Investigadores americanos descobriram como uma das bactérias responsáveis pelas infeções respiratórias e dos ouvidos é capaz de escapar à deteção do sistema imunológico, contribuindo para infeções crónicas e recorrentes tanto nos adultos como nas crianças, dá conta um estudo publicado na revista digital PLOS Pathogens.

 

Contrariamente ao que o nome sugere, a bactéria Haemophilus influenzae não é causadora da gripe, mas sim responsável pela maioria das otites médias e outras infeções crónicas do ouvido. Esta bactéria pode também causar sinusite, pneumonia e várias doenças do trato respiratório superior e inferior.

 

O estudo refere que os humanos são os únicos hospedeiros da Haemophilus influenzae, uma família que inclui diferentes estirpes, sendo a mais conhecida a b, ou Hib. Esta bactéria está presente no nariz e na boca de 50 por cento das crianças. Estes ambientes são ricos em nutrientes e permitem a sobrevivência da bactéria.

 

Quando confinada à nasofaringe, a bactéria conduz a poucos sintomas. Na verdade, os problemas mais sérios ocorrem quando a bactéria se move para os pulmões e para o ouvido médio.

 

Foi neste contexto que os investigadores do The Research Institute at Nationwide Children's Hospital, nos EUA, se questionaram sobre o motivo pelo qual a bactéria tem mais sucesso em zonas do corpo que são aparentemente mais hostis para a sua sobrevivência.

 

Os investigadores constataram que a bactéria utiliza a resposta do sistema imunológico para seu próprio proveito. Quando a Haemophilus influenzae atinge os pulmões, o ouvido médio, e outras partes do organismo, o sistema imune bloqueia o acesso a nutrientes necessários para que a bactéria sobreviva, como é caso do ferro hémico. Esta resposta imune inicial dá origem a outras ações defensivas incluindo a inflamação, que envolve a libertação de moléculas que tentam isolar a bactéria invasora e a chamar leucócitos para as eliminar.

 

Através de experiências laboratoriais, que mimetizavam a resposta do sistema imune a este tipo de infeção no ouvido médio, os investigadores constataram que o soro que transporta as moléculas e os leucócitos para o local de infeção contém também ferro hémico. Quando a Haemophilus influenzae fica exposta a este nutriente, sofre alterações e divide-se mais lentamente. Como os leucócitos têm por alvo células de replicação rápida, ignoram a bactéria.

 

Este tipo de adaptação bacteriana tem contribuído para o aparecimento da resistência aos antibióticos, o que levou os investigadores a procurarem novas formas de tratar a infeção. Assim, uma das possibilidades é tentar eliminar o fornecimento de nutrientes através do bloqueio de vias metabólicas essenciais com uma molécula inibidora, deixando literalmente a bactéria morrer à fome.

 

“Se formos capazes de desenhar uma molécula com a mesma aparência do ferro hémico, mas que interfira com a via metabólica chave das bactérias, seria possível contornar o problema da resistência aos antibióticos”, revelou, em comunicado de imprensa, o líder do estudo, Kevin M. Mason.

 

 

Maria João Pratt