Beatriz Franck, está a divorciar-se, não tem filhos mas tem a maternidade como objetivo para se sentir uma mulher plenamente realizada. A conversa decorre na empresa de uma amiga em Lisboa, onde vem com alguma regularidade, apenas interrompida por telefonemas profissionais em francês, língua que domina na perfeição.

Começou cedo a dedicar-se à moda?

Tinha 17 anos e tive de ir em frente para superar as dificuldades por que passei na vida. Como sempre gostei muito de moda e sobretudo de ver as pessoas bem arranjadas, achei que podia contribuir para isso com o meu bom gosto.

Entretanto surge o seu interesse por uma grande revista...

Queria muito ter a Vogue África, mas, infelizmente, não foi possível. Decidi então fazer uma revista inspirada na Vogue mas focada na moda angolana... E foi assim que, depois de ter o projeto já há alguns anos em papel, decidi lançar a revista há três anos!

Como se chama a sua revista?

É mensal e chama-se Super Fashion. Já é uma revista conceituada quer em Angola, quer em Portugal, onde está em todos os pontos de venda mais significativos, nomeadamente, no aeroporto de Lisboa.

A equipa é grande?

Somos 17 pessoas, já tem alguma dimensão... E continuamos a crescer. A revista tem uma aplicação que pode ser descarregada em todo o mundo e lançámos agora o site – o objetivo é internacionalizá-la.

É o seu “Ai Jesus”?

Adoro a minha revista. É a minha coqueluche, o bebé que levo com o todo o carinho, mas não é tudo. O meu projeto de vida está a ser agora implementado, mas só pretendo falar disso quando estiver tudo concretizado.

Onde são as suas lojas

Tenho uma em Cabinda e outra em Luanda. A de Cabinda é a maior, com mil metros quadrados, e penso espalhá-las pelo país inteiro. Por enquanto não estou a pensar abrir lojas em Portugal mas, quem sabe, no futuro, isso venha a acontecer...

O que vendem as suas lojas?

A de Cabinda, que é a maior loja da província, funciona como um centro comercial, com os seus vários departamentos: tem secção infantil, feminina, cama, mesa, banho, bolsas e calçado, e no primeiro andar tem mobiliário... é um pequeno shopping center, que já vai fazer 11 anos.

Em Luanda é só moda?

Sim. Só tem vestuário feminino de várias marcas. As angolas gostam de moda, são muito exigentes e estão atentas às novas tendências. Gostam de se vestir bem e não abdicam de estar sempre elegantes, bem vestidas e bem maquilhadas. Independentemente do nível social, a angolana é vaidosa por natureza...

Trabalha muitas horas por dia?

Perco a conta. Costumo dizer que sou workaholic. Não tenho hora, não tenho dia, não tenho tempo para nada. Trabalho sábados domingos e feriadas, e, mesmo à noite, estou sempre atenta aos emails e atendo todos os telefonemas.

Estudou em Lisboa?

Não. Formei-me em contabilidade em Cabinda porque não tínhamos faculdade de moda em Luanda, e como sempre gostei muito de matemática, achei que poderia ser uma boa opção. Depois da contabilidade, estudei gestão de empresas. Graças a isso é que consigo gerir as minhas empresas.

Como é o seu agregado familiar?

Estou em processo de divórcio e não tenho filhos. Mas quero muito ter, é a parte que falta para me sentir realizada como mulher.

Consegue tocar isto tudo para a frente sozinha?

Consigo. Aliás, quando era casada até era mais difícil porque tinha de acumular o trabalho com o marido. Agora é tudo mais fácil, apesar de passar a vida a viajar por causa dos negócios, para fazer novos contactos e sobretudo para fazer compras para as lojas, do que resulta na maior parte das vezes ficar sem tempo para mim.

E sem tempo para a sua família...

É verdade. Tenho cada vez menos tempo para estar com a minha mãe e com os meus irmãos, e mesmo quando vou a Cabinda, nem sempre tenho tempo para a visitar, porque, quando acabo de trabalhar, está na hora de apanhar o avião para Luanda. Claro que no aniversário da minha mãe, no Natal e às vezes na Páscoa,  faço questão de estar presente.

Tem muitos irmãos?

Sou a última de nove filhos. Duas moram em Londres e os restantes moram em Cabinda.

Só viaja em trabalho, nunca consegue viajar em lazer?

Consigo. Costumo tirar férias duas vezes por ano, mas as coisas estão a complicar-se e, provavelmente, tenho de reduzir as pausas a cinco ou seis dias. Por exemplo, agora estou em Lisboa em trabalho, mas vou aproveitar o fim de semana para ir a Tróia descansar.

Aí desliga-se de tudo?

Sim. Desligo os telemóveis e os computadores e fico a relaxar para recarregar as baterias para um novo período de trabalho.

Tem muitos amigos aqui?

Tenho. Portugal é cada vez mais a minha segunda casa. Sinto-me muito bem aqui.

Quando está em Lisboa fica no hotel ou em casa de amigos?

Fico no hotel.

O que gosta mais nos portugueses?

Boa pergunta! São pessoas muito atenciosas. Quando gostam, gostam mesmo e prestam muita atenção.

É uma mulher do mundo, está habituada a várias cozinhas. Gosta da nossa?

Adoro. É mesmo a minha preferida. De tal forma que engordo sempre dois ou três quilos quando cá venho. Gosto tanto que nunca me privo de nada!

Quais são os seus projetos futuros?

Quero continuar na moda. Tenho vários projetos para outras áreas, mas a minha realização pessoal é mesmo na moda!

Se tivesse de escolher uma cidade para viver, qual seria?
Miami. É uma cidade quentinha, acolhedora e muito descontraída.

Texto: Palmira Correia