Muitos dos utentes chegaram antes da hora marcada da consulta com a esperança de serem atendidos pelo médico. Maria dos Anjos, na casa dos 60 anos, sabia da greve, mas arriscou ir ao Hospital de São José porque recebeu uma mensagem na segunda-feira a confirmar a consulta.

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“Cheguei aqui muito cedo, mas já sei que vou ter consulta, tive sorte”, disse Maria dos Anjos, enquanto aguardava na sala de espera, onde os utentes iam sendo chamados para as várias consultas de especialidade e outros eram informados que o médico não tinha comparecido.

Alguns queixavam-se de terem vindo de longe para ter uma consulta que aguardavam há meses, enquanto outros manifestaram solidariedade com a luta dos médicos.

No Centro de Saúde de Sete Rios, um panfleto fixado na porta anunciava a greve de três dias dos médicos. Houve utentes que não tiveram consulta como um casal de idosos que ia conhecer a nova médica de família.

"Era a primeira vez que íamos ter consulta com esta médica", disse António Marques, contando que esperava há mais de um mês pela consulta.

Disse saber da greve dos médicos, mas decidiu ir. "Também moro perto, volto noutro dia", disse resignado, comentando que está solidário com os médicos: "Prometem tudo e depois não dão nada, é sempre igual. Nunca mais voto".

Ao contrário deste casal, Luísa Santos foi atendida à hora marcada pela sua médica de família. "Sabia que havia greve, mas vim na mesma e tive consulta", contou à Lusa.

Sobre os motivos da greve, disse que se os médicos "reclamam as horas que não são pagas, fazem muito bem, porque o trabalho tem que ser pago".

"Quanto ao resto não sei", rematou Luísa Santos.

A greve dos médicos regista hoje uma adesão que ronda os 90% nos blocos operatórios, a nível nacional, atingindo os 100% em alguns locais, de acordo com os dados divulgados pelos sindicatos ao início da tarde.

Em declarações aos jornalistas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, os dirigentes do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) frisaram que, durante os três dias de greve, hoje iniciada, centenas de médicos asseguram serviços mínimos como se um fim de semana se tratasse.

Nas consultas externas hospitalares, a adesão é de 75%, de acordo com as mesmas fontes, e, nos cuidados primários de saúde (centros de saúde), é de 85 por cento.

Os médicos iniciaram hoje às 00:00 três dias de greve nacional, uma paralisação que os sindicatos consideram ser pela “defesa do Serviço Nacional de Saúde”.

A reivindicação essencial para esta greve de três dias é “a defesa do SNS” e o respeito pela dignidade da profissão médica, segundo os dois sindicatos que convocaram a paralisação – o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Em termos concretos, os sindicatos querem uma redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas anuais, uma diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho em urgência e uma diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família até 1.500 utentes, quando atualmente são de cerca de 1.900 doentes.

Entre os motivos da greve estão ainda a revisão das carreiras médicas e respetivas grelhas salariais, o descongelamento da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma.

Para hoje à tarde, a FNAM agendou ainda uma concentração em frente do Ministério da Saúde, em Lisboa.

A paralisação nacional de três dias, que termina às 24:00 de quinta-feira, deve afetar sobretudo consultas e cirurgias programadas, estando contudo garantidos serviços mínimos, como as urgências, tratamentos de quimioterapia, radioterapia, transplante, diálise, imuno-hemoterapia, cuidados paliativos em internamento.