Um laringectomizado "é uma pessoa afetada pelo cancro da laringe e que, uma vez operado e sem as cordas vocais, passa a respirar por um orifício aberto na parte posterior do pescoço",  explica José Costa, presidente da Associação Portuguesa de Limitados da Voz (APLV).

Os doze voluntários da associação visitam diariamente o Instituto Português de Oncologia do Porto, o Hospital de São João e Hospital Pedro Hispano para "ajudar a compreender um cancro que tem cura se detetado a tempo".

A doença afeta, na sua maioria, homens com mais de 50 anos, explicou o dirigente, referindo ser "a conjugação do tabaco com o consumo de bebidas brancas a maior causa deste tipo de cancro". Consciente de que os "problemas não acabam com a cirurgia", para José Costa a reabilitação da voz esofágica contribui para a reintegração do individuo no seu ambiente familiar, social e laboral.

"Mas nem sempre isso acontece", alertou o presidente da APLV que para além das visitas diárias aos hospitais do Porto e Matosinhos, vão também semanalmente ao Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho e mensalmente aos hospitais de Santa Maria da Feira, Viseu e Coimbra.

Maioria vive isolada 

Todos eles laringectomizados "e cativados para o trabalho na associação pelas visitas que então receberam dos antigos voluntários", José Costa e os seus colaboradores fazem também visitas domiciliares nos distritos entre Viana do Castelo e Coimbra. "É nessas visitas que nos apercebemos do sofrimento das pessoas, pois parte delas vive isolada e só comunica quando as visitamos. Noutros casos, o consumo do álcool mantém-se pela falta de sensibilização e de alternativas na vida dos laringectomizados", lamentou.

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O regresso ao mercado de trabalho "quer pelo estigma, nuns casos, quer pela vergonha, noutros", é também um cenário complicado de contornar para quem foi operado, "sendo que desde que a incapacidade descrita no atestado multiusos ultrapasse os 80% a reforma por incapacidade atinge o valor máximo de remuneração seja qual for a idade do proponente", explicou.

"Estamos a falar de uma doença que provoca, também, o divórcio, pois os familiares, por vezes, sofrem mais do que nós", acrescentou o dirigente de uma doença cuja cirurgia determina terapia da fala e, por vezes, "uma espera até poder voltar a falar, no mínimo, de um mês".

Este cancro "segundo os especialistas, dita que em média um português por dia seja operado", situação que fez a APLV disponibilizar-se para "ações de sensibilização junto da população".

"Nas escolas onde tivemos a possibilidade de falar com alunos dos três ciclos de ensino foi notável a atenção com que nos ouviram e como depois surgiram as perguntas ", congratulou-se José Costa, lembrando que "até em turmas de alunos mais complicados a atenção foi total".

A APLV fornece ainda ajudas técnicas (material para a higienização da prótese fonatória) e de suplementos alimentares e da nutrição entérica (uma vez que estes só através de uma sonda gástrica ou intestinal conseguem alimentar-se).

Apesar de ser uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) o único apoio que a associação recebe é do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa contra o Cancro, onde está sediada.