A saúde apresenta problemas que todos conhecemos. Atinge-nos coletivamente e é um motivo de preocupação legitima para a população. O acesso aos cuidados de saúde encontra-se condicionado, especialmente nas áreas que deveriam ser a nossa joia da coroa: a saúde materna e saúde infantil. Temos demasiadas urgências condicionadas, incerteza sobre o futuro e milhares de criança e mulheres sem garantias de acesso aos cuidados de saúde.
O acesso aos cuidados de saúde primários também se encontra bastante distante do ideal, especialmente na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde em alguns concelhos, um em cada três residentes não tem médico e enfermeiro de família. O número de pessoas sem equipa de família completa não pára de aumentar desde 2018, tendo evoluído de 690 mil pessoas para cerca de 1.7 milhões. Esta degradação do acesso aos cuidados de saúde primários tem natural impacto negativo na utilização dos serviços de urgência.
Verdade seja dita, e é preciso reafirmar, nem tudo está mal no SNS. A produção cirúrgica tem batido sucessivos recordes. A demora média para cirurgia encontra-se inferior a 30 dias, uma diminuição em relação aos 48 dias em que se encontrava na fase pré-pandemia. O mesmo acontece para as consultas de especialidade em contexto hospitalar, onde se verifica um aumento de 5% em relação a 2022.
É preciso construir e melhorar o serviço público de saúde, em vez de desmantelar o melhor instrumento para a promoção do bem-estar, consecução dos projetos de vida, que promove a equidade e a coesão social que possuímos.
Teremos eleições em março de 2024. É importante conhecer as propostas que os vários partidos têm para a área da saúde. Como resolver a e melhorar a dimensão do acesso aos cuidados de saúde? Como melhorar a qualidade dos cuidados de saúde? Como tornar mais equitativo e sustentável o financiamento dos cuidados de saúde?
Sendo certo que estas três dimensões constituem os três vértices do triângulo teórico das impossibilidades da saúde, não invalida que não seja possível apresentar propostas que procurem dar resposta a todas estas áreas.
Sem nunca esquecer que nada será possível resolver, sem envolver os profissionais de saúde. A consolidação e reforço do serviço público de saúde só acontecerá se for feita com os trabalhadores. É urgente trabalhar na criação de estratégias para a retenção dos profissionais, que envolve necessariamente, mas não só, a revisão das carreiras e salários. A OCDE, no seu mais recente relatório, confirma-o: o salário real de médicos e enfermeiros em Portugal continua inferior à fase pré-troika. Só pode servir de aviso para o futuro: o caminho para relançar o SNS não pode ser baseado em baixos salários nem em precariedade!
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