O ‘hall' de entrada dos serviços de radioterapia e oncologia médica do CHUC estava diferente esta terça-feira de manhã. À volta de uma árvore e servindo-se da luz de uma claraboia, cinco artistas, equipados com cavaletes, batas e pincéis, pintavam em telas imagens inspiradas em versos que transmitissem esperança.

Maria Arminda, de 70 anos, não resistiu a dar uma volta pelos quadros que iam sendo pintados ao longo da manhã. Enquanto se deixava admirar pelas imagens, não pensou "noutras coisas", conta a mulher de Anadia, que acompanhou hoje o marido a um tratamento à próstata.

"Nem sabia qual é que escolhia mas, por mim, levava-os todos para casa. Nem que fossem às costas", sublinha Maria Arminda, dizendo que, com as telas, "a gente até vai mais levezinha daqui".

A iniciativa, intitulada "Pinceladas de Esperança", é organizada pelo Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro (NRC-LPCC) e pretende humanizar os corredores brancos onde doentes oncológicos esperam pelo tratamento, com a ajuda de oito pintores que criaram obras em torno de versos e frases de "esperança" de escritores e poetas como Florbela Espanca, Eugénio de Andrade, Miguel Torga, Vergílio Ferreira ou Fernando Namora.

Ao pintor Victor Costa coube pintar a partir de um excerto do poema "Urgentemente", de Eugénio de Andrade, em que o poeta diz que "é urgente inventar a alegria", "descobrir rosas e rios e manhãs claras".

O poema, salienta Victor Costa, "tem todas as fases deste problema", transpondo para a tela as "manhãs claras" e "o amor", mas também "o silêncio nos ombros" de que Eugénio fala, numa tela em que a luz acaba por dominar e onde uma árvore simboliza "a regeneração, a vida e a superação".

"Todos conhecemos histórias difíceis e de superação. A capacidade do doente acreditar que é capaz é fundamental para combater o cancro", frisa o artista.

Na tela de Álvaro Portugal, as cores quentes dominam um quadro "alegre", que procura "dar um sorriso" aos doentes oncológicos, explanou.

Já Maria Guia Pimpão pintou "uma mulher que se abre para a luz". A professora reformada, que também é pintora, olha para o quadro como uma forma de ajudar os doentes "a esquecer o dia que passam aqui e a pensar num futuro mais luminoso".

O presidente do NRC-LPCC, Carlos de Oliveira, recorda que quando os doentes saem do ‘hall' de entrada e passam para os corredores, "muitos não sabem o que os espera lá dentro. Deparam-se com máquinas complexas ou tratamentos agressivos. Por isso, quando atravessarem o corredor, é importante encontrarem telas que humanizam o espaço".

"Aquela parede é muito branca e muito fria", aponta a diretora do serviço de radioterapia, Margarida Borrego, para o corredor de radioterapia, que sofreu uma remodelação e a introdução de um novo acelerador linear.

Por isso, a responsável desafiou o NRC-LPCC para encontrar algo que desse "um melhor ambiente e mais calor humano e cor" àquele espaço.

Assim que as obras estiverem afixadas, "a imagem que os doentes levam para casa depois do tratamento é aquela imagem bonita", notou.

"Eles têm jeitinho para isso", comentou Maria dos Anjos, de 78 anos, a fazer tratamento em radioterapia, sublinhando que é "importante" iniciativas como esta, porque, para superar, afirma, "é preciso ter esperança de que as coisas vão melhorar".