Altitude. Humidade. Micróbios. Stresse. Fadiga. Elementos como estes tornam uma viagem sinónimo de adversidade para o organismo. Os riscos associados a viagens internacionais dependem de inúmeros fatores, como as características do viajante (idade, sexo e estado de saúde) e da viagem (destino, objetivo e duração da estadia). O que fazer? A resposta pode estar em objetos tão simples como uma pinça, mas também em medicamentos básicos.

Foi precisamente esse kit que organizámos com a ajuda de Cristina Azevedo, farmacêutica. Veja os principais fármacos de venda livre que podem ser úteis em situações SOS e que integram a bula do viajante:

- Antissético tópico

No caso de feridas menos superficiais, lavar não chega. Há que desinfectar, recorrendo por exemplo a soluções de iodopovidona dérmica. Podem ser utilizadas em crianças (com cuidado se a área de desinfeção for extensa). Estão, contudo, contraindicadas em caso de gravidez e aleitamento.

- Gotas oftálmicas emolientes

Indicadas para vermelhidão e irritação ocular provocadas por poeiras, para lavar e hidratar. «Os produtos à base de água de hamamélis são uma alternativa ao soro fisiológico», diz Cristina Azevedo, farmacêutica. Pode aplicar uma a duas gotas, no máximo, três vezes por dia. Para casos específicos, como a insuficiência lacrimal, use a solução recomendada pelo seu oftalmologista e siga as suas indicações.

- Descongestionante nasal

Pode ser soro fisiológico, para crianças, ou água do mar isotónica, para crianças e adultos. Se estas não resolverem a situação, existem vasoconstritores, em gotas ou nebulizadores. Para a farmacêutica, a oximetazolina é a substância ativa de ação mais prolongada. «Há também soluções de fenilefrina, com efeito imediato e passageiro, mas têm mais contraindicações e efeitos secundários, sendo desaconselhadas», sublinha.

Os efeitos secundários dos descongestionantes incluem secura nasal, ardor e, se usados em excesso, aumento da congestão nasal. Estão contraindicados em casos de hipertiroidismo, glaucoma, gravidez e aleitamento.

- Analgésico antipirético e anti-inflamatório

Os analgésicos e antipiréticos aliviam, respetivamente, as dores e a febre. Ambos os efeitos estão presentes no paracetamol e no ácido acetilsalicílico. Contudo, como esclarece Cristina Azevedo, «o paracetamol está contraindicado a pessoas com insuficiência renal, indivíduos com problemas hepáticos e em casos de dependência do álcool. Já o ácido acetilsalicílico tem outras contraindicações, nomeadamente en situações de asma, úlcera péptica e doença alérgica e em crianças com menos de 12 anos, pelo risco de síndrome de Reye, uma encefalopatia que pode provocar a morte».

Se a febre for o único sintoma aconselha-se a toma do analgésico e antipirético. Em caso de dor muscular se, quatro horas depois, a dor não ceder, alterne com um anti-inflamatório. O ibuprofeno, o naproxeno e o diclofenac são os únicos anti-inflamatórios não sujeitos a receita médica. Destinam-se a dores ligeiras a moderadas com inflamação e estão contraindicados em caso de gravidez, aleitamento, doença inflamatória renal e úlcera péptica. Caso os sintomas se mantenham ou agravem, procure um médico.

Veja na página seguinte: Outros medicamentos que deve levar em viagem

- Antifúngico

«É usado para prevenir e tratar micoses, infeções provocadas por fungos (manchas ou pequenas borbulhas), normalmente relacionados com água ou humidade. É o caso do pé de atleta, associado às piscinas e a má secagem dos pés», diz Cristina Azevedo. Se tem tendência para este problema, precaveja-se com um creme ou um pó antifúngico, e vá aplicando para prevenir a reinfecção. O tratamento de uma infecção dura, no mínimo, uma semana, se a viagem for curta poderá iniciá-lo no regresso.

- Anti-histamínico tópico

Trata zonas afetadas por picadas de insetos. A menos que a área seja muito extensa, opte por um gel ou emulsão. Proteja as áreas afectadas da exposição solar e não aplique em feridas. Os efeitos secundários incluem ardor e risco de hipersensibilidade. Está contraindicado na gravidez e aleitamento. Se os sintomas persistirem, consulte um médico.

- Repelente de insetos

Há várias soluções para afastar mosquitos e outros insetos. As mais comuns são os sticks e sprays, aplicados nas áreas expostas do corpo. O tempo de proteção é variável. «Normalmente são três horas, mas depende da concentração do repelente. Quanto maior for, mais dura a proteção, mas maior é também o risco de irritação cutânea», diz.

- Sais de hidratação oral

«Estão indicados para evitar a desidratação provocada por diarreias agudas e vómitos, mas também podem ser usados em desidratação solar. O formato mais comum são carteiras de pó solúvel em água», refere Cristina Azevedo. Caso não tenha confiança na qualidade da água, ferva-a, mas espere que arrefeça antes de fazer a mistura ou os sais perderão as propriedades. Em caso de vómito, para garantir que não há rejeição, espere entre 30 minutos e uma hora para tomar a solução.

- Antidiarreico

Só deve ser usado caso a dieta e os sais de hidratação não resultem. «A diarreia é uma reação do organismo para expulsar um microrganismo invasor. O risco associado ao uso de antidiarreicos é o parasita ficar retido no organismo», diz Cristina Azevedo. Só está indicado se houver mais do que três dejeções em 24 horas.
Caso as fezes tenham sangue e a diarreia seja acompanhada de febre deve consultar um médico. A toma não deve exceder os dois a três dias, caso contrário pode gerar obstipação. Está contraindicado a pessoas com doença inflamatória intestinal.

- Antiácido

Neutraliza o excesso de acidez produzido pelo estômago. Para a farmacêutica, «os mais eficazes têm carbonato de cálcio, mas também podem ser à base de hidróxido de magnésio ou de alumínio». Destinam-se a tratamento imediato, pelo que deverá consultar um médico se sofrer sistematicamente de excesso de acidez gástrica. Em relação a eventuais efeitos adversos, «o carbonato de cálcio pode causar obstipação, enquanto o hidróxido de magnésio pode provocar diarreia. O hidróxido de alumínio, embora menos eficaz, tem menos efeitos secundários», acrescenta a especialista.

Veja na página seguinte: O fármaco que reduz o enjoo em viagem

- Antiemético

«Reduz o enjoo provocado pelo movimento através de um efeito sedativo», afirma Cristina Azevedo, segundo a qual a «única substância não sujeita a receita médica é o dimenidrinato, em comprimido ou supositório». Além de sonolência, pode causar secura de boca. Está contraindicado em caso de gravidez, glaucoma e hipertrofia da próstata.

- Antiespasmódico

Previne ou combate a contracção do estômago, intestino ou bexiga. Segundo a farmacêutica, «é indicado para aliviar o desconforto e dor abdominal causados por espasmos e cólicas devido a alterações gastrointestinais». Por exemplo, impede o estômago de se contrair para expulsar os alimentos ou medicamentos. Se verificar que os sintomas se mantêm ou agravam, procure um médico.

O princípio ativo mais comum é a butilescopolamina. Pode causar secura de boca, tonturas e taquicardia. Está, contudo, contraindicado em caso de gravidez, amamentação, glaucoma e hipertrofia da próstata.

- Laxante

«Considera-se que uma pessoa que tem prisão de ventre quando tem menos de duas dejeções por semana. Neste caso, é indicada a toma de um laxante», diz Cristina Azevedo. Existem soluções em drageias, comprimido e clistéres entre outras. Contudo, frisa: «deve tomar apenas o estritamente necessário até a situação se normalizar».

- Ansiolítico

A toma de psicofármacos deve ser sempre feita sob supervisão médica, mas se andar de avião lhe provoca ansiedade saiba que existe um «produto não sujeito a receita médica à base de extractos de plantas (valeriana) indicado para ansiedade e insónia de curta duração causada por exemplo pelo jet lag», diz Cristina Azevedo. Embora seja uma substância «bem tolerada», pode causar problemas gastrointestinais e sensação de ressaca matinal, como dores de cabeça

Texto: Rita Miguel com Cristina Azevedo (farmacêutica)