Segundo a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), que divulgou hoje este caso, poderá ser a primeira vez num país da União Europeia (UE) que um progenitor migrante sobrevivente enfrenta um processo criminal pela morte de um filho durante uma tentativa de alcançar refúgio e melhores condições de vida na Europa.
O migrante, que aceitou falar à AP na condição de ser identificado apenas pelas iniciais N.A. e do nome do filho não ser divulgado, é acusado pelas autoridades gregas de ter colocado em perigo a criança, de 5 anos, ao ter levado o menor na travessia marítima da rota migratória do Mediterrâneo oriental, que faz a ligação entre a Turquia e a Grécia.
Caso condenado, o homem pode incorrer numa pena de prisão até 10 anos.
Foi junto à campa do filho, na cidade de Vathy, na ilha grega de Samos, que o homem contou à AP a sua odisseia.
“Afogou-se num naufrágio. Não foi o mar, não foi o vento, foram as políticas e o medo”, lê-se numa inscrição colocada junto à campa, de acordo com a agência noticiosa.
O naufrágio que vitimou o menor aconteceu em novembro, quando a embarcação em que viajavam chocou contra as rochas da zona costeira de Samos, uma ilha pitoresca no mar Egeu que alberga um dos campos de refugiados mais sobrelotados na Grécia.
“Sem ele, não sei como viver”, afirmou o homem de 25 anos, acrescentando: “Era o único que tinha na minha vida. Todas as minhas esperanças estavam nele”.
O migrante argumenta que não tinha outra escolha a não ser fazer a viagem.
À agência norte-americana AP contou que o seu pedido de asilo na Turquia tinha já sido rejeitado duas vezes e que temia ser deportado para o Afeganistão, de onde fugiu aos 9 anos.
O homem afegão acrescentou que queria que o filho fosse à escola, onde, ao contrário dele, poderia aprender a ler e a escrever, e possivelmente, já na idade adulta, cumprir o sonho do progenitor e ser polícia.
“Não vim para aqui para me divertir. Fui compelido. Não tinha outro caminho na minha vida”, declarou.
“Decidi vir pelo futuro do meu filho, pelo meu futuro, para que pudéssemos vir para um lugar para morar e para o meu filho estudar”, concluiu.
Até ao momento, os motivos que levaram as autoridades gregas a tomarem a decisão de acusar este migrante não estão totalmente esclarecidos, de acordo com a AP, que lembrou que este caso (de morte de crianças durante as travessias marítimas) não é infelizmente inédito.
A Grécia, a par de Itália, Espanha ou Malta, é conhecida como um dos países da “linha da frente” ao nível das chegadas de migrantes irregulares à Europa.
Segundo a AP, ativistas suspeitam que esta medida possa ser um indício de um endurecimento das políticas de migração na Grécia, que já são significativamente restritas.
As mesmas fontes também admitem uma possível tentativa para desviar a atenção de uma eventual negligência por parte da guarda costeira grega.
O ministro para as Migrações e Asilo grego, Notis Mitarachi, rejeitou, entretanto, a ideia de que este caso revela uma mudança de políticas.
“Se houver perda de vidas humanas, deve ser investigado se algumas pessoas, por negligência ou deliberadamente, agiram fora dos limites da lei”, disse Notis Mitarachi, igualmente citado pela AP, acrescentando que cada incidente é tratado de acordo com as suas circunstâncias.
O ministro helénico afirmou ainda que as vidas dos requerentes de asilo não estão em perigo na Turquia, um país que a UE considera como seguro.
“As pessoas que escolhem entrar em embarcações com más condições de navegabilidade, e são conduzidas por pessoas que não têm experiência de mar, obviamente colocam em risco vidas humanas”, referiu ainda o ministro.
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