Uma boa parte dos portugueses acredita que o sistema de saúde tem uma fraca prestação, é complexo e gera desperdício. Esta é uma das principais conclusões do estudo “2011 Survey of Health Care Consumers in Portugal”, desenvolvido pela Deloitte sobre a percepção dos portugueses relativamente aos cuidados de saúde em Portugal.

Os resultados nacionais integraram um estudo global da Deloitte, o “2011 Survey of Health Care Consumers Global Report”, que analisa o sistema de saúde em doze países tais como, Bélgica, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Luxemburgo, México, Suíça, Reino Unido e os Estados Unidos. Este relatório permite não só retirar conclusões ao nível local como ter uma visão comparativa entre as diferentes realidades ao nível mundial, identificando os desafios transversais ao sector.

Margarida Bajanca, partner da Deloitte destaca que “A generalidade dos portugueses inquiridos desconhece o funcionamento do sistema de saúde e avalia mal a sua performance. Numa comparação directa com os restantes países, Portugal tem a quarta pior avaliação, apenas superada pelos resultados do Brasil, México e dos EUA, apesar do  nível de satisfação com a utilização dos cuidados de saúde ser substancialmente superior (cerca de 60 por cento).

A baixa percepção da performance do sistema de saúde denota que a comunicação orientada aos cidadãos e utilizadores do sistema é ainda muito incipiente, na medida em que a avaliação feita baseia-se mais em critérios de conveniência e administrativos do que na qualidade dos actos médicos.”

Mais de 80 por cento dos portugueses dão nota média ou fraca ao sistema de saúde (nota “C”, 49 por cento; nota “D” 23 por cento; e nota “F”, 10 por cento), enquanto 17 por cento dos inquiridos consideraram que o sistema de saúde é muito bom, e apenas 0,7 por cento avaliaram como sendo excelente.

As principais áreas de oportunidade de melhoria apontadas são os tempos de espera (70 por cento), acesso aos cuidados de saúde (39 por cento), maior focalização em cuidados de saúde centrados no doente (37 por cento) e no bem-estar (34 por cento). Os inquiridos manifestaram satisfação relativamente à tecnologia moderna (41 por cento), inovação (40 por cento) e infra-estruturas (30 por cento).

Apesar deste cenário, quatro em cada dez portugueses acreditam ser possível melhorar a qualidade do sistema de saúde em Portugal e, simultaneamente, reduzir os custos e um terço dos portugueses considera que a prestação do sistema de saúde em Portugal é melhor do que há cinco anos.

77 por cento dos inquiridos refere que os custos de saúde limitaram os seus gastos em outros bens essenciais e que a recente recessão económica fê-los reconsiderar quanto dinheiro estariam dispostos a pagar a mais para obter cuidados de saúde.
O acesso e a satisfação com os cuidados de saúde primários é relativamente alta. Muitos consumidores utilizam a farmácia ou o centro de saúde para cuidados não urgentes.

De acordo com o estudo realizado, sete em cada dez portugueses refere ter um médico de cuidados de saúde primários e 61 por cento estão satisfeitos com o serviço prestado. Quase metade (43 por cento) dos inquiridos procuraram cuidados de saúde do seu médico ao longo do último ano por motivo de doença, 65 por cento para consultas de rotina, 46 por cento para efectuar exames de imagiologia e 14 por cento para imunizações contra a gripe.

Os portugueses revelaram uma significativa apetência pela utilização de serviços de urgência. 29 por cento dos inquiridos referiram ter utilizado um serviço de urgência no último ano, valor significativamente superior a todos os países europeus que participaram no estudo. Em situações de necessidade de tratamento para problemas de saúde menores, 49 por cento dos inquiridos utilizariam uma farmácia ou centro de saúde, 53 por cento recorreriam ao serviço de urgência de um hospital, e 29 por cento pagariam do seu bolso para não terem que esperar até uma semana por uma marcação no seu médico de família.

Mais de metade dos portugueses (51 por cento) utilizou os serviços de uma farmácia ou de um centro de saúde nos últimos doze meses para receber cuidados para problemas de saúde não urgentes..

Portugueses querem aceder a registo médico nos smartphones
Mais de 70 por cento dos portugueses estão interessados em aceder ao seu registo médico através de smart phones.
Apesar desta predisposição, o estudo concluiu que a utilização de tecnologias de informação em saúde para auto-monitorização e gestão de cuidados, e o recurso à Internet para obter informação são ainda baixos. Apenas cerca de 32 por cento dos inquiridos procuraram informação na Internet ao longo do último ano sobre opções de tratamento de problemas de saúde.

Alterações de política da saúde para melhorar o acesso aos cuidados de saúde primários, melhorar o serviço e inovação que reduza os custos, são populares entre os Portugueses

Os portugueses querem que o sistema melhore e estão altamente receptivos à inovação no sector da Saúde. De acordo com o estudo, os inquiridos acreditam que muito pode ser feito na melhoria dos sistemas e tecnologia dos cuidados de saúde, na redução dos tempos de espera e no desenvolvimento de uma maior focalização no doente.

82 por cento dos inquiridos são favoráveis à atribuição de um médico de família a todos os portugueses, que possa coordenar os cuidados de saúde e referenciar os doentes para os serviços de especialidade necessários, numa perspectiva de gestão integrada da doença.

O estudo “2011 Survey of Health Care Consumers in Portugal”, desenvolvido pela Deloitte tem base uma amostra de 1.000 adultos, com idades a partir dos 18 anos, inquiridos através de um questionário base em Abril de 2011. Esta amostra é representativa da população do país (cerca de 10 milhões de pessoas) em relação à idade e género. A margem de erro é de + / - 3,0 por cento no nível de confiança 0,95. A pesquisa consistiu de 67 questões, com 29 potenciais perguntas de follow-up. A pesquisa foi realizada em Português.

12 de julho de 2011

Fonte: Lusa