Obviamente o exercício físico é importante pois fortalece a musculatura corporal e, em particular, o pavimento pélvico, para além de diminuir o risco de excesso de peso, ou seja, ao diminuir a probabilidade de obesidade está a contribuir para um menor risco de incontinência de esforço.
No entanto o excesso de exercício, em especial aquele que aumenta muito a pressão abdominal e sobrecarrega em demasia o pavimento pélvico, pode lesar ligamentos e fáscias importantes à integridade do períneo.
Desportos como o halterofilismo, o cross-fit, tão na moda, ou algumas artes marciais como o Kickboxing podem criar grandes esforços abdominais tão elevados que pressionam a bexiga e podem lacerar os ligamentos do pavimento pélvico, em especial o ligamento pubo-uretral provocando uma hipermobilidade uretral e consequente incontinência urinária de esforço.
É caso para dizer que o desporto, em demasia, não dá saúde.
Para melhor compreender esta relação importa conhecer os tipos de incontinência urinária que existem e as suas causas.
Um sintoma importante
A perda involuntária de urina é um sintoma que define um problema de saúde pública com um apreciável impacto social e económico. Na presença deste sintoma deve procurar ajuda médica.
Na mulher a incontinência urinária (IU) existe em qualquer idade, mas a sua prevalência aumenta progressivamente com a idade podendo no idoso atingir 30-50%.
Tipos de IU:
– Incontinência urinária de urgência – perda de urina acompanhada ou imediatamente antecedida por uma vontade súbita ou urgência miccional.
- Incontinência urinária de esforço – perda de urina relacionada com o esforço, sem sensação de vontade de urinar ou de bexiga cheia.
– Incontinência urinária mista – incontinência que associa ambas as anteriores.
Causas e tratamentos
Para chegar ao diagnóstico de incontinência urinária, a história clínica e a observação geral do doente são fundamentais.
As causas e os respetivos tratamentos das diferentes incontinências urinárias são distintos.
A incontinência urinária de urgência ocorre na sequência de contrações da bexiga involuntárias ou por diminuição da capacidade normal da bexiga.
Na incontinência por urgência estão indicadas algumas alterações do estilo de vida como micção programada e controle da ingestão de líquidos. O tratamento farmacológico neste tipo de incontinência urinária é uma boa opção terapêutica. Quanto à cirurgia consiste também numa técnica minimamente invasiva, que passa pela administração de toxina botulínica em regime de ambulatório e com uma simples anestesia local ou sedação.
Na incontinência de esforço, o defeito pode ser causado por insuficiência do esfíncter (músculo que rodeia a uretra e cuja contração a encerra), ou por alterações dos músculos e ligamentos do pavimento pélvico, cuja integridade é importante para o suporte e estabilidade da uretra.
Os fatores de risco para esta incontinência são as alterações atróficas da vagina e uretra muito frequentes na mulher após menopausa, este fenómeno é, até certo ponto, uma consequência natural do envelhecimento
Porém há vários fatores, que contribuem para o agravar, como o excesso de peso e a obesidade, traumatismos dos partos, cirurgias pélvicas ou acidentes, a obstipação crónica, tabagismo e antecedentes familiares de incontinência urinária que revela uma herança genética desfavorável.
Na incontinência urinária de esforço ligeira pode-se optar inicialmente por tratamento com exercícios que fortaleçam os músculos pélvicos, ou seja, uma fisioterapia do pavimento pélvico.
No entanto, a terapêutica de eleição, consiste na cirurgia. Estas técnicas são de elevada eficácia (cerca de 90% de cura), com taxa de complicações baixa e passam pela colocação de fitas de material sintético, sob a uretra, com uma pequena incisão, de um a dois centímetros, na parede vaginal. Este tipo de intervenção é realizado normalmente em regime de ambulatório, ou seja, a doente tem alta no próprio dia da cirurgia. A recuperação é rápida, e em poucos dias a doente pode voltar à atividade normal.
Obviamente um diagnóstico precoce é vital no sucesso terapêutico da incontinência urinária.
Um artigo do médico Frederico Ferronha, Urologista na CUF - Hospital CUF Descobertas, Clínica CUF Mafra, Hospital CUF Sintra e Hospital CUF Torres Vedras.
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