A proibição das visitas a lares foi uma das primeiras medidas a serem anunciadas pelo Governo no início de março, reconhecendo os idosos como grupo de risco particularmente vulnerável à doença. A primeira morte em Portugal por covid-19 foi de um homem de 80 anos.

O peso do isolamento e da ausência de contacto físico com a família, assim como um aliviar generalizado das restrições em vigor no país, levou a uma revisão das medidas, e as visitas aos lares, ainda que de forma condicionada e com um conjunto de regras apertadas, voltaram a ser permitidas em maio. Já os centros de dia, encerrados desde março à semelhança de outras respostas sociais, só em agosto tiveram autorização, também condicionada, para reabrir.

O isolamento não travou os surtos e em abril, no parlamento, o primeiro-ministro, António Costa, respondia às críticas sobre a gestão da situação nos lares com números que apontavam que o total de infetados correspondia apenas a 1% dos residentes e pedia uma maior atenção aos profissionais dos lares como prioridade.

O Governo lançou um programa de testes em massa aos profissionais dos lares de idosos de todo o país, tendo designado cinco dos seus secretários de Estado para acompanhar o processo, um por cada região do território continental. Testes e equipamentos de proteção individual eram os pedidos mais reiterados pelas organizações do setor social como as misericórdias e as IPSS, que, financiadas pelo Estado, asseguram uma parte significativa da rede de lares em Portugal.

Com surtos de maior e menor gravidade a alimentarem noticiários, um caso em particular, o do lar de Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 pessoas, transformou-se em questão política e abanou o Governo, com pedidos de demissão da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.

As conclusões de uma auditoria da Ordem dos Médicos ao funcionamento da instituição revelaram falhas e falta de cuidados assistenciais, desencadeando reações políticas e um inquérito aberto pelo Ministério Público. Ainda hoje não é conhecido o relatório da Segurança Social que, segundo o Governo, apresenta conclusões “contraditórias” com as da auditoria da Ordem dos Médicos.

A polémica arrefeceu, os surtos em lares não. Em outubro passaram a estar disponíveis 18 brigadas de intervenção rápida para lares de idosos, uma por distrito e sob a gestão da Cruz Vermelha Portuguesa, compostas por 339 profissionais, maioritariamente auxiliares, mas também profissionais de saúde, com o objetivo de travar rapidamente os surtos. Iniciou-se também uma nova fase de testagem em massa aos profissionais dos lares.

Um mês antes, a ministra da Saúde admitia no parlamento que o apoio médico aos lares era um problema e que houve médicos chamados a lares que não responderam, o que determinou a abertura de um inquérito pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde.

Em novembro os dados do Governo indicavam que um terço das mortes por covid-19 em Portugal tinham acontecido em lares de idosos.

Para o período de festividades que se aproxima, a Direção-Geral da Saúde (DGS) pediu cuidado nas visitas aos lares, sugerindo criatividade nos contactos para garantir as condições de segurança, sem recomendar uma suspensão das visitas.

Já em outubro, quando se discutia um eventual alargamento de restrições num cenário, agora confirmado, de agravamento da pandemia, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, defendia que as medidas não podiam ignorar um lado de “humanização”, acrescentando que não são as visitas o principal foco de contágio nos lares, mas sim as entradas e saídas diárias dos profissionais.

O ano de 2021 começa para os lares de idosos com a expectativa do arranque da vacinação contra a covid-19. Profissionais e residentes estão entre os grupos prioritários a serem vacinados no primeiro trimestre do ano, segundo o calendário apresentado.