Há 25 anos que é maquilhadora profissional. De que forma é que o mundo da beleza entrou na sua vida?

O mundo da beleza começou muito cedo na minha vida. Ainda era eu criança e já maquilhava as minhas bonecas e cortava o cabelo. Na adolescência, tinha sempre a casa cheia de amigas e familiares para maquilhar. Por isso sempre gostei de tornar as mulheres mais bonitas. Sempre foi muito gratificante para mim a reação delas quando se olhavam ao espelho. E, hoje em dia, continua a ser o maior prazer que a minha profissão me dá: maquilhar pessoas novas e a reação delas ao verem o potencial que têm.

Com que idade percebeu que esta era a sua paixão e que o seu futuro profissional passava pela área da maquilhagem e dos cabelos?

Isto começou no fim do secundário, quando tinha de decidir o que é que queria fazer da vida e uma amiga disse-me que tinha visto um curso de maquilhagem em Lisboa. Foi muito complicado convencer o meu pai, mas a minha mãe foi mais simples porque ela sempre me deixou fazer as coisas que eu gostava. Foi muito complicado convencê-los porque há 25 anos não se falava muito de maquilhagem e da carreira de maquilhadora, mas como eu já tinha muito jeito, essa minha amiga falou-me sobre isto e eu nem pestanejei. É claro que é isto que eu quero para a minha vida.

Sempre gostei de tornar as mulheres mais bonitas

Em 1998 deu os seus primeiros passos na área televisiva, tendo trabalhado em programas como “Herman 98”, “Ídolos” ou “Gato Fedorento”. Quais as principais diferenças entre a indústria que a recebeu naquela altura face àquela que existe atualmente?

Não tem nada a ver. Antigamente, eu já posso dizer antigamente porque já foi há muito tempo, o mercado não estava tão cheio de maquilhadoras porque a profissão ainda não era muito promovida e o trabalho era muito mais valorizado. As pessoas, os profissionais e as produtoras eram muito mais exigentes com o nosso trabalho. Portanto, não tem nada a ver com o trabalho de atualmente, em que há muitas maquilhadoras, há muita oferta e o valor do nosso trabalho desceu imenso. As empresas e as produtoras valorizam mais o preço que a pessoa cobra. Portanto, eu diria que o mercado está mesmo muito diferente, porque hoje em dia nem é preciso ter curso de maquilhadora para se trabalhar em televisão. Basta ter redes sociais ou Instagram, que a pessoa tenha jeito para maquilhar, tenha lá bons trabalhos e já pode trabalhar. Eu não digo que isto seja errado, porque há muitos autodidatas e muita gente que não tem curso e que trabalha muito bem, mas comparando com o mercado de antigamente, que era muito mais exigente, esta é a minha opinião.

Informações

Loja física: R. Rodrigues de Faria 103, 1º Piso, Espaço L1.17. 1300-501 Lisboa

Loja online: inesfranco.com

Instagram: ines.franco.makeup

Cristina Ferreira e Sílvia Alberto são alguns dos rostos televisivos que fazem parte da sua lista de clientes. Quais os principais desafios de trabalhar a imagem de uma figura pública?

Eu já trabalho com elas há muitos anos por isso não posso dizer que haja desafios para mim. O único desafio é principalmente nas galas, e não nos programas diários, onde tenho de construir na minha cabeça uma imagem completa de maquilhagem e cabelos com a roupa que sabemos que vai ser vestida naquele dia. Ou seja, grande parte das vezes é no próprio programa que é decidida a roupa. Então naquele momento e com aquele vestido, nós temos de pensar o que vamos fazer: que tipo de maquilhagem, que tipo de cabelo e que tipo de imagem é que queremos passar. E para mim esse é o único desafio, porque eu já conheço o rosto delas até às escuras. [risos] Portanto, o desafio é mesmo decidir o que é que vamos fazer para aquele look ficar perfeito.

Hoje em dia nem é preciso ter curso de maquilhadora para se trabalhar em televisão.

É conhecida por ser a “maquilhadora de Cristina Ferreira”. Este é um título que a incomoda?

Não me incomoda, mas às vezes chateia-me, porque já conquistei tantas coisas…Tenho uma empresa, tenho uma loja online, tenho uma loja física, escrevi três livros, tenho milhares de seguidores no Instagram e acho que já sou mais do que a maquilhadora da Cristina. Sou empresária, sou empreendedora e desenvolvo os meus produtos. Entendo que isso seja um título para me identificarem ou me darem valor, mas acho que o meu valor é mais do que isso e daí eu achar que já não era necessário comunicarem-me dessa maneira, poderiam fazê-lo de outra forma.

Inês Franco LX Factory
Inês Franco LX Factory créditos: Rui Valido

No dia 1 de abril de 2015 criou o seu blogue. Sente que este foi um momento de viragem na sua carreira?

Pelo blog talvez, mas eu diria que o ponto de viragem na minha carreira foi o meu primeiro lançamento: a linha de produtos desenvolvidos por mim. As vendas foram tão incríveis, as pessoas estavam à espera do que é que eu iria lançar, do que seriam os pincéis perfeitos... Sinto que o ponto de viragem na minha carreira foi a partir do momento em que eu comecei a desenvolver produtos. Em 2015, eu já tinha o meu atelier de maquilhagem, onde fazia workshops e que também me ajudou bastante a saltar um bocadinho na minha carreira, mas para mim o ponto mais alto foi a partir do momento em que eu lanço os primeiros pincéis e lanço o primeiro livro, que foi top de vendas. O meu primeiro livro esteve no número um da FNAC e das outras livrarias duas semanas. Como é que é possível um livro de maquilhagem estar em primeiro lugar na FNAC? Expliquem-me. É incrível. Portanto, aí deu-se o grande boom da maquilhagem também.

Não me incomoda, mas às vezes chateia-me [ser conhecida como a “maquilhadora de Cristina Ferreira”], porque já conquistei tantas coisas

Para além da coleção de pincéis com o seu nome lançada em 2018, mais recentemente apostou na criação de uma marca de roupa, batizada de MADAMI. Sempre foi uma ambição ter uma marca criada e pensada por si?

Nunca foi uma ambição ter uma marca de roupa, mas antes sequer de eu começar a maquilhar em criança, eu desenhava vestidos de festa e vestidos de noiva. A minha mãe comprava-me blocos que tinham já o corpo da mulher desenhado e eu fazia as minhas criações nesses bloquinhos. Por isso eu já tinha esse gosto pela moda, por desenhar e por fazer criações minhas. Depois ficou um pouco esquecido porque entrei no mundo da maquilhagem e, entretanto, achei que tinha pouca coisa para fazer e arranjei mais uma, que foi criar uma marca. Portanto, essa marca foi criada mesmo à minha imagem, com peças que eu acho que são superfemininas e que realçam imenso o corpo da mulher. E, assim, nasceu a MADAMI, que é a Madame Inês. Eu adoro francês, daí virou o MADAMI.

Ao longo da sua carreira lançou três livros práticos sobre maquilhagem: Guia Prático de Maquilhagem (2014), Maquilhagem e Cabelos (2016) e O Pequeno Grande Livro da Maquilhagem (2019). Faz parte dos seus planos lançar um novo livro sobre esta temática?

As editoras andam a espicaçar-me para eu lançar outro livro, mas neste momento tenho de gerir uma empresa, onde já somos algumas pessoas, e não tenho tempo para dedicar a mais um livro de maquilhagem. Isto porque este quarto livro teria de ser ainda mais espetacular do que os outros e, para isso, é preciso tempo e muita dedicação. Eu bem sei o que me custou escrever os outros porque para mim era muito fácil falar sobre maquilhagem e eu tinha de perguntar a toda a gente à minha volta se aquilo que eu ia escrevendo era explícito. E foi com a ajuda de muitos amigos e familiares que eu escrevi os livros. Tinha de lhes perguntar se tinham dúvidas porque eu era tão sucinta a escrever as coisas, que eu precisava de opiniões de pessoas que não percebiam nada de maquilhagem para perceber se tinham entendido a forma como eu tinha explicado. Portanto, este quarto livro iria tomar-me muito tempo e fica, para já, a ideia numa gaveta. Quem sabe mais tarde.

Sinto que o ponto de viragem na minha carreira foi a partir do momento em que eu comecei a desenvolver produtos

É maquilhadora de profissão, mas não tem o hábito de se maquilhar diariamente. Porquê?

Eu já começo a maquilhar-me diariamente porque a idade não perdoa e agora já precisamos de mais alguma coisa [risos] Sempre fui um bocadinho preguiçosa e, na verdade, nunca senti muita necessidade me maquilhar até hoje, que tenho 45, quase 46 [risos], mas sempre gostei de maquilhar as outras pessoas. Atualmente já me maquilho e, ainda hoje, coloquei o meu corretor, o meu blush e o meu rímel, porque acho que são três coisas essenciais para ficarmos com melhor aspeto e com um ar acordado. Posso dizer que fiz esta maquilhagem com os meus produtos porque, exatamente por eu ser preguiçosa, é que estou a lançar este tipo de produto que é fácil, rápido e eficaz.

Quais os seus produtos preferidos e que não podem faltar no seu kit de maquilhagem?

Corretor, blush e máscara de pestanas são três produtos essenciais para ficarmos com ar de acordadas e com bom aspeto.

Enquanto empresária, qual o principal segredo para se ser bem-sucedido nesta área altamente competitiva?

Eu acho que é continuar sempre em busca da perfeição. Procurar lançar novidades, estar sempre atualizada, atualizar o máximo possível as redes sociais, transmitir tudo o que sei, manter as pessoas interessadas com novos lançamentos e, de preferência, lançamentos de coisas inovadoras que façam a diferença nas pessoas e que tornem a sua vida mais fácil, no meu caso, no mundo da beleza. Basicamente é manter sempre as pessoas curiosas.

Corretor, blush e máscara de pestanas são três produtos essenciais para ficarmos com ar de acordadas e com bom aspeto

O que mais a orgulha no seu percurso profissional?

Eu não penso muito nisso. É um defeito, mas não sou de olhar para os meus feitos. Contudo orgulho-me de conseguir ter a minha marca, com produtos desenhados e desenvolvidos por mim. Isso é o meu orgulho: poder ter tido esta oportunidade e tê-la aproveitado. Eu sempre fui de impulsos e quando quero uma coisa corro atrás e já é para ontem. Então, eu sou muito empreendedora e tenho muito orgulho de ter desenvolvido os produtos da minha marca.

Como olha para a evolução da indústria da beleza e da maquilhagem que, cada vez mais, se tem vindo a tornar numa ferramenta de empoderamento inclusiva e, atualmente, é usada tanto por mulheres como por homens?

Às vezes, eu pergunto-me 'o que é que há mais para inventar?' Na verdade, não há mais para inventar. O blush é um blush, uma sombra é uma sombra, um pó é um pó. O que é que se inventa aqui nestas categorias? Inventam-se texturas. E depois vai de modas. Agora é moda blushes com brilho. Depois, são blushes em creme, blushes aveludados, blushes líquidos. Na verdade, são as texturas que mudam, já nem as cores se inventam e isso é sempre interessante porque as pessoas também têm gostos diferentes. Um blush em pó não tem de ser perfeito para toda a gente. Há pessoas que preferem espalhar com os dedos um blush em creme. E por isso é sempre bom continuar a haver esta evolução de produtos com texturas cada vez mais inovadoras, como por exemplo, cremes que se transformam em pó, cada vez mais fáceis de usar e mais instintivas. E para mim, essa é a evolução.

Eu acho que [o segredo para se ser bem-sucedido na área de maquilhagem] é continuar sempre em busca da perfeição

No dia 1 de abril de 2024 inaugurou um espaço dedicado à beleza. Este era um sonho antigo?

Não posso dizer que era sonho antigo. Aconteceu. O meu sonho sempre foi ter a minha marca de maquilhagem. A loja, lá está, foi uma necessidade. Eu tive necessidade de ter os meus produtos expostos sem ser online, para as pessoas testarem, experimentarem e tocarem. E a loja física veio um bocadinho por causa dessa necessidade de dar a conhecer os produtos fisicamente.

Inês Franco LX Factory
Inês Franco LX Factory créditos: Rui Valido

O que é possível encontrar nesta loja localizada no LX Factory?

Esta loja é o mundo de beleza. É lá que eu dou as formações, que eu tenho todos os produtos de acessórios de maquilhagem, tenho as peças de roupa da Madami, e agora, recentemente, tenho a marca de desporto criada por mim e pelo Nuno, que se chama INFIT (I de Inês e N de Nuno), e que está em exclusivo na loja física.

Tenho muito orgulho de ter desenvolvido os produtos da minha marca

Outra das suas ambições sempre foi o lançamento de uma linha de maquilhagem com o seu nome. É algo que está para breve?

Essa linha já está desenvolvida, está a ser produzida e é para ser lançada este Natal. Por isso, há aqui muito trabalho ainda por trás - muito trabalho de marketing e muito trabalho de produção - porque ela já está a ser desenvolvida há dois anos. Vou rezar para que seja finalmente este Natal, se tudo correr bem, que a vou lançar. Estou muito feliz e muito ansiosa para partilhar convosco todos estes produtos que vão facilitar o vosso dia e a vossa manhã quando tiverem de se maquilhar. Estou mesmo, mesmo muito entusiasmada com isto.