São muitos os casais portugueses sofrem de problemas de fertilidade. Neste universo, na busca de tratamentos de reprodução medicamente assistida, há quem recorra ao Serviço Nacional de Saúde, submetendo-se a listas de espera, e quem procure centros privados nacionais ou realize os tratamentos além fronteiras, opções que envolvem custos elevados.
«Para lá da noção errada de que no estrangeiro tudo é melhor», Carlos Calhaz Jorge, responsável pela Unidade de Reprodução Humana do Hospital de Santa Maria, não encontra «qualquer explicação para se procurar tratamentos no estrangeiro, exceto quando é necessário recorrer a técnicas que não se praticam em Portugal, por razões legais ou culturais».
Vale a pena?
No que toca à qualidade dos tratamentos disponíveis em Portugal, Carlos Calhaz Jorge afirma que «os métodos seguidos em nada diferem dos usados em países como Espanha e, atualmente, em certos casos, no Brasil». Segundo o especialista, apenas a doação de ovócitos pode justificar um tratamento no exterior. «Em certos países, esta técnica é autorizada, está estabelecida há 20 anos e são vários os centros que a disponibilizam.
Em Portugal, a autorização legal é relativamente recente e são poucos os centros privados que conseguem recrutar dadoras, não sendo crível que esta técnica se venha a realizar nos hospitais públicos».
Testemunho
Após tratamentos falhados com recurso a fertilização in vitro e injeção intracitoplasmática (ICSI), Raquel Ventura recorreu, há três anos, à doação de ovócitos, em Espanha. «Estávamos na fase de aprovação da lei da Procriação Medicamente Assistida e as clínicas sugeriam aos casais, com problemas de ovócitos, a ida ao estrangeiro», confessa. Raquel acabou por ir para o estrangeiro com um relatório dos tratamentos que já tinha feito. À segunda tentativa conseguiu engravidar.
«Apenas tive de cumprir as recomendações habituais para uma ICSI, tomar medicação para controlar a rejeição do embrião e melhorar as possibilidades de implantação. Fiquei uma semana em repouso em Espanha, antes de regressar para fazer o exame em Portugal, 14 dias após a transferência». O acompanhamento da gravidez ocorreu em Portugal. Cada tratamento custou 6.000 euros, excluindo viagens e alojamento. Embora lamente que tivesse sido necessário ir ao estrangeiro («muitos casais não puderam ter filhos por esta razão», conta), hoje diz que «valeu a pena todo o esforço».
Doação de ovócitos
Técnica destinada a casais inférteis em que a mulher, explica Carlos Calhaz Jorge, «pode recorrer a óvulos de uma dadora que serão conjugados com os espermatozoides do parceiro para dar origem a embriões que depois são colocados no útero da candidata a engravidar».
«A recetora tem de fazer um pequeno tratamento de preparação do útero para receber os embriões», refere ainda.
«Todas as dadoras são rastreadas quanto a doenças e infeções, não havendo qualquer risco nem incómodo para quem recebe as células», acrescenta o especialista.
Casos indicados
Quando a mulher não consegue contribuir com os seus óvulos para a reprodução. Acontece nos casos em que «a mulher nasceu com uma doença de base, teve uma menopausa precoce, foi obrigada a remover os ovários ou a fazer algum tipo de tratamento com radiações ou quimioterapia», refere o especialista.
Custos
O custo de um tratamento efetuado com recurso à doação de ovócitos ronda os 5.850 euros, revela o site www.avaclinic.pt, um dos dois centros privados que disponibilizam em Portugal esta técnica. Pode encontrar informações sobre outro centro em www.ivi.pt.
Listas de espera
Existem cerca de 2.800 casais inférteis em lista de espera para tratamentos de infertilidade no setor público. Para combater este quadro, os casos em espera há mais de um ano têm estado a ser encaminhados para centros privados, mas segundo Cláudia Vieira, presidente da Associação Portuguesa de Infertilidade (API), «o processo não está a decorrer com a celeridade necessária». O encaminhamento é feito para dois tipos de tratamento: fertilização in vitro e injeção intracitoplasmática, estando excluídos os casos da doação de ovócitos.
Texto: Mariana Correia de Barros
Comentários