Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS indicam um sistema de triagem cuja performance é considerada “excelente” na deteção dos casos mais graves entre doentes em idade pediátrica que recorrem às urgências. Os resultados foram publicados na revista científica Journal of Medical Systems.
“Este é o primeiro estudo de validade da Triagem Canadiana Pediátrica (Paediatric Canadian Triage and Acuity Scale - PaedCTAS) realizado em Portugal, o que confere uma base para melhorar a adequação da triagem à população do nosso país e ao Serviço Nacional de Saúde”, afirma João Viana, investigador da FMUP e do CINTESIS.
A equipa da FMUP/CINTESIS examinou retrospetivamente todos os episódios de urgência de crianças entre os 0 e os 17 anos de idade de uma urgência pediátrica de um hospital da zona do Porto, entre 2014 e 2019. Num total de mais de 452 mil episódios de urgência.
Um dos principais objetivos do estudo era aferir a validade do sistema de triagem, isto é, avaliar se o sistema de triagem consegue distinguir entre situações urgentes, em que a intervenção médica num curto espaço de tempo previne uma degradação rápida do estado de saúde da criança, e situações menos urgentes, em que as crianças podem “aguardar em segurança”.
Realizada por enfermeiros especializados, a triagem tem por base a análise do estado geral, da queixa principal e dos sinais vitais da criança e considerando a idade e os fatores de risco associados.
O algoritmo atribui um nível, que irá determinar o tempo de espera para os doentes pediátricos serem vistos por um médico ou reavaliados. O nível 1 corresponde à necessidade de reanimação e é visto imediatamente, o nível 2 pode esperar até 15 minutos, o nível 3 até 30 minutos, o nível 4 até 60 minutos e o nível 5 é considerado não urgente e pode esperar até 120 minutos.
No período estudado, 0,2% dos episódios de urgência foram classificadas como nível 1; 5,7% como nível 2, 39,4% como nível 3, 50,5% como Nível 4 e 4,2% como nível 5. O fluxo de crianças que recorreram à urgência sofreu pouca variação ao longo dos anos do estudo, verificando-se menos casos durante o verão. A maioria das crianças chegou ao hospital pelos próprios meios e regressou a casa após a alta.
“A escala de triagem estudada teve uma performance excelente. Estando entre as melhores na deteção de casos urgentes quando comparada com os mais relevantes indicadores de gravidade reportados por outros estudos. É de realçar também a meticulosa metodologia do estudo, facilitando a comparação em trabalhos futuros”, afirma o investigador da FMUP/CINTESIS.
Segundo o mesmo, “a associação encontrada entre os níveis de triagem e os marcadores de gravidade sugere que a Triagem Canadiana Pediátrica é altamente válida, isto é, tem uma capacidade excelente para distinguir os casos urgentes dos não urgentes”.
Assim, continua, “é urgente usar os dados para avaliar e melhorar. É necessário usar essa informação para melhorar continuamente o sistema de triagem e adequá-lo à nossa população e ao nosso sistema de saúde”. Este trabalho foi o primeiro passo para ter um sistema de triagem guiado pelos dados.
João Viana chama ainda a atenção para a importância da análise de indicadores extraídos para a melhoria da qualidade e eficiência do sistema de saúde.
“Através da análise e interpretação de dados, é possível extrair informações relevantes sobre o desempenho do sistema, identificar tendências e padrões, e utilizar essas informações para orientar decisões estratégicas e ações de melhoria. Tudo para que as nossas crianças e a nossa população em geral tenham melhores cuidados de saúde”, apela João Viana.
A PaedCTAS foi desenvolvida em 2001, tendo sido adotada pela Advanced Paediatric Life Support da American Academy of Paediatrics, pelo American College of Emergency Physicians (ACEP) e pela Canadian Association of Emergency Physicians, entre outras organizações.
Este trabalho contou com a participação de vários investigadores da FMUP/CINTESIS e do Centro Hospitalar Universitário de São João, tendo sido coordenado por Almeida Santos e Alberto Freitas (FMUP).
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