“O Sindicato dos Médicos da Zona Sul denuncia a grave gestão de recursos humanos conduzida, desde 2020, pelo Conselho de Administração e pela direção clínica do Hospital Garcia de Orta, em Almada, e que tem levado à suspensão de vários serviços de Urgência, colocando em causa a saúde dos utentes de Almada e do Seixal”, refere o sindicato em comunicado.
O sindicato, que se solidariza com os médicos denunciando “falta de condições de trabalho, de grave penosidade e do aumento do risco de erro médico”, apela ao Ministério da Saúde que decida pela demissão imediata do Conselho de Administração e direção clínica, considerando que “têm sido incapazes de prever e resolver a difícil situação, assim como outras – como é o caso das consequências do ataque informático de abril”.
No comunicado, o sindicato adianta que o diretor clínico, na ausência de ação do presidente do Conselho de Administração, assumiu um confronto global com todos os médicos do Hospital Garcia de Orta (HGO), não tendo sido capaz de elaborar um plano de contingência que fosse amplamente discutido e que pudesse ajudar na resolução dos problemas do hospital, devido à falta de médicos de várias especialidades.
Neste momento, adianta a estrutura sindical, o Serviço de Urgência Geral tem mais de 80 utentes internados na Unidade de Internamento Médico-Cirúrgico (UIMC) – mais do triplo da capacidade – e 30 utentes internados na Área Dedicada para Doentes Respiratórios (ADR).
Por outro lado, salienta o sindicato, as escalas de urgência nas várias especialidades não são cumpridas e os serviços de obstetrícia e ortopedia, muitas vezes, não têm médicos.
“O HGO é um hospital com urgência polivalente na saúde materno-infantil, em neurociências, na cirurgia/ortopedia e na medicina interna, com Via Verde do AVC e cardiologia de intervenção. Esta é uma situação dramática num dos principais hospitais da região”, sustenta.
A situação, segundo o Sindicato dos Médicos da Zona Sul, é de tal modo grave que os doentes do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) são enviados, a partir das 18:00 horas, para os hospitais centrais de Lisboa, com risco de atraso significativo dos cuidados de saúde necessários.
O sindicato acrescenta que a situação uniu todos os médicos que fazem serviço de Urgência na área da medicina interna num abaixo-assinado, tendo recebido 66 assinaturas, onde é exigida uma resolução imediata destes constrangimentos.
Na quarta-feira, o Sindicato Independente dos Médicos divulgou uma missiva assinada por chefes de equipa, especialistas e internos do serviço de urgência do hospital - a denunciar as condições do serviço na resposta à população, na qual referem que, face à degradação da situação "e o risco de erro médico aumentado", os clínicos têm apresentado minutas de escusa de responsabilidade.
Os médicos referiram que “a situação que se vive no Serviço de Urgência nos últimos dias está a ultrapassar os limites do imaginável e a esgotar os profissionais de saúde a todos os níveis” e que não têm obtido qualquer resposta dos superiores, com os quais, afirmam, têm comunicado via ‘email’ nos dias em que estão de urgência através de descrições curtas e objetivas da situação e de escusas de responsabilidade.
“A nossa capacidade para tolerar esta situação termina agora. Não queremos compactuar com esta situação e, como tal, transferimos desde já a responsabilidade para o conselho de administração”, frisaram os médicos.
Questionada pela Lusa, a administração referiu que se encontra em permanente diálogo com as Direções dos Serviços de Urgência e de Medicina Interna e com a Equipa de Gestão de Camas e assegurou que “estão a ser encetadas todas as diligências para reforçar as equipas médicas e de enfermagem, não havendo restrições à contratação”.
A escassez de especialistas nas áreas de Ginecologia e Obstetrícia e de Ortotraumatologia levou ao encerramento do atendimento urgente destas especialistas durante o dia de quarta-feira e, no caso de Ginecologia e Obstetrícia, até às 08:30 de hoje.
Neste momento, ambos estão a funcionar.
O HGO serve atualmente uma população estimada em cerca de 350 mil habitantes de Almada e Seixal, concelhos do distrito de Setúbal.
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