Que terapias são estas?

As terapias desenvolvidas pelas empresas Regeneron e Eli Lilly utilizam "anticorpos monoclonais", um tipo relativamente novo de medicamento, mais conhecido para tratar certos tipos de cancro e doenças autoimunes.

O sistema imunológico dos humanos produz anticorpos, que são moléculas que combatem infeções, e as vacinas ensinam o corpo a estar preparado para produzir os anticorpos adequados contra agentes patógenicos específicos.

Para combater uma doença também se pode dar a um paciente os anticorpos de alguém já recuperado. Chama-se "plasma convalescente", mas é difícil obter plasma numa escala grande o suficiente para um uso estendido.

Regeneron e Lilly desenvolveram "coquetéis" de anticorpos. No caso da Regeneron, um foi obtido de uma pessoa e o outro de um rato com um sistema imunológico similar ao humano modificado geneticamente.

Todos funcionam ligando-se e distorcendo uma estrutura da superfície do vírus Sars-Cov-2, denominada "proteína do espinho", que este agente infeccioso usa para invadir as células humanas.

As células imunológicas do hospedeiro que produzem os anticorpos podem ser cultivadas em laboratório para produzi-los em massa.

Os anticorpos não podem ser ingeridos em comprimido. Devem ser administrados por transfusão gota-a-gota. Teoricamente, também poderiam ser usados como uma forma de imunização, mas diferentemente das vacinas, a sua proteção seria muito transitória.

São seguras e eficazes?

Regeneron e Lilly publicaram alguns dados iniciais, baseados em testes clínicos com algumas poucas centenas de pacientes não hospitalizados, e as duas afirmam que os seus tratamentos reduziram a carga viral da covid-19 e o tempo de recuperação.

A Lilly mostrou que a taxa de internação e visitas de emergência relacionadas com a covid-19 foi de 0,9% para pacientes tratados com a sua terapia, face a 5,8% com placebo.

No entanto, este resultado foi para o tratamento de "combinação" de dois anticorpos da Lilly, enquanto até agora a empresa só tinha solicitado a aprovação de emergência para uma "monoterapia" de um anticorpo.

As duas farmacêuticas informaram que os seus testes clínicos não geraram nenhum problema de segurança até agora.

Diagnosticado com a covid-19 na semana passada, Trump disse ser um grande admirador do tratamento da Regeneron. "Realmente, funcionou muito bem, quero conseguir para todos o que me deram", disse num vídeo publicado na noite de quarta-feira.

Foi usado tecido fetal no tratamento da Regeneron?

Embora não tenham sido usados tecidos fetais para criar anticorpos, as células derivadas de um rim embrionário humano da década de 1970 foram utilizadas para produzir "pseudopartículas" de vírus com a proteína de espinho do Sars-CoV-2, a fim de testar o tratamento.

No ano passado, o governo Trump encerrou o financiamento federal para a maioria das novas pesquisas científicas com tecido fetal de abortos eletivos.

Uma porta-voz da Regeneron disse à AFP que os documentos originais sobre as células não mencionavam como foram obtidas.

Pode-se confiar na FDA?

Os comentários do presidente, baseados mais na sua experiência pessoal do que em dados, poderiam gerar temores sobre a integridade do processo regulatório.

Em teoria, a FDA opera de forma independente da Casa Branca, mas a sua decisão de emitir uma aprovação de uso de emergência (EUA, na sigla em inglês), em março, para o medicamento antimalária hidroxicloroquina, promovido por Trump, gerou sérias preocupações.

Não houve nenhum teste clínico a favor do uso da hidroxicloroquina para tratar a covid-19.

Para a aprovação do uso emergencial do antiviral remdesivir, o padrão de evidência foi muito maior: o teste em fase avançada envolveu mais de 1.000 pacientes.

No caso do esteroide dexametasona, foram estudados mais de 6.000 pacientes num ensaio britânico, que mostrou que reduzir as taxas de mortalidade em pacientes hospitalizados com covid-19, o que levou as autoridades americanas a recomendá-lo.