Em 1997, a Organização Mundial de Saúde reconheceu a Obesidade como uma doença crónica. Sete anos mais tarde, em 2004, Portugal seguiu esse passo declarando “A Obesidade como doença crónica” através da Circular Informativa nº. 09/DGCG. Quase 20 anos depois, a prevalência de obesidade a nível global mantém o seu caminho ascendente, sendo considerada a epidemia do século XXI pela OMS.
O excesso de peso (incluindo obesidade) atinge hoje mais de metade da população adulta portuguesa. Também a obesidade infantil atinge proporções elevadas, sendo a prevalência de excesso de peso estimada em 2022 de cerca de 30%. De acordo com as projeções da OMS, Portugal está a seguir uma trajetória de evolução que não permitirá alcançar a meta relativa ao não crescimento do excesso de peso e obesidade até 2025. Prevê-se que a percentagem de adultos com obesidade em Portugal, em 2035, será de cerca de 39%, o que corresponde a um aumento anual de 2,8%. Se estas projeções se confirmarem, além do forte impacto que terá na saúde dos portugueses, será de esperar também um impacto significativo nas despesas públicas da saúde, equivalente a 2,2% do PIB em 2035.
A alimentação é um dos fatores ambientais major associados à obesidade e a mudança dos estilos de vida é a abordagem gold standard para a sua prevenção e tratamento. Assim, é incontornável o papel do Nutricionista como profissional de saúde com um papel central quer na identificação do risco, quer no desenvolvimento de estratégias que promovam hábitos alimentares saudáveis, contribuindo não só para a prevenção, mas também para a redução da prevalência de obesidade. Paralelamente, o Nutricionista é também fundamental no tratamento da obesidade, uma vez que a intervenção para a mudança comportamental nos estilos de vida – incluindo a promoção da alimentação saudável – constitui uma das pedras basilares do tratamento da obesidade, associando-se a outras abordagens terapêuticas como a terapêutica farmacológica e/ou ao tratamento cirúrgico, em estadios mais avançados da doença. Por ser uma doença crónica exige um tratamento contínuo, o que coloca uma enorme pressão aos sistemas de saúde em todo o mundo.
No final de 2023, assistimos com satisfação à publicação de um diploma que determina a implementação de um modelo integrado de cuidados para a prevenção e tratamento da obesidade (Despacho n.º 12634/2023, de 11 de dezembro), resultante da preocupação crescente com os números abrangidos por esta doença. No entanto, e embora tenhamos profissionais de saúde com competências para dar resposta a esta problemática, atualmente a capacidade instalada no SNS é manifestamente insuficiente, e a dificuldade que o SNS tem apresentado para travar a crescente prevalência e gravidade da doença pode ser reflexo disso.
Se olharmos ao número de Nutricionistas presentes no SNS, segundo a Ordem dos Nutricionistas, em novembro de 2022, existiam 151 profissionais nos Cuidados de Saúde Primários e 282 nos Cuidados Hospitalares, ou seja 433 nutricionistas a nível nacional. Claramente, um número escasso e insuficiente que impede o acesso da população ao acompanhamento profissional por Nutricionistas e a cuidados nutricionais promotores da saúde, traduzindo-se num impacto negativo significativo na sua qualidade de vida. A não esquecer outros locais de intervenção, além do SNS, tais como escolas, municípios, IPSS, serviços de alimentação coletiva e restauração, entre tantos outros, em que a escassez de nutricionistas é também conhecida e determinante para a definição de uma estratégia concertada para o controlo desta e de outras doenças crónicas com etiologia alimentar.
Apesar disso, Portugal tem feito um caminho no controlo da obesidade que deve ser reconhecido e valorizado. De realçar que segundo o estudo da World Obesity Federation, Portugal ocupa o 8º lugar, entre 183 países mais preparados para combater a obesidade. Resultado este que se deve às medidas de promoção da saúde que têm sido desenvolvidas e implementadas através do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável.
É por demais evidente que a contratação de Nutricionistas em número suficiente será uma mais-valia significativa na redução, não só dos números diretos da obesidade, mas também indiretamente dos elevados custos associados a esta patologia.
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