A infecção provocada pelo vírus da chikungunya, recente na América Latina, provoca sintomas semelhantes aos do zika e da dengue, como é o caso de febre alta, dores musculares e articulares e manchas no corpo, sendo mais grave em pessoas mais velhas.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alertou recentemente os serviços de saúde do Rio de Janeiro sobre o risco da infecção poder vir a afetar entre 30% e 50% da população da cidade, ou seja, mais de 6 milhões de habitantes. Em 2016, foram registados 14 mil casos no Rio e 10 pessoas morreram devido à doença.
Em entrevista à Agência France-Presse, Rivaldo Venâncio, infectologista e diretor da Fiocruz no Mato Grosso do Sul, afirma que a chikungunya é, sem dúvida, "a maior ameaça neste verão" no Brasil, e alerta que os serviços de saúde do país não estão "capacitados" para enfrentar uma epidemia deste tipo.
Pergunta: Como se chegou a esta estimativa inquietante para o Rio de Janeiro?
Resposta: São projeções baseadas em epidemias de chikungunya que ocorreram noutras regiões do mundo, como a ilha da Reunião, onde cerca de 40% da população foi atendida em 2005 e 2006. Na verdade, o pior cenário estaria em torno dos 300 a 500 mil casos na cidade do Rio, o que é muito see tivermos em conta que se trata de uma doença que muitas vezes exige que o paciente vá quase diariamente a uma unidade de saúde. Entre as doenças transmitidas por mosquitos, a chikungunya passa a ser a maior ameaça deste verão.
P: Porque é que o risco cresceu neste ano?
R: Porque é uma doença que está a começar a descer do nordeste para a região sudeste do Brasil, mais populosa, e a população não têm anticorpos contra este vírus. Ao contrário da dengue, que circula em todos os estados do Brasil há pelo menos trinta anos, a chikungunya só está aqui desde 2014. Por isso a nossa expectativa é que este seja um verão com grande possibilidade de propagação de epidemias de chikungunya em várias localidades brasileiras.
P: Porque razão não se espera que o zika volte em força?
R: O zika teve, num curto espaço de tempo, uma expansão gigantesca e surpreendentemente rápida pelo país. Mas isso significa que uma grande percentagem da população já possui anticorpos contra essa doença, o que não se pode dizer sobre a chikungunya. A quantidade de pessoas vulneráveis é muito maior.
P: Uma eventual epidemia de chikungunya pode ser pior que a do zika?
R: As consequências de ambas as epidemias são extremamente graves, mas as da chinkungunya seriam mais previsíveis, tendo como parâmetro o que tem sido observado em outros países. As consequências reais do zika ainda não são totalmente conhecidas. Temos observado, por exemplo, que algumas crianças que nasceram com um cérebro de tamanho aparentemente normal começaram a desenvolver malformações congénitas quatro, cinco ou seis meses depois do nascimento. Dito isto, mesmo sendo mais conhecidas, as consequências da chikungunya são devastadoras. Nem o sistema público nem o sistema privado de saúde estão capacitados para enfrentar de forma adequada uma epidemia deste tipo.
P: Qual é o maior perigo da chikungunya?
R: A doença tende a ser mais grave quando a pessoa tem outro tipo de doenças como é o caso da diabetes, hipertensão ou artrite. Também pudemos observar aqui que quanto mais grave são os sintomas nos primeiros dias, maior é a possibilidade de que a doença venha a tornar-se crónica e dure quatro, cinco, seis meses, ou um ano. A taxa de doentes crónicos tende a ser maior quanto mais avançada for a idade do paciente.
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