A discussão não é recente. Ano após ano assistimos à mesma constatação com uma incredibilidade que devia vir acompanhada de mudança, mas que não vem: os jovens em Portugal leem cada vez menos. Um inquérito do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa revelou que, durante um ano, 61% dos portugueses não leram um único livro em papel. Mais: parece haver uma relação entre a educação e os hábitos de leitura, já que, na sua infância e adolescência, a maioria dos inquiridos não beneficiou de estímulos à leitura gerados em contexto familiar. Ano após ano fazemos a mesma pergunta e recebemos o mesmo resultado: os portugueses estão a ler menos. Mas e se mudarmos o ângulo da investigação? E se, num momento de loucura, mudarmos a questão para “porque é que os portugueses estão a ler menos?”. Será que conseguimos chegar a conclusões mais interessantes e menos redundantes?

Do topo da minha mente, chegam-me as mais óbvias: o preço dos livros, o preço da cultura, não acompanha a carteira de todos. As bibliotecas não têm as mais recentes novidades que poderiam captar a atenção de novos leitores. Algumas editoras continuam focadas em reedições de livros do século passado, quando podiam aproveitar novas ideias, novas vozes e novos talentos, de autores que vivem nos dias de hoje e que sabem o que pode incentivar a leitura.

Mas isso leva-nos a outro tema de discussão, também ele bastante proeminente e que, de vez em quando, vem a público. Continuo a ouvir que em Portugal já não há talento. Que os jovens autores não chegam aos calcanhares de grandes nomes do passado. Prémios literários com centenas de submissões continuam a não ser entregues porque, em tantos trabalhos, nenhum merece reconhecimento, o que é tão difícil de acreditar – haverá falta de talento, ou estarão os critérios ultrapassados? Porque sabem que mais? Se talento se traduz na descrição do Ramalhete de Eça de Queirós ou na escrita de Saramago, concordo com quem tão firmemente afirma isso. Assim, de facto, não há talento entre os autores jovens. Mas será que os leitores se sentem motivados em descobrir esse tipo de literatura? Eça é que é Eça.

Sempre li clássicos, adorei lê-los na escola, e tenho-os na minha estante, mas vamos ser sinceros: o jogo da cobrinha do Nokia 3310 era incrível quando saiu, mas hoje em dia toda a gente quer fazer TikToks no seu mais recente iPhone. Com isto não quero denegrir os clássicos, ou os aclamados autores que merecem todo o reconhecimento que têm, mas sim mostrar algo que, para mim, parece bastante claro. Se pretendemos incentivar os jovens a ler, o primeiro passo a dar é aceitar que o mercado está a mudar. Que os escritores de hoje têm estilos diferentes, mais ou menos diretos, e investem em géneros literários Young/New Adult, desde romances à fantasia, géneros esses negligenciados pelo mercado português mas que têm o poder de cativar os jovens, porque oferecem-lhes exatamente o que procuram: desfrutar de um bom momento, rir, chorar, viver intensamente uma paixão ou uma aventura, ao invés de os obrigar a pensar e a analisar quase com a mesma atenção com que precisam (ou deviam) de assistir às aulas de Filosofia. Isto não é mau, não tem menos qualidade, é apenas diferente. A falta de aposta nestes géneros e em novos talentos fazem com que os (já poucos) portugueses que leem, por vezes optem por ler livros internacionais, em inglês, que lhes oferecem o que procuram. Há leitores, por aí. Pesquisem #bookstagram no Instagram, e descubram quantos influenciadores literários existem no nosso país, e também quantos procuram alternativas que o nosso mercado não oferece.

Quando apresentei os meus livros em escolas – fantasia e romance, imagine-se! – dei por mim maravilhada com o interesse dos miúdos. Com as perguntas que me fizeram. Com cada “mas tu és tão jovem!” ou “não sabia que havia livros assim, fixes!” que ouvi. Sim, há livros assim, fixes! Há livros para todos os gostos e feitios. Basta que o mercado o perceba. E que aceite esta mudança.