A perda auditiva unilateral, ou surdez unilateral (SSD), é definida como a perda auditiva profunda de um ouvido com audição praticamente normal do outro lado. As principais causas relacionadas com a surdez unilateral são ototoxicidade (toxicidade ao ouvido interno), doença de Ménière, trauma, infeção da orelha interna (secundários a uma labirintite, otite média, meningite), otosclerose, tumores (schawnomas, neurinomas e outros), doenças circulatórias (como o AVC – acidente vascular cerebral), doenças metabólicas, surdez súbita, fatores genéticos dentre outros.
Estima-se que um em cada 500 recém-nascidos e 1 a 3% das crianças tenham perdas auditivas assimétricas. Essa prevalência aumenta com o envelhecimento da população. Em adultos, estima-se que ocorra 200 casos novos de surdez unilateral por cada milhão de pessoas no mundo a cada ano, representando cerca de 50 a 60 mil casos novos nos Estados Unidos e 9 mil no Reino Unido.
Surdez unilateral é incapacitante
Portugal é um dos países que inclui a surdez unilateral como uma incapacidade e, portanto se dispõe de auxílios e da possibilidade de tratamento no Sistema Nacional de Saúde (SNS). A surdez unilateral pode ser incapacitante e ter grande impacto na vida das pessoas, uma vez que algumas das principais habilidades do sistema auditivo fica comprometida.
Ouvir somente de um lado limita a capacidade de localização da fonte sonora, portanto ao som de uma buzina de um carro a avisar que se aproxima, corre-se o risco de atropleamentos. Além disso, perde-se a capacidade de ouvir em “estéreo”, semelhante a não poder ver em 3 dimensões, não se consegue ouvir e discriminar todos os sons do ambiente, principalmente sons verbais em ambientes ruidosos e também sons musicais.
Praticamente todo o nosso dia a dia decorre em ambientes onde há ruído competidor, oriundo de maquinas, conversas, músicas, automóveis, e portanto, a capacidade de compreensão auditiva diminui drasticamente em pessoas com surdez unilateral.
Normalmente, as pessoas com surdez unilateral conseguem, de maneira limitada, se adaptarem as mais diversas situações. Em reuniões, tendem a se posicionar da forma que o melhor ouvido fique direcionado para onde acontece a conversa, ou até utilizam-se da leitura labial como auxilio.
O tratamento
Atualmente, o tratamento da surdez unilateral consiste em duas formas de reabilitação auditiva, podendo ser cirúrgica ou não cirúrgica. Há a possibilidade de utilização de próteses auditivas convencionais (dispositivo externo adaptável - sistema CROSS), no qual coloca-se um aparelho-microfone no lado surdo e um aparelho adaptado no lado ouvinte. Esses dois aparelhos se conectam (por tecnologia bluetooth ou similar, sem fios), e o microfone consegue enviar os sons da área que o ouvido surdo não consegue perceber para o outro lado ouvinte, aumentando assim a capacidade auditiva e de discriminação dos sons.
Outra hipótese de tratamento são sistemas cirúrgicos ancorados ao osso temporal (sistema B.A.H.A.). Nesses, um dispositivo, que é fixado cirurgicamente no lado surdo, capta os sons do lado surdo e emite para o lado ouvinte através de estimulação e vibração óssea.
Tais tratamentos, na verdade, não reabilitam o ouvido surdo de facto, mas atenuam e mascaram a perda auditiva unilateral. Desta forma, melhora-se a habilidade de discriminação auditiva em ambientes ruidosos, entretanto não se consegue melhorar a capacidade de localização sonora. Essas tecnologias podem ser testadas, tornando a escolha do tratamento mais personalizada e adequada e, assim pode-se ter uma experiência real de como é ouvir nessas situações.
A única maneira de reabilitar de facto o ouvido surdo e tratar a surdez unilateral é com um implante coclear (IC), que fornece estimulação elétrica da cóclea do lado surdo, estimulando assim o nervo auditivo desse mesmo lado. Com esse implante, consegue-se superar as habilidades auditivas perdidas, como a localização da fonte sonora e a discriminação auditiva em ruído. Entretanto, nem todos com surdez unilateral são bons candidatos a receber esta tecnologia, sendo necessária a avaliação médica especializada.
A surdez é uma das principais deficiências sensoriais do ser humano, e portanto deve ser diagnostica e tratada. Pessoas com surdez devem ter a possibilidade de voltar a ouvir e de reabilitar as habilidades do sistema auditivo. Procure seu médico otorrinolaringologista e vigie sua saúde auditiva.
Os conselhos são dos médicos Tammy Messias Takara, Especialista em Medicina Interna e Saúde Pública, Guilherme Machado de Carvalho, Especialista em Otorrinolaringologia, e Sousa Vieira, Especialista em Otorrinolaringologia, no Hospital Lusíadas Porto.
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