“A Saúde dos Portugueses. Perspetiva 2015” traça o perfil da saúde dos cidadãos residentes no território nacional entre 2004 e 2014 e será hoje apresentada em Lisboa, na presença do ministro da Saúde.

O documento contém uma ressalva: “Descreve a saúde das portuguesas e portugueses independentemente da influência conjuntural da crise social e económica que se agravou no contexto do Programa de Ajustamento que terminou em 2014, pelo que as questões associadas direta ou indiretamente ao sistema de saúde, incluindo recursos humanos e orçamentais, não serão alvo de análise”.

Contudo, os autores – especialistas dos vários organismos do Ministério da Saúde – admitem “a possibilidade dos efeitos de crises económicas e sociais prolongadas terem reflexos em indicadores apenas a médio e longo prazo”.

“Admite-se, igualmente, que a resiliência dos cidadãos, das famílias e das comunidades contribua para explicar os sucessivos ganhos em saúde”, lê-se no documento.

Tendência positiva dos indicadores

Em relação à década em análise, o relatório conclui: “mantém-se, genericamente, a tendência positiva dos principais indicadores de saúde em todas as fases da vida”.

“É notório o peso relativo que as doenças crónicas não transmissíveis passaram a representar. O grande desafio é saber, em termos prospetivos, qual o futuro a médio e longo prazo para a evolução das doenças oncológicas, das doenças cérebro e cardiovasculares e da diabetes. Impõem-se medidas que visem desacelerar as curvas epidémicas crescentes e, em alguns casos, descontroladas”, indica o relatório.

Os autores sublinham “a evolução positiva na generalidade dos indicadores de saúde, aliás, demonstrada pelas tendências progressivas de cada vez maior esperança de viver à nascença, aos 45, aos 65 e aos 75 anos, acompanhadas por um aumento do número de anos de vida saudável”.

“Na verdade, em 10 anos, a esperança de vida ao nascer registou um acréscimo de dois anos, tendo diminuído a diferença entre os sexos feminino e masculino”.

No mesmo sentido, prossegue o documento, “há uma clara melhoria no que se refere à evitabilidade da morte antes dos 70 anos de idade, com consequente redução dos anos de vida potencialmente perdidos”.

“No que se refere aos fatores de risco que mais contribuem para o total de anos de vida saudável perdidos pela população portuguesa, são relevantes os hábitos alimentares inadequados (19%), a hipertensão arterial (17%), o índice de massa corporal elevado (13%) e o tabagismo (11%)”.

Este documento recorda dados de 2013, segundo os quais mais de 70% das mortes, em Portugal, são devidas a doenças do aparelho circulatório (30%), tumores malignos (24%), doenças do aparelho respiratório (12%), doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (5%).

Nesse ano, mais de 70% das mortes ocorridas em idades inferiores a 70 anos em Portugal foram devidas a tumores malignos (41%), doenças do aparelho circulatório (16%), causas externas de lesão e envenenamento (9%) e doenças do aparelho digestivo (6%).

“Apesar da acentuada queda da respetiva taxa de mortalidade, as doenças cerebrovasculares ainda constituem a causa específica mais destacada nestas idades, tendo provocado 160 óbitos por 100 mil habitantes. Seguem-se as doenças isquémicas cardíacas, também com evolução positiva, baixando para 115 por 100 mil habitantes no quinquénio mais recente”.

“O tumor maligno da laringe e traqueia e brônquios e pulmão ocupa a terceira posição, tendo aumentado ligeiramente (de 111 para 114 por 100 mil habitantes). A taxa de mortalidade por diabetes é também relevante neste grupo etário (80 por 100 mil habitantes)”.

Sobre as coberturas vacinais, o relatório indica que estas “continuam com níveis elevados e adequados para conferirem imunidade de grupo. Realça-se a consolidação da eliminação de doenças como sarampo, rubéola, poliomielite aguda e difteria, assim como ganhos nas múltiplas dimensões relacionadas com a saúde da mãe e da criança”.