O trabalho, publicado no ‘Journal of Maternal-Fetal & Neonatal, revela que das 428 grávidas assintomáticas que deram entrada no Hospital Santa Maria, entre 03 de abril e 31 de maio, e que realizaram o teste à COVID-19, apenas duas deram positivo (0,47%).
Em declarações à agência Lusa, o diretor do Serviço de Obstetrícia do CHULN, que integra o Hospital Santa Maria, Diogo Ayres de Campos, afirmou que os resultados deste trabalho traduzem “um pouco da realidade da região de Lisboa e Vale do Tejo, em que a maior parte das mulheres em idade reprodutora estão assintomáticas”.
“Algumas são portadoras, mas não têm a doença [COVID-19], e na maior parte dos casos a repercussão que isso tem sobre a gravidez, sobre o parto, e sobre o recém-nascido é muito baixa”, adiantou o diretor do serviço, que foi dos primeiros a permitir a presença de acompanhantes na sala de partos.
Na altura da elaboração deste relatório, o país tinha registado 37.036 casos (prevalência de 0,36%) e 1.520 mortes associadas.
“As preocupações com a segurança da prestação de cuidados de saúde materna levaram à implementação do rastreio universal da Sars-CoV-2 a todas as mulheres admitidas no Serviço de Obstetrícia a partir de 03 de abril”, lê-se no artigo.
A 27 de abril, começarem a ser rastreados “todos os acompanhantes para permitir que a grávida fosse acompanhada durante o trabalho de parto e tivemos também uma incidência baixa de pessoas positivas e também todas assintomáticas”, adiantou.
As duas mulheres que testaram positivo tiveram um parto normal sem complicações. Os bebés realizaram o teste nas primeiras 24 horas de vida e deram negativo.
Já dos 221 acompanhantes assintomáticos que realizaram o teste, três tiveram resultados positivos (1,36%).
“Uma baixa prevalência de infeção SARS-CoV-2 foi encontrada na nossa população de mulheres grávidas assintomáticas, números que não eram diferentes dos da população em geral. Prevalências muito maiores foram registadas em grávidas assintomáticas em dois centros americanos (Nova Iorque – 13,5% e Southern Connecticut – 2,9% e num centro do norte de Portugal que foi particularmente afetado pela covid-19 (11,7%)”, conclui o estudo.
Os testes continuam a ser realizados e ultimamente há “um número bocadinho maior de casos”, observou.
No total, foram testadas até agora cerca de 700 grávidas e os casos positivos continuam a não chegar a uma dezena, sempre tratados com circuitos próprios de isolamento e segurança. Em 400 testes feitos a acompanhantes, foram detetados quatro positivos (1%).
“Temos neste momento nove senhoras que deram positivo, mas todas assintomáticas, e tiveram um parto sem intercorrências e o recém-nascido deu negativo”, salientou.
Questionado sobre o primeiro bebé que nasceu em Portugal infetado com o novo coronavírus durante a gravidez, Diogo Ayres de Campos afirmou que são casos muito raros.
“A transmissão de mãe para filho durante a gravidez é muito rara. Há cerca de 10 casos bem documentados no mundo numa população de grávidas que é muito grande”, adiantou.
Segundo o obstetra, a maior parte das mulheres ainda manifesta receio de contrair covid-19 porque ainda persiste a ideia de que pode ser uma coisa grave para a gravidez e para o recém-nascido.
Por isso, é importante passar-lhes uma mensagem de tranquilidade, uma vez que “esta situação se vai prolongar com certeza durante mais uns meses”.
Apesar de ainda se saber pouco sobre quando se adquire a infeção no início da gravidez, porque ainda não houve tempo suficiente para as grávidas terem os bebés, já se pode dar “alguma tranquilidade à grande maioria das grávidas” que contraem a infeção no último trimestre da gravidez.
Isto porque cerca de 80 a 90% das grávidas que estão assintomáticas e testam positivo não desenvolve sintomas e a certa altura deixa de ser positiva.
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