"A 22 de janeiro de 2020, comemorarei os meus 50 anos de carreira na moda com um grande desfile-espetáculo de alta costura no Théâtre du Châtelet. Será também o meu último desfile", informou o estilista em comunicado transmitido à AFP.
"Mas não se preocupem, a casa de costura Gaultier Paris continua, com um novo projeto do qual sou incentivador e que será revelado em breve", acrescentou. A sua empresa está sob o controle do grupo espanhol Puig desde 2011.
O comunicado está acompanhado de um vídeo, no qual o estilista aparece ao telefone com uma pessoa, que convida para o desfile. "Vou te dar uma novidade, será o meu último desfile. Vais ter que ir, não podes perder", provoca.
"Será uma grande festa, com muitos dos meus amigos e vamos divertir-nos muito. Vai acabar muito tarde", diz o estilista, em tom de brincadeira.
O desfile vai ocorrer durante a Semana a Moda de Alta Costura, em Paris, que vai ser celebrada entre segunda e quinta-feira da próxima semana.
Do corpete cônico à camisola de marinheiro
Transgressor e subversivo, Gaultier é um dos estilistas mais importantes de todos os tempos, que revolucionou nos anos 1980 os códigos da moda com criações como o corpete cônico que Madonna usou, a saia masculina e a camisola listrada de marinheiro, que transformou em ícone em homenagem à sua avó, que o "vestia de azul".
"A minha paixão e a minha vida é a minha profissão. O que eu gosto é o exercício de vestir (...) É artesanato e é sublime", confessou há alguns anos em entrevista à AFP.
Nascido numa família humilde dos subúrbios de Paris, realizou o sonho de ser estilista, que tinha desde de criança, quando desenhava peças para o seu ursinho de peluche.
Desde as suas primeiras coleções, dominou a arte de misturar estilos, gêneros, épocas, o saber popular e a distinção dos bairros nobres.
Cercado de musas como a atriz espanhola Rossy de Palma, Gaultier fez dos seus desfiles um mundo à parte. Eram espetáculos que transbordavam excentricidade e ousadia.
"Um estilista inconformista procura modelos atípicas. Rostos disformes não são impedidos", dizia um anúncio que publicou no jornal nos anos 1980.
Assim, convidou para passerelle homens grandes, mulheres com excesso de peso e, em 2014, a drag queen Conchita Wurst. Também criou o figurino de uma infinidade de espetáculos, além de filmes como "A Má Educação" e "Kika", de Pedro Almodóvar, e "O Quinto Elemento", de Luc Besson.
"Desde a sua primeira coleção, em 1976, que questionou os critérios do gosto e do mal gosto. Chocou, irritou e exasperou divertindo-se (...) com um guarda-roupa ambivalente e intercambiável", disse sobre Gaultier o seu primeiro mentor, Pierre Cardin, ao entregar a distinção francesa da Legião de Honra, em 2001.
Após começar com Cardin, que o contratou com 18 anos, e seguir carreira com Jean Patou, Gaultier lançou a sua própria marca. Também colaborou por vários anos com a Hermès, templo do classicismo e da discrição, usando o seu estilo sem sair do padrão da marca.
No ano passado, anunciou que deixaria de utilizar peles e faria reciclagem.
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