O recurso a uma barriga de aluguer - ilegal em Portugal e motivo de um projeto do Bloco de Esquerda, que pretende legalizar esta prática, mas sem fins comerciais e apenas por motivos clínicos – foi equacionada pelo casal quando Lúcia perdeu o útero no seguimento de uma cirurgia, aos 33 anos.
Três meses depois o casal optou por aquela que, na altura, se apresentou como “a única forma” de terem um filho biológico: o recurso a uma barriga de aluguer, técnica sobre a qual não conheciam absolutamente nada.
Consultada a informação disponível, cedo se aperceberam que a prática é ilegal em Portugal e que nem em todos os países onde é legal o procedimento é fácil.
Na Índia, por exemplo, é necessário um visto médico, coisa que o casal não tinha. Nos Estados Unidos, os preços eram impeditivos, podendo facilmente atingir os 100 mil euros e no Reino Unido o casal precisava de permanecer um ano no país.
A solução foi um país europeu onde a prática é permitida, tendo o casal concordado com as condições e decidido avançar com o procedimento, promovido por uma empresa que se dedica a este negócio.
Para tal, e após escolhida a mulher que iria suportar a gravidez, que Lúcia e o marido quiseram que tivesse o mesmo tipo de profissão e características, começaram os preparativos clínicos, em Portugal.
Todo o processo médico – exames e estimulação ovárica - foi feito em Portugal, com o médico a ter conhecimento dos fins a que se destinava.
O casal viajou depois para esse país europeu – que optou por não divulgar – onde foi feita a colheita dos ovócitos de Lúcia e dos espermatozoides do marido.
Os gâmetas foram depois inseminados e implantados no útero da mãe de substituição, tendo a notícia da gravidez sido enviada para Portugal, por email, para júbilo do casal.
Os nove meses da gravidez “correram bem” e o casal foi tendo notícias dos filhos através das ecografias e relatórios médicos que receberam por correio eletrónico.
“Na ecografia vi logo que eram parecidos com o pai”, contou Lúcia à agência Lusa. No final da gravidez, a mãe de aluguer foi internada até o parto, ao qual Lúcia assistiu.
“Estive sempre ao lado dela [mãe de aluguer] e ela estava sempre preocupada comigo, queria saber se eu estava bem”, disse.
Assim que as crianças nasceram, Lúcia, agora com 37 anos, recebeu-as nos braços e desde então não viu mais a mulher que alugou o seu útero. Desta, recorda-a como alguém muito cordial e simpática e não tem dúvidas de que, além da questão financeira, tinha uma verdadeira vontade de ajudar a sua família.
O passo seguinte foi mais difícil, pois foi preciso registar as crianças de forma a obterem passaporte e poderem regressar a Portugal.
O casal optou por registar as crianças na Embaixada de Portugal, onde explicou que estas resultaram do recurso a barriga de aluguer.
A solução encontrada pela embaixada foi registar as crianças no nome do pai e com mãe incógnita. Caberá agora a Lúcia, em Portugal, adotar os seus filhos para os mesmos deixarem de ter no seu registo uma mãe desconhecida.
O casal não escondeu da família e amigos esta opção. Quem os conhece sabe o que lutaram por uma criança e nunca os fizeram sentir-se mal pela sua escolha.
Lúcia lamenta que a gestação de substituição não seja legal em Portugal. Teria poupado 50 mil euros e muitas viagens, rumo ao desconhecido.
Tem conhecimento de vários casais portugueses que estão a fazer o mesmo e receia que nem todos tenham a mesma sorte e o mesmo fim: um filho nos braços.
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