Pais e encarregados de educação deste centro da Casa Pia de Lisboa estão concentrados desde as 08:00 de hoje à entrada do estabelecimento de ensino em solidariedade para com os funcionários não docentes da instituição e para pedir um reforço de trabalhadores.
Os participantes vão juntar-se depois às 10:00 à concentração do pessoal não docente, à entrada do centro, pelo reforço de pessoal.
Ana Cardoso, da Associação de Pais e Encarregados de Educação, disse à agência Lusa que “não estão contra a escola”, mas pretendem pedir um reforço de funcionários, que consideram ser “claramente insuficientes” para tantos alunos.
“Estes funcionários estão aqui a trabalhar arduamente com mais de 60 anos e já não têm condições físicas para correr atrás de meninos de 5/6 anos. Os nossos concursos internos abrem e fecham desertos. Portanto, têm de ser tomadas medidas a outro nível”, disse.
Ana Cardoso lembrou que o ano letivo começou com oito trabalhadores não docentes e de momento estão dois, uma assistente operacional e outra do Centro de Emprego, que não pode estar sozinha.
“Neste momento estão duas funcionárias para 171 crianças dos 5 aos 10 anos”, disse.
De acordo com Ana Cardoso, a imagem da Casa Pia foi denegrida há anos e por isso “ninguém lá quer trabalhar”.
“Temos de mudar isto, porque esta escola traz futuro a jovens que não têm oportunidade noutro lado. Acolhe crianças e é um ponto de referência e segurança para jovens que vivem em ambientes degradados em casa, como alcoolismo e toxicodependência, muitos deles sem parentes. Não podemos abandonar estas crianças, que já foram abandonadas”, sublinhou.
A representante lembrou também que há meninos que têm encarregados de educação e pais, mas outros entram e saem da escola sozinhos.
“Por isso, decidimos fazer um abaixo-assinado que entregaremos na segunda-feira após a realização do conselho geral da associação de pais e encarregados de educação. Vamos entregar aos ministros das Finanças e do Trabalho e da Solidariedade, a Belém e à presidente técnica do grupo”, disse.
Também Armando Almeida, dirigente sindical e trabalhador da Casa Pia, destacou em declarações à Lusa o “grave problema de recursos humanos na instituição, que tem alunos desde o pré-escolar ao segundo ciclo e cursos profissionais”.
“A falta de pessoal é tão grave que faz com que os trabalhadores fiquem de baixa ou vão para a mobilidade. Desde 2012 e até 2018 os balanços sociais da Casa Pia apontam para a saída de 113 operacionais e assistentes técnicos, são menos 113 pessoas que temos”, disse Armando Almeida, do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas.
O dirigente sindical destacou também que, além do problema de pessoal, há uma degradação dos espaços físicos.
“No primeiro ciclo há uma auxiliar que tem de ficar num dia de chuva por vezes com 60 crianças numa sala e a sala nem 60 cadeiras tem”, contou.
De acordo com o dirigente sindical, este centro tem no total entre 600 e 650 alunos, sendo que os mais velhos nem vigilância têm devido à falta de pessoal.
“A Casa Pia fala muito dos rácios relativamente ao Ministério da Educação, mas a Casa Pia tem um funcionamento completamente diferente. No período de férias sempre está aberta e a partir das três e meia, enquanto muitos vão para os ATL, os funcionários da Casa Pia continuam com as crianças até às sete da tarde”, disse.
Armando Almeida explicou que a Casa Pia depende do Ministério do Trabalho e da Solidariedade.
“Na minha opinião existem duas casas pias - a primeira é a dos eventos e da aparência, como a apresentação hoje no Museu da Marinha do início do ano letivo, em que estará presente a tutela, e depois a outra, onde estão as crianças sem condições e entregues a poucos trabalhadores”, disse.
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