O presidente da Cáritas Portuguesa disse hoje que tem sido um “erro muito grande” a inexistência de uma secretaria de Estado dedicada às questões da família, considerando que este é um “imperativo” para um próximo governo.

 

“Defendo que tem sido um erro muito grande nos últimos governos não ter havido pelo menos uma secretaria de Estado que se preocupasse com as questões da família e uma secretaria de Estado que estivesse na dependência do Conselho de Ministros”, afirmou Eugénio Fonseca, em Fátima, sobre os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), que dão conta de que o número de jovens em Portugal diminuiu cerca de meio milhão na última década.

 

Considerando que a criação de uma secretaria de Estado da família, “mais do que um desafio devia ser um imperativo” para um futuro governo, o responsável declarou não fazer sentido o país não a ter, “nos últimos anos, tanto no governo anterior como neste”.

 

“Muitas vezes os governos se limitaram a criar comissões para a família, direções-gerais para a família quando estamos perante uma problemática que é decisiva para o futuro de Portugal”, criticou o presidente da Cáritas Portuguesa.

 

O INE sublinha que a diminuição de jovens é “um dos indicadores do fenómeno do envelhecimento que atinge a população portuguesa e reflete a redução continuada do número de nascimentos verificada em Portugal”.

 

O instituto associa também este fenómeno ao aumento da emigração, lembrando que em 2012 saíram do país cerca de 26 mil jovens, que se transformaram em emigrantes permanentes, e outros 27 mil jovens emigrantes temporários.

 

Para Eugénio Fonseca, a reversão da quebra “drástica” de natalidade que se tem verificado nos últimos decénios em Portugal” exige “políticas de proteção à família mais consistentes, com uma maior interdisciplinaridade governativa”.

 

Referindo que a natalidade “foi um assunto pouco abordado quando se falava da crise”, o dirigente alertou que “a crise não terá uma superação sustentável” se não for enfrentada.

 

“Grave também é sabermos que [há menos] meio milhão de jovens em Portugal porque quase metade deles emigrou, foi forçada à emigração”, acrescentou o responsável, observando que “depois das suas qualificações adquiridas não tiveram lugar no mercado de trabalho em Portugal”.

 

Eugénio Fonseca salientou que “estes jovens emigram com espírito diferente” da dos emigrantes da década de 60, “porque vão zangados com Portugal, vão com as suas expectativas de futuro totalmente defraudadas”.

 

“Dado que são jovens com qualificações académicas e visões da vida totalmente diferentes dos seus antepassados, vão criar relações nos países de acolhimento diferentes e isso pode querer dizer que são jovens que jamais regressarão a Portugal”, notou, lembrando que os portugueses, com os seus impostos, investiram na formação destes jovens, mas o país não vai “aproveitar das capacidades que eles adquiriram e isso é de uma injustiça muito grande, para além de ser mais um sinal de pobreza para Portugal”.

 

Por Lusa