Em comunicado, a UMinho refere que o estudo contou com a parceria das universidades do Porto, de Cambridge e de Huddersfield, as duas últimas do Reino Unido.

"O trabalho mostra pela primeira vez que uma pequena comunidade da África do Sul com rituais e tecnologias complexas migrou há 65 mil anos para a África Oriental, podendo ter influenciado a expansão dos humanos modernos que se deu então dali para o resto do mundo", acrescenta o comunicado.

Diz ainda que as "evidências" foram encontradas no ADN materno de centenas de amostras de indivíduos de África e do Médio Oriente.

O comunicado lembra que há cerca de 70 a 100 mil anos, em plena Idade do Gelo em África, pequenos grupos habitavam refúgios na costa sul do continente.

Já se comportavam como humanos modernos, pois deixaram muitos vestígios alusivos, como o uso de pigmentos (talvez para pintura corporal), desenhos, gravuras, contas de conchas e até pequenas ferramentas em pedra (micrólitos) que teriam sido parte de arcos e flechas.

Estes simbolismos e tecnologias avançadas para a época começaram, entretanto, a aparecer no Este do continente há cerca de 65 mil anos.

Foi exatamente aquando de um raro período climático favorável, que permitiu a humidade suficiente para abrir um "corredor" entre o Sul e o Este africano.

"Parece que algo aconteceu quando os grupos do Sul transmitiram os aspetos da sua sofisticada cultura às comunidades da África Oriental, coincidindo depois na maior diáspora do Homo sapiens, que colonizou em apenas alguns milhares de anos grande parte da Eurásia e até a Austrália, onde estes elementos de modernidade são evidentes", admite Pedro Soares, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da UMinho e um dos autores do estudo.

Sublinha que os povos do Este africano eram "biologicamente pouco diferentes" das populações do Sul, isto é, os seus cérebros eram igualmente avançados e cognitivamente preparados para acolherem novas ideias e desenvolvimentos.

"Mas a forma como isso aconteceu pode não ter sido tão diferente de uma cultura moderna isolada da Idade da Pedra ao encontrar uma civilização ocidental atual", acrescenta.

A equipa da UMinho envolvida no estudo integra ainda Teresa Rito, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, e Daniel Vieira e Eduardo Conde-Sousa, ambos do CBMA.