Podemos dizer que, a par do vinho da Madeira, o Vinho do Porto é o único vinho português verdadeiramente universal.
Mas no Vinho do Porto só alguns gozam do ambicionado privilégio da fama e reconhecimento. E mesmo entre as múltiplas categorias em que se divide o Vinho do Porto a verdade é que só a família dos Vintage acaba certificada por estas premissas de fama universal.
No Vinho do Porto, os anos não são "declarados Vintage". Nem há "declarações generalizadas".
O que acontece com os Vinhos do Porto Vintage é o seguinte: um produtor escolhe um lote que considera excecional dos seus vinhos. Cerca de ano e meio depois da vindima submete-o ao Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto. O lote é apreciado e se o vinho tiver "características organolépticas de excecional qualidade, [for] proveniente de uma só vindima, retinto e encorpado, [... e tiver], aroma e paladar muito finos" (cito o Regulamento 242/2010), o vinho é aprovado como Vintage. É a glória!
Resumindo, só um vinho é que pode ser "Vintage", um ano não, no entanto chama-se "ano Vintage" ou “ano Clássico” quando as principais casas declaram as suas principais marcas. Hoje em dia, com a moderna viticultura e enologia, pode-se fazer um Vinho do Porto com qualidade suficiente para ser Vintage todos os anos. Assim, quando a quantidade é menor ou quando os interesses comerciais o recomendam, as casas declaram os "single quintas", vinhos de uma só quinta.
Um outro conceito que aparece com alguma frequência é a “split declaration”, quando casas importantes divergem sobre qual dos anos merece ser "clássico". Foi o que aconteceu em 1991 e 1992, situação que de certa forma se repetiu em 2009.
Os Vinhos do Porto Vintage são provenientes de um só ano e possuem características excecionais, apresentando cor retinta, uma sólida estrutura e aromas e sabores intensamente frutados. São engarrafados algures entre o segundo e o terceiro ano após a vindima e na maior parte dos casos amadurecem muitos anos na garrafa. Esta forma de envelhecimento retira-os à influência do ar, do que resulta uma perda de cor muito mais lenta e a possibilidade de conservarem os seus típicos aromas frutados.
Os Late Bottled Vintages (LBV) são também vinhos de um só ano. O seu nível de qualidade é elevado, com uma boa cor e estrutura, aroma e sabor delicados, mas contrariamente aos Vintages amadurecem em casco entre quatro a seis anos e são depois engarrafados. Os Late Bottled Vintages são Vinhos do Porto acessíveis, com boa fruta e que podem ser tomados no final da refeição com queijo, frutas e sobremesas de chocolate, preferencialmente.
Na próxima página fique a conhecer sugestões de grandes vinhos do Porto
Como este QUINTA NOVA Porto LBV 2009, que se apresenta no nariz com aromas intensos de fruta preta (amoras e mirtilos) e notas florais (pétalas de rosa). Em boca mostra-se cheio, estruturado e macio, equilibrado entre a doçura, acidez e o álcool, com aromas de bagas silvestres complexadas com notas balsâmicas. Muito concentrado, de textura sedosa; final de boca suave, muito persistente e com intensas notas de fruta.
Este vinho é um exemplo notável do estilo Noval! O QUINTA DO NOVAL Porto LBV Unfiltered 2008 tem um tratamento igual ao Vinho do Porto Vintage: provém apenas de castas nobres da Quinta, uvas pisadas a pé nos tradicionais lagares de pedra e não é filtrado. É um LBV distinto, com taninos muito bem estruturados, grande frescura e pureza de fruta. É delicioso para beber agora, mas envelhecerá lindamente na garrafa.
Chegamos então ao topo desta categoria com os dois “Vintage” que sugerimos. O DOW'S Quinta Senhora Da Ribeira Vintage 2012 é excecionalmente aromático, com aromas de violetas, o que é bastante típico dos vinhos do Porto Vintage da Dow's. Também há no nariz toques de amora, groselha preta e ameixa preta. Estão ainda presentes notas de esteva. Tem algo de especiarias, as quais são equilibradas pela fresca acidez e pela mineralidade presente. Na boca, o estilo mostra-se através do final longo e dos taninos maduros, mas firmes.
Na recente eleição dos cem melhores vinhos de 2014 pela Wine Spectator, o Vintage de 2011 desta casa foi eleito o vinho do ano, 1º lugar! Esta colheita, 2012, optaram por um “single quinta” mas a qualidade está lá, de certeza!
Para falar do KROHN Porto Vintage 1963, vou ter de falar um pouco de história. A Wiese & Krohn foi fundada em 1865 por dois jovens Noruegueses, Theodor Wiese e Dankert Krohn. No início era uma pequena empresa, baseada na exportação de Vinho do Porto para os mercados escandinavos e para a Alemanha. Mais tarde, em 1933, tornou-se uma Casa de Vinhos do Porto de propriedade inteiramente portuguesa que prossegue a sua actividade sob o nome dos seus dois fundadores noruegueses.
O vinho é complexo, rico em aromas de frutos secos, tabaco, chocolate e especiarias. Uma riqueza sem par. Na boca, o equilíbrio gustativo mostrou-se perfeito ao primeiro gole, uma acidez vibrante e uma sensação untuosa que dominou todo o palato. Final de boca? Que final? O vinho dá aquela rara sensação de que nunca vai acabar. Um Vintage simplesmente inesquecível!
Beber um Porto Vintage sempre é uma experiência digna de ser preservada na memória de qualquer enófilo, afinal, desde o ano de 1900, apenas 43 colheitas foram declaradas como Vintage (já incluindo a recém declarada colheita 2011). O que dizer então da oportunidade de apreciar um dos cinco melhores vintages do século XX?
José Faria
Wine Adviser OUT OF THE BOTTLE
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