Recentemente, a Ordem dos Médicos (OM) criou um gabinete dedicado à literacia em saúde. Saúda-se a iniciativa por extravasar, no seu âmbito, a tradicional abordagem clínico-curativa da saúde e dignificar a OM enquanto parceiro primordial do sistema de saúde português.
A saúde é socialmente determinada. Estima-se que os estilos de vida correspondam a cerca de metade da mortalidade prematura e evitável. Não obstante, o modelo organizacional prevalente dos sistemas de saúde em todo o Mundo é centrado nos cuidados na doença (“sick care”), em vez dos cuidados na saúde (“health care”).
É certo que o envelhecimento demográfico está associado a uma maior prevalência de doença. Mas convirá, igualmente, não esquecer que os ganhos das intervenções promotoras da saúde em idosos (velhice ativa) são marginais quando comparados com os das fases mais precoces da vida. Enquanto processo conducente a uma velhice saudável, o envelhecimento ativo inicia-se na infância ou, mesmo, na gestação.
A literacia em saúde define-se como a aptidão individual em obter e processar informação válida em saúde e em serviços de saúde. Além das necessárias aptidões básicas, inclui a capacidade de navegar no sistema de serviços de saúde, traduzida na procura apropriada de cuidados.
Não se pretende tornar os cidadãos proficientes em patologia ou terapêutica médicas; antes que adquiram competências na gestão adequada da sua saúde (estilos de vida saudáveis) e de episódios banais de doença.
A estratégia-chave da literacia em saúde corresponde, pois, à comunicação. E, em concreto, à comunicação em saúde pública.
Cabe às organizações da Saúde disponibilizar informação cientificamente válida e ajustada aos diversos públicos-alvo, tendo em vista uma decisão individual em saúde esclarecida. É esse o desiderato da literacia em saúde, em consistência com o primado ético da autonomia.
Decisões informadas em saúde concorrem para populações mais saudáveis. Falamos, então, em promoção da saúde.
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