O piolho vive exclusivamente no couro cabeludo dos humanos, podendo sobreviver fora do hospedeiro por períodos relativamente longos, superiores a 48h, o que lhe permite transmitir-se facilmente, nomeadamente através das roupas e sofás.
A pediculose do couro cabeludo não constitui um problema importante de saúde pública, mas causa desconforto considerável devido ao prurido, eritema do couro cabeludo e eventual infecção secundária.
É uma causa importante de desconforto e embaraço social, mantendo-se o estigma de que ter piolhos é sinónimo de falta de higiene, o que não é verdade, assumindo nas crianças um papel importante, uma vez que pode ser responsável pela marginalização e exclusão do grupo em que estão inseridas, com eventuais repercussões a nível psicológico.
Atinge todos os grupos demográficos e socioeconómicos, sendo mais frequente nas classes mais desfavorecidas, afectando cerca de 35% das crianças em idade escolar e pré-escolar, principalmente do sexo feminino, pela maior proximidade física durante as brincadeiras e partilha de objetos pessoais, como pentes, fitas de cabelo e chapéus. Habitualmente é rara na raça negra.
A disseminação da infestação por piolhos é muito frequente, constituindo por vezes um problema de difícil resolução, sobretudo em escolas e infantários. Pode ocorrer por:
Contacto direto: Esta forma de transmissão ocorre através do contacto direto dos cabelos, sendo por este motivo mais frequente entre crianças, elementos do agregado familiar e no grupo de amigos.
Contacto indireto: Quando há partilha de roupas e objetos pessoais ou através dos sofás, almofadas, cadeiras do carro ,etc, forma esta de transmissão muito frequente e por vezes esquecida, sendo responsável pelo prolongamento da situação e reinfestações frequentes, uma vez que não é quebrada a cadeia de transmissão da doença.
O piolho fêmea deposita ovos durante cerca de 30 dias, que eclodem ao fim de 9 a 10 dias, dando origem a pequenos piolhos, que demoram 7 dias a atingir a idade adulta e a começarem a pôr os seus próprios ovos.
As lêndeas, que são os ovos com a sua cápsula, encontram-se fixadas aos fios de cabelo junto ao couro cabeludo, preferencialmente nas regiões occipital e retro-auricular, devido ao maior grau de humidade e calor. A distância a que estes se encontram do couro cabeludo pode-nos fornecer uma estimativa da duração da infestação, uma vez que quanto mais perto do couro cabeludo mais recente é a infestação. As cascas dos ovos mortos, podem permanecer nos cabelos durante semanas ou meses após a infestação.
Embora seja frequente a confusão, é importante perceber que piolhos não são lêndeas.
Uma vez que o piolho vive no couro cabeludo, a principal manifestação da doença é o prurido, ou comichão, do couro cabeludo e os inconvenientes que daí advêm. Em casos mais graves, de infestação extensa, as lesões de coceira do couro cabeludo podem infectar e provocar mal-estar geral.
Os piolhos preferem os meios húmidos e quentes, sendo o Verão a altura ideal para a sua disseminação, e o início das aulas o período propício ao contágio entre as crianças.
Terapêutica
São vários os produtos antiparasitários disponíveis no mercado para o tratamento da pediculose do couro cabeludo, no entanto é importante fazer um tratamento correcto, o que implica 2 aplicações com intervalo de 1 semana, em cabelo completamente seco.
Passar no cabelo pente de dentes finos, específico para este efeito, para a remoção das lêndeas que se encontram nos fios de cabelo.
Outras medidas a tomar, para evitar as reinfestações:
- Desinfectar os objetos que estiveram em contacto com o indivíduo infestado;
- lavar a 60º a roupa pessoal e de cama, aspirar o carro, a casa, sofás, cadeiras de transporte e deitar fora o saco do aspirador;
- lavar os objetos de uso pessoal como pentes, escovas, fitas de cabelo e bonés;
- inspecionar regularmente as cabeças, principalmente das crianças;
- em épocas de maior contágio, as meninas devem usar os cabelos presos;
- sensibilizar as crianças para não partilharem certos objectos como escovas, pentes e chapéus;
- incentivar o uso de toucas de banho nas piscinas.
É igualmente importante não esquecer de fazer o tratamento aos restantes membros da família.
Além disso, os pais devem informar a escola, para que todas as crianças sejam examinadas cuidadosamente e tratadas adequadamente em caso de infestação.
Por Margarida Fortunato, Médica Pediatra e Neonatologista do Hospital da Luz
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