A doença oncológica é uma das principais causas de morte nos países desenvolvidos, a par de diversas doenças do foro cardiovascular. O seu tratamento mantém-se um dos grandes desafios da medicina moderna.
O cancro colorretal é uma doença altamente prevalente. Em Portugal, este tipo de tumor causa a morte de 11 pessoas por dia. A cada ano, surgem cerca de 7.000 novos casos e morrem mais de 4.000 pessoas apresentando-se, atualmente, como a segunda causa de morte por cancro no nosso país.
Aproximadamente 25% dos novos casos diagnosticados têm doença metastática – situação clínica em que o cancro inicial se disseminou para outros órgão; e cerca de 50% de doentes com cancro colorretal desenvolverão metástases ao longo da evolução da sua doença oncológica.
O desenvolvimento desta doença está associado a um estilo de vida sedentário, à obesidade e a hábitos alimentares pouco saudáveis. Na presença de antecedentes familiares de cancro colorretal, o risco é maior, sobretudo em casos raros relacionados com síndromes familiares hereditários, situação em que um, ou mais genes herdados dos pais, aumentam o risco de desenvolvimento deste cancro ao longo da vida.
Os sintomas e sinais iniciais
As manifestações iniciais podem incluir alterações da função intestinal, tais como períodos de diarreia, ou de obstipação, perda de sangue nas fezes, cansaço, e anemia, ou sintomas agudos, como obstrução do intestino pelo tumor.
Igualmente importante é o facto de a doença poder evoluir de forma assintomática até um estadio avançado. Nesse caso os sintomas podem ser sistémicos, incluindo sintomas consumptivos como falta de apetite, perda de peso, mal-estar generalizado, ou sintomas relacionados com metástases à distância.
Recomenda-se um estilo de vida saudável, sobretudo a prática de atividade física e hábitos alimentares diversificados, pois estes fatores estão associados a um menor risco de vir a desenvolver esta doença.
O rastreio é feito através da pesquisa de sangue oculto nas fezes, ou por exame endoscópico e tem como objectivo diagnosticar e curar lesões do cólon ou recto numa fase subclínica.
O desenvolvimento destes tumores a partir da transformação de pólipos benignos do cólon, ou do recto em cancros malignos encontra-se bem documentado. Este facto, além de estudos populacionais que demonstram o benefício na redução de risco de morte, sublinha a importância da presença de programas de rastreio populacional organizados para cancro colorretal.
Ao longo dos últimos 15 anos tem-se observado uma evolução considerável no tratamento do cancro colorretal, sobretudo nos casos de doença metastática. Alguns fatores podem ser identificados neste contributo: o seguimento dos doentes em grupos multidisciplinares, que incluem médicos especialistas nas diversas áreas de diagnostico, estadiamento, cirurgia, tratamento sistémico e radioterapia, preferencialmente em unidades hospitalares que são centros de referência com experiência no tratamento da mesma; uma maior compreensão da biologia da doença, com o uso de biomarcadores moleculares para uma melhor titulação, escolha e sequenciação das terapêuticas; e uma vigilância pós operatória mais apertada, que pode permitir uma detecção precoce de uma recidiva metastática e uma cirurgia de resseção de metástases, oferecendo uma possibilidade de cura, ou de períodos longos livres de recidiva.
Necessárias mais políticas de prevenção
São necessárias medidas de implementação de programas abrangentes e organizados, que incluíam a população de utentes que cumpram critério de rastreio. Estas medidas terão certamente impacto em termos de sobrevivência dos nossos utentes, e mesmo uma potencial diminuição nos custos futuros, no tratamento de doentes que venham a desenvolver a doença.
É indiscutível a necessidade de investimento nesta área de saúde de prevenção, não só em meios técnicos e humanos, mas em campanhas de educação populacional
Só caminhando nesta direcção poderá existir um impacto futuro importante na diminuição da incidência e mortalidade deste cancro de alta prevalência.
Um artigo do médico Gonçalo Atalaia, especialista em Oncologia.
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