25 de junho de 2013 - 17h05
Paul Greengard, Prémio Nobel da Medicina em 2000 pelo trabalho em neurociências, defendeu hoje que Portugal devia concentrar os seus esforços de investigação científica na saúde em duas áreas, como o sistena nervoso e o cardiovascular.
O cientista, professor na Rockfeller University, nos EUA, que já teve alguns investigadores portugueses a trabalhar com ele, estuda a causa das perturbações neurológicas e a relação dos problemas com a comunicação entre células, nomeadamente na doença de Parkinson, na esquizofrenia ou na depressão.
Paul Greengard participa na conferência "A Nobel Day", uma iniciativa da agência de comunicação Cunha Vaz e Associados que reúne em Lisboa três cientistas que receberam prémios Nobel da Medicina, em diferentes anos.
A este especialista juntam-se Richard Roberts, Prémio Novel 1993, com um trabalho em biologia molecular, e Oliver Smithies, Prémio Nobel 2007, devido à sua investigação na ciência vascular. John Gurdon, Prémio Novel 2012, marcou presença através de um depoimento gravado em vídeo.
O evento científico, apoiado pela investigadora Renata Gomes, junta investigadores da área da saúde para analisar a atual situação e trocar experiências sobre financiamento da ciência e o futuro da investigação científica.
Durante a manhã foram abordadas as dificuldades de financiamento em quase todo o mundo, como EUA ou Europa, mas não na Índia ou China, e questões relacionadas com a ética, a utilização da biotecnologia ou da informática.
Falando aos jornalistas à margem da conferência, Paul Greengard transmitiu a opinião de que "os países pequenos não devem fazer investigação em 10 áreas diferentes, uma ideia que não tem a concordância de todos".
"Podem analisar quais as razões que causam mais morte e doença e focar-se, por exemplo, nos problemas neuropsiquiátricos e cardiovasculares, que são muito comuns", apontou o cientista, acrescentando que o sistema nervoso, cérebro, e o sistema cardiovascular, o coração, reúnem "grandes preocupações".
"Com recursos escassos não devemos tentar fazer trabalhos em muitas áreas e ter vários institutos que não conseguem suficiente massa crítica para atingir os objetivos", salientou.
Também Paul Riley, cientista da Universidade de Oxford, no Reino Unido, especialista em regeneração cardiovascular, ou como algumas células podem restaurar um coração com problemas, nomeadamente células embrionárias, disse que a ideia de concentrar recursos num instituto chave é muito importante.
Paul Greengard aconselha os cientistas a procurarem os líderes políticos inteligentes e "levá-los a jantar fora e explicarem-lhes o que é necessário fazer para a segurança de um país, para o crescimento económico e cuidados médicos" pois economia, saúde ou defesa dependem da investigação científica.
"Se Portugal não tiver uma comunidade científica forte será difícil fazer-se ouvir", realçou.
Para Paul Greengard, em crise "é tempo para investir na economia, gastar dinheiro para estimular a economia, e a ciência é uma boa forma de incentivar a economia".
Lusa