A Comissão de Ética da Ordem dos Psicólogos Portugueses já tinha emitido em março de 2016 um parecer sobre a alegada "prática da psicologia nos média" a pedido da produtora de Supernanny, a Warner Bros. TV Portugal, informa o jornal Observador.

No documento de cinco páginas, a Ordem dos Psicólogos repudia a "prática da psicologia em programas de divulgação massiva, bem como a conivência do psicólogo na exposição pública das pessoas, nomeadamente pela participação em programas no formato de reality show".

Invocando o código deontológico da profissão e princípios basilares como a "relação de confiança entre o psicólogo e o cliente", a Comissão de Ética manifesta-se contra formatos como o que estreou este domingo na SIC e adverte que: "dada a natureza da intervenção psicológica, a sua aparição no espaço mediático não é adequada".

Hoje, a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) considerou “existir um elevado risco” de o programa da SIC ‘Supernanny’ “violar os direitos das crianças”, nomeadamente o direito à reserva da vida privada.  A SIC começou a emitir no domingo o programa ‘Supernanny’ em que uma psicóloga clinica se desloca a casa de uma família para ajudar os pais a controlar a rebeldia dos filhos.

“Numa primeira análise efetuada ao conteúdo do programa”, a comissão considera existir um “elevado risco” de este “violar os direitos das crianças, designadamente o direito à sua imagem, à reserva da sua vida privada e à sua intimidade”.

Confrontada com a queixa da CNPDPCJ, a psicóloga Teresa Paula Marques diz que a questão da violação da privacidade e dos direitos das crianças que aparecem no formato “é um problema da SIC”, escreve o jornal Observador. Sobre a sua responsabilidade como profissional, a profissional garantiu ainda: “Não estou no programa como psicóloga”.

Num comunicado hoje divulgado, a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens considera ainda que o conteúdo do programa é “manifestamente contrário ao superior interesse da criança, podendo produzir efeitos nefastos na sua personalidade, imediatos e a prazo”.

Caso remetido para a ERC

No âmbito das suas atribuições, e tendo em conta os conteúdos pré-anunciados do programa e queixas remetidas à comissão, a CNPDPCJ manifestou junto da estação de televisão SIC a sua “preocupação face a este tipo de formato e conteúdos solicitando uma intervenção com vista à salvaguarda do superior interesse da criança”. Remeteu igualmente para a Entidade Reguladora da Comunicação Social o pedido de análise do conteúdo do programa.

A CNPDPCJ informa ainda que encaminhou para a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) com competência territorial a situação concreta transmitida no domingo pela SIC para “avaliação e acompanhamento do caso”.

No comunicado, a comissão nacional apela também aos meios de comunicação social que “assumam um papel responsável, protetor e defensor dos direitos da criança”,

Reconhecendo o papel fundamental da comunicação social na “construção de uma opinião pública informada e sensibilizada para a defesa dos direitos da criança”, a comissão nacional apela aos media que “assumam um papel responsável, protetor e defensor dos direitos da criança”.

Quem é Teresa Paula Marques, a psicóloga do "Supernanny"?

Teresa Paula Marques nasceu a 31 de Janeiro de 1966, no Tramagal, uma vila do concelho de Abrantes.

Em 1987 entra na faculdade, onde se licencia em Psicologia Clínica.

Também é Mestre em Psicopatologia e concluiu recentemente o doutoramento em Psicologia da Educação pelas faculdades de Psicologia de Lisboa e de Coimbra.

Depois de terminar o seu curso, trabalhou dois anos num bairro com famílias de etnia cigana, seguindo-se o desafio de trabalhar com pessoas seropositivas e respetivas famílias, às quais dava apoio psicológico e aconselhamento.

Exerce psicologia há 25 anos, tanto na área clínica como na educação, dá aulas e também formação de “Aconselhamento parental” a profissionais.