Vivemos tempos desafiantes na saúde em Portugal e no Mundo. No entanto, temos hoje uma base de sustentação da saúde das populações como nunca tivemos. A medicina tem tido uma evolução extraordinária que, permite hoje, tratar e/ou gerir várias das condições médicas mais prevalentes com soluções terapêuticas eficazes e mais acessíveis.
Então, quais as necessidades em saúde ainda por satisfazer?
É preciso analisar as necessidades sentidas pelas pessoas de forma abrangente. Se o fizermos, concluímos que as necessidades por satisfazer ao nível da saúde ainda são elevadas, mesmo nas patologias mais comuns. Entre estas necessidades, estão o acesso atempado a cuidados de saúde, a informação das pessoas sobre prevenção e gestão da saúde e da doença, assim como necessidades de personalização da terapêutica medicamentosa. Para satisfazer estas necessidades, deverão ser envolvidos de forma mais acentuada outros profissionais de saúde para além dos médicos, como os enfermeiros e os farmacêuticos, nomeadamente através de programas de apoio ao doente, que permitam aumentar a adesão à terapêutica e a efetividade. Adicionalmente, novas ferramentas digitais destinadas às pessoas, com ou sem doença, têm um grande potencial de complementar o trabalho realizado pelos vários profissionais de saúde.
Assim sendo, as oportunidades de investigação e desenvolvimento da indústria farmacêutica no futuro ultrapassam, em muito, a criação de novos medicamentos, podendo focar-se no desenvolvimento de soluções que satisfaçam as necessidades no âmbito da gestão da sua saúde e/ou doença. Estas soluções poderão incorporar medicamentos comercializados pelas empresas há vários anos que adicionarão ainda mais valor em saúde se acoplados a soluções de telemonitorização, programas de suporte ao doente ou apps para facilitar a adesão à terapêutica. Noutros casos, poderão ser soluções integradas contendo medicamentos, dispositivos médicos e tecnologia adicional. Desta forma, a indústria farmacêutica acompanhará as tendências do sistema de saúde, nomeadamente de colaboração e integração entre níveis de cuidados de saúde, de ambulatorização, de assistência ao doente no seu domicílio através de telemonitorização, assim como da digitalização.
Existem ainda, contudo, necessidades ao nível do tratamento da população de idade mais avançada, pouco representada nos ensaios clínicos, mas com potenciais particularidades derivadas de comorbilidades, polimedicação ou, simplesmente, de alterações fisiológicas associadas à idade.
Existem também necessidades ao nível do tratamento da mulher, mais uma vez devido à sua menor representatividade nos ensaios clínicos, mesmo em patologias com maior prevalência ou gravidade, como seja a doença cerebrovascular após os 70 anos de idade. Neste caso, adicionam-se necessidades específicas ao nível de tratamento de condições médicas como a endometriose ou a síndrome do ovário poliquístico, e cancros específicos da mulher. Somam-se ainda necessidades não satisfeitas no âmbito da gravidez, nomeadamente o parto pré-termo e a hemorragia pós-parto.
Em conclusão, embora ainda existam necessidades específicas ao nível da terapêutica medicamentosa de múltiplas doenças, a máquina de investigação e desenvolvimento da indústria farmacêutica, deve focar-se: (1) em segmentos mais específicos da população como sejam as mulheres, assim como (2) em soluções abrangentes contendo componentes medicamentosas, não-medicamentosas e/ou tecnológicas que respondam às necessidades em saúde das pessoas. Para este propósito, as empresas farmacêuticas estão neste momento a estabelecer parcerias e consórcios com instituições académicas médicas e não médicas, assim como com empresas e start-ups tecnológicas, acompanhando as tendências gerais dos sistemas de saúde em que se integram.
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