Quase 40 anos depois, outra das suas obras acaba de entrar para as coleções do Vaticano.
Até mesmo o papa Francisco deu a sua bênção em junho passado, explica o artista com orgulho à AFP.
"Fui convidado para ouvir e conhecer o papa na Capela Sistina, durante o 50º aniversário da coleção de arte contemporânea do Vaticano", explicou o fotógrafo numa entrevista durante a sua visita a Paris.
Filho de um hondurenho e de uma cubana, nascido em Nova Iorque há 73 anos, Serrano sempre se apresentou como um católico fervoroso.
Durante a visita, o Vaticano aceitou um trabalho religioso da sua autoria, diz o mesmo. "Portanto, sinto que a Igreja aceitou o fato de eu ser um artista, ao contrário da reação nos Estados Unidos, onde a direita religiosa continua a odiar-me", comenta.
Retrospectiva em Paris
O Museu Maillol, em Paris, abre este sábado uma retrospectiva de 89 obras de um artista que empreendeu uma tarefa árdua há mais de cinco décadas: retratar da forma mais ampla possível todas as facetas dos Estados Unidos.
Dividida em dez capítulos, a exposição mostra o olhar sem julgamentos de Serrano sobre os seus compatriotas, sejam eles vagabundos, personalidades como Donald Trump, retratado em 2004, homens e mulheres da Ku Klux Klans, gays ou casais heterossexuais nus... E também os seus fetiches, como armas, a bandeira ou símbolos religiosos.
Serrano fotografa temas com cores saturadas, mas a pose é neutra. Por outro lado, as suas opiniões políticas são claras.
"Acho que o futuro dos Estados Unidos está a ser escrito neste momento e que é uma repetição da história e, acima de tudo, da guerra civil, e que Donald Trump a reviveu", explica o artista, seis meses antes das próximas eleições presidenciais.
Serrano não só fotografou o então famoso empresário antes deste chegar à Casa Branca, como também colecionou inúmeros objetos de Trump, de ursinhos de peluche a garrafas de licor, que expõe igualmente no Musée Maillol.
Mas foram sobretudo os retratos frontais e crus de pessoas com deficiência e nuas, as suas séries sobre tortura ou fluidos corporais que lhe trouxeram fama e problemas.
"Ir muito longe"
"É engraçado porque, quando fotografo pessoas, geralmente tenho apenas alguns minutos com elas. Então, lembro-me delas por causa das fotografias. Tornam-se parte de meu trabalho, parte da minha vida", explica.
"Como eu consigo retratá-las? Porque eentendem que sou um artista e que as minhas intenções são sinceras", conclui.
O "Cristo da urina" de Andrés é considerado uma das obras que mais contribuíram para as guerras culturais nos Estados Unidos entre a direita conservadora e a intelectualidade de esquerda, uma luta que continua até hoje.
"Eu tirei estas fotos num determinado momento. Não as faria de novo, porque já está feito. Os tempos mudaram. E acho que há muitas outras coisas que pode fazer hoje em dia, e as pessoas (artistas) encontram maneiras de fazer isso.
"Aprendi que poderia ir muito longe e sinto que isso ainda não é suficiente", acrescenta com um sorriso.
A polémica trouxe-lhe fama fora do país. Em 2012, o fotógrafo quis conhecer as suas origens cubanas e conseguiu ser convidado para a Bienal de Havana, onde fotografou os interiores decadentes de casas coloniais.
"Achei triste e, pelo que me disseram, a decadência está ainda pior agora", recorda.
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