“A abordagem que nós propomos é a de tentarmos rejuvenescer estas células nos doentes idosos, onde o problema da mortalidade da covid-19 é muito maior”, afirmou hoje Pedro Correia de Sá, investigador do ICBAS.

Em declarações à Lusa, o coordenador do projeto explicou que, como em “tempos de pandemia” não há dadores e é “difícil” o transporte de células estaminais, a equipa, composta maioritariamente por estudantes de doutoramento, vai estudar a possibilidade de realizar um “autotransplante”.

“Surgiu a ideia de ver se tínhamos alguma possibilidade de utilizar as células do próprio doente e se tínhamos a possibilidade de as manipular laboratorialmente, criar condições para que elas se diferenciem e reinjetar no indivíduo. No fundo, seria um autotransplante que não colocaria problemas de rejeição”, salientou.

Segundo Paulo Correia de Sá, a equipa de investigadores vai ainda “aproveitar um problema associado às células estaminais como uma vantagem” para a covid-19: o facto destas, quando injetadas perifericamente, ficarem “aprisionadas” no pulmão.

“Ora isto é um problema grave quando queremos fazer autotransplantação destas células para desenvolver outro tipo de tecidos, mas aqui é a parte importante, porque queremos é que estas células fiquem no pulmão”, referiu.

Paulo Correia de Sá salientou que “outra vantagem” associada à utilização das células estaminais, provenientes da medula óssea, é que não têm o ACE, recetor presente na membrana celular e através do qual o SARS-CoV-2 infeta as células humanas.

“Logo, as células que ficam no pulmão são células que dificilmente são infetadas e que ainda por cima, têm grande capacidade de se diferenciarem noutros tecidos”, sublinhou.

Durante os próximos seis meses, os investigadores do projeto, desenvolvido no âmbito da 2.ª edição da linha de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) RESEARCH 4 COVID-19, vão, em laboratório, “juntar” as células estaminais de dadores de medula óssea com células do pulmão que vão ser “infetadas com vírus modificado”.

De acordo com o investigador, apesar do projeto ter surgido no âmbito da covid-19, poderá vir a ter “impacto” noutras doenças como em pneumonias graves.

“É possível que as ideias que venhamos a obter com este projeto também possam ser extrapoladas para outro tipo de doenças. Esta não é uma panaceia para resolver o problema da infeção, mas pode ser uma terapêutica avançada para se fazer em casos especiais que, no fundo, são também os casos mais dramáticos”, afirmou.

Além de estudantes de doutoramento do ICBAS, o projeto conta também com doutorados do instituto da Universidade do Porto e tem como parceiros o Hospital de Santo António e o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.

Com um financiamento de 40 mil euros, este é um dos 55 projetos apoiado pela 2.ª edição da linha RESEARCH 4 COVID-19, que visa responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde e que na sua 1.ª edição apoiou 66 projetos.

Portugal contabiliza pelo menos 1.523 mortos associados à covid-19 em 37.672 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).