Os jovens adultos que passaram mais tempo a ver televisão durante a infância e a adolescência mostram uma maior propensão para comportamentos antissociais que se traduzem em cadastro criminal, distúrbios de personalidade e agressividade, quando comparados com jovens adultos que viram menos televisão. São estes os resultados apresentados esta semana pela revista Pediatrics, da Associação Americana de Pediatria (AAP).
As crianças gastam muito do seu tempo a ver televisão e grande parte dos programas que veem retrata violência. Em muitos países, a violência aparece de forma sistemática na televisão oito vezes por hora, em média. Os números da violência televisiva são ainda mais elevados na programação infantil e em anúncios a programas generalistas. Como tal, o visionamento de qualquer tipo de programação televisiva resulta na exposição a violência.
Recomendações da AAP
Apesar das numerosas formas de comunicação social existentes hoje em dia, as crianças e os adolescentes continuam a usar a televisão como fonte primária de entretenimento. As novas tecnologias, como a televisão on-demand e os dispositivos digitais de gravação oferecem às crianças e aos adolescentes mais oportunidades de verem programas inapropriados, sem supervisão de um adulto responsável.
Assim, a AAP recomenda que os pais limitem o tempo total de exposição dos filhos a entretenimento mediático a não mais do que uma a duas horas de programação de qualidade, por dia.
Os resultados deste estudo apoiam esta recomendação, salientando que cada hora adicional de televisão aumenta a probabilidade de comportamentos antissociais. Desta forma, os autores deste novo estudo acreditam que «a identificação de formas de reduzir o tempo de exposição de crianças e adolescentes à televisão deve ser considerada uma prioridade de saúde pública.»
Relevância do estudo
Após cinquenta anos de investigação e publicação de estudos, a questão de se o visionamento de televisão por parte das crianças conduzir a um comportamento antissocial mantém-se muito relevante.
Há uma série de mecanismos plausíveis capazes de explicar um efeito a longo-prazo de visionamento de televisão no comportamento antissocial. Estes incluem a aprendizagem por observação (isto é, o que é visto é imitado e interiorizado), a dessensibilização emocional e o desenvolvimento de comportamentos agressivos em resposta à exposição repetida a violência.
As associações entre visionamento televisivo e subsequente comportamento antissocial foram semelhantes para rapazes e raparigas, apesar dos efeitos antissociais serem menos comuns em mulheres jovens.
O estudo seguiu 1037 indivíduos, nascidos em 1972 e 1973, em intervalos regulares desde o nascimento até à idade de 25 anos. Foi investigada a associação entre o número de horas de exposição à televisão desde os 5 aos 15 anos de idade e o cadastro criminal e comportamentos antissociais no início da idade adulta.
Este é o primeiro estudo longitudinal (acompanhamento dos indivíduos ao longo de vários anos) a demonstrar associações de longo-prazo entre o visionamento de televisão e uma gama alargada de comportamentos antissociais, incluindo psicopatologias, cadastro criminal e desordens de personalidade.
Maria João Pratt
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