Raquel Comprido licenciou-se em Línguas, Literaturas e Culturas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É fundadora da RightBuddy, a primeira agência de comunicação, web design e marketing digital portuguesa com foco na responsabilidade social.
Quem é a Raquel Comprido, empreendedora?
Sou uma apaixonada por responsabilidade social, pelas pequenas coisas da vida e tento diariamente ser a diferença que quero ver no mundo.
Além de fundadora da RightBuddy, sou professora nas horas vagas e voluntária sempre que o meu coração assim o dita.
Porquê esta tua preocupação com a responsabilidade social?
Sempre fui uma daquelas pessoas que está sempre disponível para ajudar o mundo inteiro e que acredita que vai mudar o mundo. Além disso, sempre fui de testar os meus limites, porque os conheço bem, e de mostrar aos outros que só não conseguimos aquilo que queremos quando as tentativas não são suficientes. Se quisermos com muita força, nós movemos montanhas. E chegamos lá. Custe o que custar, demore o tempo que demorar.
O problema é que a maioria segue o caminho mais fácil. E claro que é mais fácil assobiar e olhar para o lado quando vemos alguém a precisar de ajuda. É mais fácil dizermos que o Estado é que devia agir. Eu concordo, atenção. Concordo totalmente. Porque eles é que têm o poder e o problema vai bem além do que eu ou qualquer outra pessoa possa fazer. Mas a responsabilidade social é de todos nós. Não é só responsabilidade do Estado, nem das grandes empresas, nem minha. É de todos os cidadãos. Ou devia ser. Se cada um fizesse a sua parte, um bocadinho todos os dias, o mundo era um lugar muito melhor. Podemos sim, mudar o mundo de uma pessoa, de um animal, ou contribuir para melhorar o ambiente. Se eu consigo, todos conseguimos. Agora imaginem multiplicar as minhas ações pelo número de pessoas que existem no mundo: acham mesmo que não podemos mudar o mundo?
Como implementas a responsabilidade social na tua empresa?
A RightBuddy ainda é uma agência pequenina, com pouco mais de um ano, mas já nasceu para ser diferente e para contribuir para um mundo melhor e mais consciente para todos. É a primeira agência portuguesa com foco na responsabilidade social. E já nasceu para ser a primeira em alguma coisa e para influenciar outras pessoas e empresas a fazerem o mesmo. Se fosse para ser mais uma, honestamente, não seria um projeto meu.
Somos uma agência de comunicação, web design e marketing digital apaixonada por construir - ou reconstruir - marcas e desenvolver a sua história através da sua pegada digital. Mas somos uma agência que privilegia, além da qualidade dos serviços prestados, a relação com as pessoas e as consequências que as nossas ações têm em todos os intervenientes: desde os meus colaboradores, ao cliente final, passando pela causa que o cliente decide ajudar, o objetivo é que todos sejam valorizados e fiquem satisfeitos e felizes com cada projeto.
Na base do nosso negócio temos 10% do lucro de qualquer projeto realizado, seja ele de que dimensão for, doado a uma causa social que o cliente escolhe. Porque o objetivo é educar as pessoas. Despertá-las para a entreajuda, a compaixão. Para que percebam que quando nos unimos, fazemos coisas grandiosas e que mudam a vida de muita gente.
Além desses 10%, organizamos eventos com cariz social, de impacto positivo na sociedade, que podem ir desde ações 100% solidárias que organizamos para uma causa específica (por exemplo, o ano passado organizámos uma ação de apoio aos incêndios e, este ano, outra) ou mesmo um evento que visa consciencializar as pessoas (como o evento que fizemos, por exemplo, na passagem de ano do ano passado em dois restaurantes em Lisboa, onde pedimos às pessoas que levassem um bem essencial para uma das causas que escolhemos: uma animal, uma ambiental e uma social).
Como apoias a implementação da responsabilidade social em outras empresas?
O terceiro core business da RightBuddy é a responsabilidade social corporativa. No âmbito da responsabilidade social, desenvolvemos e implementamos estratégias de responsabilidade social corporativas. Além disso, criamos estratégias de comunicação coerentes.
Mas o nosso objetivo é capacitar as empresas, para que no futuro possam ser autónomas na implementação dos seus planos de responsabilidade social.
Desenvolvemos tanto a responsabilidade social interna das empresas como a externa. A interna, através da capacitação dos executivos (formação) e/ou da organização de ações internas onde os colaboradores intervenham, como programas de teambuilding. A externa, fazendo a ligação entre as causas e as empresas, através da organização de ações e campanhas com os órgãos sociais/ instituições, nas quais os colaboradores são diretamente envolvidos.
As empresas portuguesas estão sensibilizadas para a responsabilidade social? É uma moda, uma obrigação ou uma convicção?
Nem todas, infelizmente. A responsabilidade social está na moda, feliz ou infelizmente, depende da perspetiva, mas eu diria que é sempre algo feliz. Mesmo que muitos ainda o façam para “ficar bem na fotografia” o que importa é que o façam. Os valores vamos aos poucos tentando incuti-los nessas pessoas também.
O problema principal prende-se com o facto de ainda serem as grandes empresas as que estão mais despertas a isso (e mais dispostas a pagar por isso). Empresas às quais ainda não conseguimos chegar, porque ainda somos pequeninos. Porque, lá está, aparecer nos media continua a ser mais importante do que a ação em si e o bem que ela vai fazer à comunidade.
Mas urge olhar para a responsabilidade social como um investimento a longo prazo. E, na minha opinião, toda e qualquer empresa, seja qual for a sua dimensão, devia ter em conta a responsabilidade social. Afinal, sendo a responsabilidade social um processo contínuo e de melhoria da empresa na sua relação com os seus funcionários, comunidades e parceiros, é a base de tudo.
As empresas socialmente responsáveis não só elevam a satisfação dos funcionários e conquistam a fidelidade dos seus clientes, como possuem uma maior capacidade de competitividade e inovação.
O voluntariado para além da RightBuddy. Que outros projetos te movem?
Faço voluntariado desde que me lembro. Lá em casa, sempre tivemos animais adotados. Na faculdade, ajudava alunos com algum tipo de deficiência a conseguirem melhorar os seus resultados. Mais tarde, dei aulas a crianças com défice de atenção e com autismo. E, mais ou menos por essa altura, comecei a resgatar animais de condições precárias ou abandonados para os tratar e encaminhar para adoção. E podia continuar.
Sou professora de Inglês de formação. Mas percebi, com o tempo, que não queria dar aulas no ensino tradicional. Queria continuar a dar aulas, sim, mas nos meus tempos livres e a crianças (mas não só) que precisassem mesmo de mim.
Comecei por África, mais precisamente no Uganda, em março deste ano, onde estive um mês a dar aulas a crianças e a ajudar mulheres a desenvolverem as suas microempresas, para a sustentabilidade das suas famílias. Seguiu-se a Tailândia e o Camboja, onde dei aulas durante mais um mês e meio a mais de 120 crianças.
O voluntariado é fruto dessa minha paixão assolapada de fazer os outros felizes, mas é, também, o testar dos meus limites. Porque em cada viagem descubro algo em mim que até então desconhecia. Testo a minha resiliência, persistência e cresço sempre imenso em cada missão.
Volto sempre de coração cheio. Pelo que lhes proporciono, mas essencialmente pelo que eles me proporcionam a mim: ver que podemos ser felizes com muito menos. E que basta deixar o coração à larga e fazermos o que nos apaixona para sermos pessoas mais realizadas.
E o próximo passo será, certamente, trazer estas missões para dentro da RightBuddy e dar a mais pessoas a oportunidade de embarcarem comigo nelas. Para que possamos continuar a fazer a diferença na vida das pessoas, mas a uma escala maior.
10 dicas de Raquel Comprido para implementar uma política de responsabilidade social no seu negócio:
- Estabeleça o seu código de ética
- Valorize todas as pessoas com as quais se relaciona: desde a equipa interna aos stakeholders
- Implemente boas práticas de responsabilidade ambiental, substituindo alguns utensílios por outros mais sustentáveis e amigos do ambiente
- Apadrinhe/amadrinhe uma criança
- Organize visitas a instituições sociais
- Seja transparente em tudo o que faz
- Procure fornecedores e parceiros sustentáveis
- Prefira papel reciclado, quando não puder abdicar mesmo dele
- Participe em campanhas sociais que já existam
- Realize dois projetos comunitários por ano
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