“O que estamos a verificar é um aumento do número de casos […]. Estes números estão a aumentar em muitos países, têm vindo a aumentar em diferentes períodos de tempo, mas definitivamente [mais] nas últimas semanas”, contextualiza em entrevista o chefe-adjunto do programa de doenças do ECDC, Piotr Kramarz.
De acordo com o cientista, não se pode, porém, afirmar que esta é já a segunda vaga do novo coronavírus na Europa: “Alguns países, provavelmente, ainda nem saíram da primeira vaga, enquanto outros tiveram uma redução do número de casos e, agora, estão a assistir a um aumento”.
“Não é uma clara segunda vaga, mas o que vemos é que há o ressurgimento das infeções”, acrescenta Piotr Kramarz, aludindo às subidas acentuadas, nas últimas semanas, no número de casos diários em países como Itália, Espanha, França e Alemanha, que foram aliás os mais afetados desde o início da pandemia na Europa.
Como o novo coronavírus é ainda desconhecido dos especialistas, o responsável do ECDC arrisca até a dizer que com “a COVID-19 a situação é um pouco mais complicada”, sendo difícil distinguir as diferentes fases do surto.
“Esta nomenclatura, de segunda vaga, vem da epidemia da Influenza [infeção respiratória viral que originou epidemias sazonais como a Gripe A]. O que normalmente acontece é que existe uma primeira vaga, depois um período de baixa propagação e depois uma segunda vaga ou até uma terceira”, mas isso não acontecerá necessariamente assim desta vez, explica.
Piotr Kramarz ressalva, ainda assim, que o aumento do número de casos pode nem sempre significar o reaparecimento da COVID-19, dado poder estar ligado ao incremento dos testes.
“No início da pandemia, o número de testes era limitado, bem como a capacidade dos países, e por isso só se testavam mais os pacientes mais graves e pacientes que se deslocavam aos hospitais, mas agora muitos países expandiram [o número] de testes e estão a testar pessoas com sintomas leves, ou até mesmo sem sintomas, e estão a detetar casos”, refere o chefe-adjunto dos programas de doenças do ECDC.
“Nalguns países, este [aumento] está relacionado com os testes porque estão a testar cada vez mais pessoas”, reforça Piotr Kramarz.
O responsável aponta que “a abordagem para os testes difere bastante de país para país”, razão pela qual o ECDC está “a preparar diretrizes para uma abordagem comum para os testes, no âmbito das quais é sugerido como os países devem testar a sua população”.
No mais recente relatório de avaliação de risco, lançado por este centro europeu no início de agosto, Portugal constava entre os países da UE que mais testes realizava à população, com uma média de 923,3 testes por 100 mil habitantes, só atrás do Luxemburgo, que introduziu uma estratégia de testes em massa, Dinamarca, Malta, Chipre, Áustria e Irlanda.
Mas o aumento do número de testes não é o único indicador avaliado pelo ECDC, segundo Piotr Kramarz, que assegura existirem “ressurgimentos [na Europa] olhando para outros indicadores”, como os surtos ativos ou a transmissão comunitária.
O especialista exortou, por isso, os países a continuarem a “detetar rapidamente os casos e rastrear os contactos”.
“Nesta fase da pandemia, recomendamos que todos os que têm sintomas compatíveis com a covid-19 seja testado. E se os países conseguirem testar todos estes sintomáticos, podem também pensar em testar assintomáticos, que apesar de não terem sintomas podem ter estado em contacto [com alguém infetado]”, apelou na entrevista à Lusa.
Sediado na Suécia, o ECDC tem como missão ajudar os países europeus a dar resposta a surtos de doenças.
A pandemia de COVID-19 já provocou mais de 832 mil mortos e infetou mais de 24,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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