Como reagiria se lhe dissessem que são necessários 20 mil litros de água para produzir 1 kg de algodão que dão para produzir uma t-shirt e um par de calças de ganga? Até que ponto é que os consumidores se interessam sobre moda sustentável? Será que a moda está a levar a sustentabilidade e transparência a sério? Estes foram alguns dos temas que estiveram em cima da mesa durante a conferência “Is transparency finally in style?” que contou com a presença de Lily Cole.

Para a supermodelo, que trabalha em moda há 12 anos, a indústria tem feito grandes progressos no que toca à transparência e sustentabilidade dos seus produtos. As marcas Stella McCartney ou Vivian Westwood são apenas algumas das empresas que tem marcado a diferença quando o assunto é apostar na utilização de materiais reciclados e orgânicos.

“Eu acho que é possível fazer o bem através do consumo de produtos, porque acho que isso existe mesmo”, começou por afirmar a modelo e atriz britânica que pega no exemplo da marca Eden Organic que traz vestida. “Eu sinto-me confiante que os produtos tenham sido feito de forma ética porque acredito nessa marca e acredito que estão a fazer um bom trabalho. Mas para confiar nessa marca tem de haver transparência. A Eden tem de ter informação - que muitas empresas não têm - sobre a sua supply chain de forma a poderem dizer que produzem produtos éticos.”

Outra das marcas mencionadas durante o debate foi a H&M, que tem dado que falar sobre a sua conscious collection. Questionada sobre as marcas que, tal como a cadeia sueca, optam por lançar uma coleção ecológica secundária em vez de produzirem todas as coleções com materiais sustentáveis, Cole refere que tem uma posição neutra.

“Acho que para empresas que tem milhões de chain suppliers é impraticável e pouco razoável pedir-lhes que mudem tudo do dia para a noite. E acho que se lhe pedirmos esse pedido isso talvez nunca venha acontecer. Acho que dar-lhes a oportunidade de testar as águas e ver se funciona de forma prática é um bom começo porque a partir daí podemos evoluir.”

Para além disso, a modelo não se abstém em falar do lado negro da indústria da moda, onde muitas marcas aderem à moda sustentável de forma cínica sabendo que o simples facto de estarem associadas a uma moda mais sustentável irá beneficiar a sua imagem externa. “Precisamos de bons negócios com boas intenções para chegarmos aonde pretendemos”, frisa.

Mas até que ponto é que os consumidores, enquanto indivíduos que asseguram a sobrevivência desta indústria poderosíssima, podem encorajar as marcas a mudar a sua forma de estar e a adotarem outra postura? “Não nos podemos esquecer que as marcas apesar de aparentarem ser muito poderosas, a verdade é que o poder está todo do lado do indivíduo. Se amanhã pararmos de comprar a uma marca, ela torna-se impotente. As decisões individuais que tomamos todos os dias – o que compramos e como consumimos - têm um impacto enorme quando colocadas em conjunto de forma coletiva. A indústria da moda, tal como as outras indústrias, quer vender muito. Precisa de crescimento, de pessoas que comprem muitas coisas a toda a hora. Cabe-nos a nós enquanto indivíduos questionarmos, internamente, a nossa participação nesse sistema. ”

A relação entre consumidor e moda sustentável

Apesar de existirem cada vez mais marcas a produzem coleções sustentáveis e amigas do ambiente, isso nem sempre atrai mais consumidores e se traduz em mais vendas para as marcas. Tal como refere Lily Cole, atualmente “assistimos a uma atitude de moda descartável em que as pessoas compram mais mas com menos qualidade e com a expetativa dos produtos durarem entre seis meses a um ano.”

Para a supermodelo, o facto de grande parte das pessoas preferirem comprar em lojas de fast fashion do que comprar algo mais caro e que tenha sido feito de forma sustentável é “um dos grandes problemas e obstáculos” da sociedade atual. Mas será que é possível mudar o seu comportamento e incentivá-los a comprar de forma mais sustentável?

“Culturalmente precisamos de mudar a nossa atitude perante o consumismo e talvez pagar mais e comprar menos. E cuidar das coisas que possuímos de forma a que tenham uma vida mais duradoura”, refere. “Eu tenho estes ténis, que são uns ténis da Nike normais (na imagem). Eles eram demasiado pequenos para mim e há umas semanas começaram a ficar com buracos à frente mas estão em perfeitas condições. E não queria comprar um par de ténis novos portanto comprei uns emblemas e coloquei-os. Onde quer que eu vá as pessoas dizem-me ‘Adoro os teus ténis. Onde os compraste?’ Acho que isso é uma parte importante deste movimento: não importa só onde compramos, mas o que fazemos com esses produtos e como expandimos a sua vida”, conclui.