neurodegeneração Experimental.

“O sistema na Alemanha apoia os cientistas, os investigadores, com bom financiamento, com posições estáveis, previsibilidade (…), regularidade nos financiamentos, o que é algo que não é fácil de encontrar noutros países”, disse, sublinhando que “a grande vantagem do sistema alemão é que há uma grande separação entre a política e os financiamentos da ciência. Há agências que recebem financiamento do Ministério da Ciência, e depois gerem e administram esses financiamentos de forma independente”.

As eleições legislativas na Alemanha estão marcadas para o dia 26 de setembro.