HealthNews (HN) – O que é o projeto chAnGE? Como se uniram estes cinco países – Portugal, Irlanda, Finlândia, Áustria e Grécia –, e com que objetivo?
Filomena Carnide (FC) – O projeto chAnGE, intitulado “Alterações climáticas e envelhecimento saudável”, resulta de um consórcio que havia vindo a trabalhar no âmbito de um desenho de um curso de mestrado, totalmente online, designado por EMMA Master, dedicado ao envelhecimento ativo e às sociedades amigas da pessoa idosa. Na sequência do trabalho desenvolvido, o consórcio, que integra a Irlanda, Portugal, Finlândia, Áustria e Grécia, tomou a iniciativa de dar continuidade ao trabalho cooperativo estre as instituições do ensino superior que integram o consórcio e desenhar um novo programa de formação ao longo da vida, desta feita dedicado ao impacto das alterações climáticas na saúde das pessoas idosas. Esta motivação resulta de uma necessidade de resposta às agendas europeia e internacional no que respeita às alterações climáticas na saúde das populações. Não obstante, as agendas publicadas até ao momento têm dedicado pouca atenção às pessoas que estarão provavelmente mais vulneráveis, pelo que surgiu esta iniciativa de desenvolver um programa educacional dirigido a profissionais de saúde e do setor social, que já trabalham com pessoas idosas, no sentido de capacitar estes profissionais de competências que lhes permitam desenvolver estratégias de mitigação, adaptação e de resiliência, no seu próprio local de trabalho, relativamente ao impacto das alterações climáticas na saúde das pessoas idosas.
HN – Estamos a falar de um projeto de três anos.
FC – Certo. É um projeto ERASMUS+, cofinanciado pela Comissão Europeia, com a duração de três anos, e integra-se no eixo das alianças para a educação e a sua relação com as empresas. Portanto, é um tópico dentro do programa ERASMUS+ que visa exatamente criar programas de formação inovadores e em grande proximidade da academia com as empresas, no nosso caso, todos os stakeholders da área da saúde e do setor social.
HN – As microcredenciais atribuídas a Portugal são: empreendedorismo relevante para as alterações climáticas; adaptação climática em contextos de cuidados de saúde e sociais para profissionais de saúde e cuidadores; e alterações climáticas e pessoa idosa nos cuidados de saúde – planeamento e implementação de soluções. É uma missão da Universidade de Lisboa, da Learning Health – Hospital Luz Saúde e da emeis Portugal. Como está Portugal integrado neste projeto e, designadamente, a Universidade de Lisboa?
FC – O projeto chAnGE tem como objetivo desenvolver 15 conteúdos e-learning interativos, acessíveis e de curta duração (microcredenciais), com o objetivo último de definir um quadro formativo a nível europeu e contribuir para um futuro diploma. Estas microcredenciais estão agrupadas em competências específicas, desde conhecimentos básicos e analíticos às competências de gestão, de comunicação e colaboração e competências de políticas públicas e governação. A Universidade de Lisboa é coordenadora do workpackage do desenvolvimento do programa das 15 microcredenciais; mas, tal como o título indica, este é um processo que tem por base uma dinâmica de cocriação e, portanto, o starting point para o desenho do currículo de cada uma das microcredenciais partiu da auscultação dos profissionais de saúde e do setor social, das próprias pessoas idosas, dos gestores das várias organizações da área social e da área da saúde e administração pública. Portanto, um leque muito alargado de stakeholders a trabalhar em estreita colaboração com a academia. O desenvolvimento das 15 microcredenciais está dividido pelos vários países, ainda que a Universidade de Lisboa seja a entidade que irá agregar os diferentes contributos e contribuir para o desenvolvimento do programa como um todo.
O papel da Universidade de Lisboa, da Learning Health – Hospital Luz Saúde e da emeis Portugal, no desenvolvimento dos conteúdos e das competências associadas às microcredenciais, está focado, fundamentalmente, nas três que referiu: as competências de empreendedorismo relevantes para as alterações climáticas, saúde e envelhecimento; a adaptação climática em contexto de cuidados de saúde e sociais para os profissionais de saúde e cuidadores; e, também, uma terceira dedicada às alterações climáticas e a pessoa idosa nos cuidados de saúde. A primeira, dedicada ao desenvolvimento de competências de empreendedorismo para fazer face ao impacto das alterações climáticas na saúde da pessoa idosa, destina-se aos profissionais de saúde e do setor social que pretendam desenvolver soluções, serviços, produtos que possam responder àquilo que é o desígnio do projeto chAnGE. Portanto, é uma microcredencial destinada, fundamentalmente, a profissionais de saúde e do setor social e que queiram desenvolver soluções inovadoras que possam ser implementadas no seu local de trabalho e que respondam, como dizia, ao impacto das alterações climáticas na saúde da pessoa idosa.
A segunda, relativamente à adaptação climática em contextos de saúde e social, está mais dirigida para o trabalho colaborativo a ser desenvolvido entre estes profissionais. São competências de colaboração e que permitem, tal como a microcredencial de empreendedorismo, de uma forma multidisciplinar, adotar estratégias de adaptação em contexto de trabalho, seja no setor de saúde, seja no setor social.
A última, relativa às alterações climáticas e a pessoa idosa nos cuidados de saúde e no setor social, já se enquadra mais nas competências de política e de governança. Ou seja, é uma microcredencial destinada mais aos decisores dessas mesmas organizações. O consórcio está a trabalhar no sentido de envolver todos os atores que poderão ser responsáveis pela implementação das soluções de mitigação e adaptação às alterações climáticas, nestas unidades, para que as competências adquiridas no âmbito do projeto chAnGE possam efetivamente ser bem acolhidas. Por isso, é um projeto integrador e que, tal como eu referi, envolve desde o público-alvo – as pessoas idosas –, onde a ação dos profissionais de saúde e do setor social irá ter impacto, até quem tem a capacidade de apoiar estes profissionais de saúde e do setor social na implementação das novas estratégias ou intervenções para a adaptação e mitigação das alterações climáticas na saúde da pessoa idosa. A Universidade de Lisboa, através das diferentes Escolas que integram a redeSAÚDE da Universidade de Lisboa, está fundamentalmente dedicada às competências de gestão, de comunicação e de trabalho colaborativo entre os diferentes profissionais e, por outro lado, trabalho colaborativo entre os diferentes atores que podem fazer a diferença dentro das suas organizações.
HN – Que trabalho têm vindo a desenvolver e em que fase se encontram?
FC – O projeto teve início em outubro de 2023, portanto é muito recente. A Universidade de Lisboa, em associação com os parceiros do Consórcio chAnGE, tem vindo a trabalhar no primeiro esboço dos conteúdos das diferentes microcredenciais, e este draft tem sido validado pelas diferentes workshops. No fundo, tem estado a implementar um processo de cocriação do desenvolvimento das competências e dos conteúdos de cada microcredencial, numa abordagem dinâmica de workshop. Esta dinâmica mobiliza todos os atores do setor da saúde e do setor social, em associação com a academia. Contamos que os workshops estejam concluídos no mês de abril e que, na próxima reunião entre parceiros, também num processo colaborativo, o consórcio possa ter todas as informações que possibilitarão uma primeira versão das várias microcredenciais a ser testada para a incorporação dos conteúdos digitais na plataforma que suportará o curso, e começar a desenvolver todos os materiais no sentido de, daqui a 12 meses, podermos estar em condições de desenvolver um estudo piloto com profissionais de saúde e do setor social.
É um projeto exigente e que envolve não só a academia destes cinco países (uma instituição de ensino superior de cada país), mas também instituições de ensino e formação profissional e instituições do setor da saúde e do setor social. É exigente porque implica a gestão de mais de 15 parceiros, distribuídos por estes cinco países, mas é precisamente baseado neste processo colaborativo que todo o consórcio – e em particular a Universidade de Lisboa – está comprometido no sentido podermos estar em condições de iniciar o estudo piloto 18 meses após o início do projeto.
HN – Fevereiro e março foram meses de workshop. Quer contar-nos o que aconteceu e como correu no nosso país?
FC – Sim, com certeza. Desde logo, foi uma experiência muito rica porque validou a perspetiva que o consórcio tinha relativamente a esta abordagem de cocriação. Assistimos a um enorme comprometimento das instituições que foram convidadas para integrar os três workshops para com esta problemática. Ou seja, foi um início de trabalho colaborativo e de sensibilização para esta temática, mas numa abordagem multiprofissional e multidisciplinar, o que levou a um comprometimento em crescendo dos diferentes stakeholders convidados, no desenho das competências e dos conteúdos das microcredenciais em que estivemos envolvidos. Portanto, o feedback não poderia ser mais positivo, e resultou num compromisso com os diferentes atores participantes nos workshops não só para nos ajudarem na condução desta etapa, mas de envolvê-los ao longo dos três anos de desenvolvimento do projeto. Penso que isso é extremamente relevante e é de realçar. Da parte da Universidade de Lisboa, da Learning Health – Hospital Luz Saúde e da emeis Portugal, não poderíamos ficar mais reconhecidos e gratificados relativamente a este trabalho colaborativo.
Entrevista de Rita Antunes
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