Elas podem seguir a gravidez de baixo risco, podem orientar a preparação para o nascimento, podem acompanhar os partos normais, podem até cuidar do recém-nascido nos primeiros dias de vida.
Defendem o mínimo de intervenção durante o parto e o respeito pelas decisões das mulheres. É caso para dizer: dêem-lhes mais poder!
Actualmente, os profissionais de saúde que seguem o parto chamam-se enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica (EESMO). Um nome comprido que acaba, muitas vezes, por ser abreviado para enfermeiros-obstetras ou enfermeiros-parteiros.
As parteiras e os parteiros “de antigamente”, esses, estão verdadeiramente em vias de extinção. A última fornada saiu da Faculdade de Medicina de Coimbra em 1982, altura em que o Governo encerrou os cursos de parteiras, para dar lugar a uma nova geração de profissionais, com formação em enfermagem (quatro anos) e uma formação especializada em saúde materna e obstétrica (18 a 22 meses).
Apesar das diferenças de formação, «parteira» é a designação que continua a fazer sentido para nomear os profissionais de saúde ligados ao parto. Não está, de forma nenhuma, em desuso.
Maria de Lurdes Francisco, enfermeira-obstetra há 26 anos, defende que «o poder das parteiras conquista-se na prática durante o dia-a-dia» e lembra o seu próprio exemplo:
«Lutei muito para conseguir criar uma consulta de vigilância pré-natal no Hospital de S. João dirigida por enfermeiros. Quando comecei, em 1995, foi muito difícil. Foi preciso alterar comportamentos e acreditar que era possível reformular a consulta».
Agora, trabalham oito enfermeiros na vigilância pré-natal, seguindo cerca de 800 mulheres por mês. Na opinião de Maria de Lurdes Francisco, a mais valia das enfermeiras prende-se com a formação e conhecimento específicos, mas, sobretudo, com a «disponibilidade» e «capacidade de ouvir».
«As mulheres precisam de ser ouvidas e as enfermeiras estão preparadas para isso. Muitas vezes, nas minhas consultas nem digo nada, só oiço. Elas têm muita informação e só querem confirmar as suas competências. Isso dá-lhes segurança», conta a enfermeira, que, além da consulta no Hospital de S. João, acompanha partos de baixo risco e orienta a preparação para o nascimento num consultório privado.
Maria de Lurdes Francisco critica ainda aquilo a que chama a cultura do médico: «A enfermeira-obstetra tem mais competências para fazer a vigilância da gravidez do que o médico de família, mas em Portugal ainda se pensa que só os médicos é que sabem», analisa, apelando à mudança de mentalidades por parte das mulheres. «Querem fazer muitos exames e muitas ecografias e isso nem sempre é necessário.»
Do lado oposto, as mulheres que querem um parto com o mínimo de intervenção optam cada vez mais por ter os filhos em casa. Em Portugal, o número de partos domiciliários ainda não é significativo, mas Dolores Sardo, presidente da Associação Portuguesa de Enfermeiros e Obstetras (APEO) e docente na Escola Superior de Enfermagem do Porto, admite que «se houver uma rede de suporte, essa possibilidade pode ser reabilitada».
No entanto, faz questão de frisar que a humanização do parto não é necessariamente sinónimo de nascer em casa. «Acho que podemos fazê-lo também nos hospitais», continua Dolores Sardo, explicando que para isso os enfermeiros precisam de ser mais autónomos. «A APEO tem-se debatido por mais autonomia junto da Ordem dos Enfermeiros, mas as coisas demoram o seu tempo».
Texto de Patrícia Lamúrias
Revista Pais & Filhos
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