Joana Gonçalves, enfermeira daquela unidade do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, afirmou aos jornalistas, à porta do hospital, que, “de toda a equipa de 41 enfermeiras, 23 estão na condição de ter especialidade [em saúde materna], mas de ter um contrato com o hospital como enfermeiros de cuidados gerais”.

Em termos práticos, disse, é a “enfermeira-chefe, que habitualmente não tem utentes atribuídas”, que está, esta manhã, a assumir as grávidas de alto risco, porque, no primeiro turno do dia, a enfermeira destacada para aquele serviço recusou prestar aquele tipo de cuidados, apesar de ter a especialidade.

Essa profissional que se recusou a atender as grávidas de risco, adiantou, “foi já avisada que vai ser notificada” de uma eventual sanção disciplinar, acrescentou Joana Gonçalves. “As chefias vão notificar o elemento que não assumiu as grávidas de alto risco. A colega é generalista, tem a especialidade, mas comunicou que a partir de hoje não a vai assumir”, acrescentou.

Questionado pela Lusa sobre a situação, o conselho de administração do Centro Hospitalar assegurou que “não houve qualquer ameaça a qualquer dos enfermeiros em protesto”. Em resposta enviada à Lusa, a administração daquele hospital garantiu ainda que “todas as situações urgentes têm tido a resposta adequada por parte das equipas de enfermagem” e que “todos os serviços, nomeadamente o Bloco de Partos, estão assegurados”. “O hospital tem assegurada resposta clínica a todas as doentes” e “nenhuma doente foi transferida ou deixou de receber cuidados adequados”, acrescentou.

A enfermeira especialista referiu que, às 08:30, encontravam-se internadas naquela unidade - que dispõe de nove camas - três grávidas e que outras duas grávidas de risco estavam “para entrar” a qualquer momento. “Uma enfermeira de cuidados gerais não pode assumir” este serviço, disse, acrescentando que, naquele hospital, as 23 enfermeiras com especialidade, mas contratadas como generalistas, “vão deixar” de prestar cuidados específicos a partir de hoje.

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Segundo a profissional, que exerce há 10 anos naquele hospital e é, há cinco, especialista em saúde materna, este protesto “não é nenhuma greve” e os enfermeiros nesta situação não estão a recusar estar no posto de trabalho, “simplesmente não vão assumir funções para as quais não foram contratados”. “Sou enfermeira, tenho orgulho em ser enfermeira, adoro ser parteira. Estamos há 10 anos, e eu há cinco, a exercer a nossa especialidade porque queremos, mas também porque fomos incentivadas a isso. Já chega! Estamos aqui para defender a nossa classe, a nossa carreira, e a lutar pelo que acreditamos, que é absolutamente justo e legítimo”, sustentou.

Joana Gonçalves adiantou ainda que em nenhum turno do mês estão quatro enfermeiros especialistas na escala de serviço, o que levará a que não sejam “cumpridas as dotações”.

A administração do Centro Hospitalar Gaia/Espinho acrescentou à Lusa ter “total confiança na direção clínica e de enfermagem”, bem como ter “a certeza que os seus profissionais honrarão os seus códigos de Ética e Deontologia”.

Presente no local, Bruno Martins, representante da Ordem dos Enfermeiros, afirmou que os enfermeiros “têm de prestar os cuidados para os quais estão contratados”. Sobre a possibilidade de os enfermeiros que recusarem prestar serviços de especialidade serem alvo de sanções, Bruno Martins reafirmou que “os enfermeiros apenas têm de se preocupar em responder aos cuidados de enfermagem para os quais foram contratados”.

Os enfermeiros especialistas recusam-se, a partir de hoje, a prestar cuidados diferenciados, como protesto contra o não pagamento desta especialização. Segundo a Ordem dos Enfermeiros, que apoia os profissionais neste protesto, existem cerca de 2.000 enfermeiros que, apesar de serem especialistas, recebem como se prestassem serviços de enfermagem comum. Para dar voz a esta reivindicação, foi criado o movimento EESMO (Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia), o qual organizou quarta-feira uma vigília frente à residência do primeiro-ministro.