A diabetes precisa de uma visão holística e integrada que vai muito além dos cuidados médicos e onde as povoações têm um papel determinante. Quando falo em povoações (aldeias, vilas, cidades) falo especificamente na gestão autárquica e como esta facilita ou dificulta a vida das pessoas com diabetes.

No próximo dia 26 de setembro serão realizadas as eleições Autárquicas e, portanto, estamos numa fase interessante do debate político onde as diversas listas concorrentes promovem os seus programas eleitorais. Nesta campanha eleitoral era interessante, e fundamental, que os candidatos discutissem as propostas na área da saúde. Por exemplo, como vão criar condições para a prática segura da atividade física, como vão fazer uso das competências autárquicas para facilitar o acesso aos cuidados de saúde, como se vão articular com as associações de doentes e potenciar as sinergias com estas estruturas ou como vão implementar um sistema de mobilidade dos cidadãos mais saudável. Este debate é relevante, mas mais relevante é a implementação das propostas feitas nesta fase.

As Câmaras Municipais e as Juntas de Freguesia podem fazer a diferença na vida das pessoas, são estruturas de governo local que devem estar próximas das pessoas e que devem contribuir para o seu bem-estar físico, mental e cultural. Para tal, é necessário que haja um trabalho colaborativo com todos, com vista à implementação de medidas que promovam o envelhecimento saudável, que integrem a saúde em todas as políticas e que sejam motores para populações mais saudáveis.

Mais concretamente em relação à diabetes, aqui vista como um exemplo de boas práticas para qualquer outra doença crónica, as autarquias têm um papel determinante a diversos níveis.

A promoção de estilos de vida saudáveis deve ser uma preocupação constante. Por exemplo, através da oferta de alimentação saudável nas cantinas escolares e nas máquinas de venda automática. Pela implementação de programas de mobilidade amigas do ambiente e da prática da atividade física, privilegiando deslocações a pé, de bicicleta ou em transportes coletivos. Não basta fazer quilómetros de ecopistas e ciclovias, só para efeitos eleitoralistas ou de uma qualquer estatística, é preciso que esta vias sejam pensadas de forma estratégica, que sejam seguras e que tenham manutenção periódica adequada.

A Organização Mundial da Saúde promove uma rede de cidades saudáveis, a WHO European Healthy Cities Network. De acordo com esta organização, cidades saudáveis são lugares que têm como centralidade as pessoas e o planeta. Aqui, a sociedade local é envolvida encorajando a sua participação ativa na busca de paz e prosperidade. As cidades saudáveis lideram pelo exemplo e pela implementação de medidas que combatam as desigualdades e promovam a boa governança e a liderança para a saúde e o bem-estar. Mais informações em:

www.euro.who.int/en/health-topics/environment-and-health/urban-health/who-european-healthy-cities-network

Desta rede, que em 2018 celebrou 30 anos na Europa, fazem parte as cidades portuguesas de Braga, Matosinhos, Seixal e Viana do Castelo.

Outra iniciativa que promove a mudança em direção ao bem-estar comum é a Cities Changing Diabetes (www.citieschangingdiabetes.com) que inclui a “The Urban Diabetes Declaration”, assinada pelo Município de Lisboa. Esta Declaração tem como base os seguintes princípios, que as cidades signatárias se comprometem a executar: 1) investimento na promoção da saúde e do bem-estar; 2) ter em consideração os determinantes sociais e culturais e lutar pela igualdade em saúde; 3) integrar a saúde em todas as políticas; 4) envolver a comunidade para garantir a sustentabilidade das medidas implementadas; 5) criar soluções em parceria com os diversos sectores da sociedade.

A gestão autárquica das povoações deve desenvolver e implementar medidas que visem prevenir e ajudar a controlar a diabetes e a obesidade. Esta gestão é uma peça central e fundamental para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com diabetes e para a melhoria dos indicadores de saúde das populações.