É uma história que começou há mais de três décadas e ainda não acabou.

Um clássico da ciência sobre a natureza humana, idealizado por um professor de psicologia de origem austríaca.

Walter Mischel, hoje na casa dos 70 anos, pediu então a crianças de quatro anos da Bing Nursery School, nos EUA, que fizessem uma escolha. Cada uma ficaria numa sala com uma guloseima (o marshmallow) e teria duas hipóteses. Se conseguissem esperar alguns minutos, até que a pessoa que lhes daria o doce regressasse, receberiam não uma mas duas guloseimas.

 

Se não fossem capazes, tocavam um sino, o adulto regressava e comiam logo o doce, mas somente um. O que aconteceu? Apenas cerca de 30 por cento conseguiram auto-negar um prazer instantâneo em prol de uma recompensa superior. Como? Tapando os olhos, cantando, brincando. Distraindo a vontade, portanto.

 

Anos depois, Mischel verificou que «aqueles que esperaram, comparados com os que tinham agarrado [a guloseima], eram mais populares entre os seus pares, tinham menos dificuldade em adiar a gratificação e obtinham notas muito mais elevadas», conta Daniel Goleman, que celebrizou o estudo no bestseller «Inteligência Emocional».

Atualmente, Mischel está empenhado em explorar os mecanismos não só psicológicos como fisiológicos, neurológicos e genéticos que estão na base «da capacidade de autocontrolo e da regulação das emoções face a condições emocionais quentes». Entretanto, as suas experiências permitiram perceber que as crianças conseguem melhorar o autodomínio quando os adultos lhes ensinam alguns truques mentais. Mas isso não basta. Podem diluir-se com o tempo.

E é aqui que entram os pais, sublinhou Mischel à revista The New Yorker, em maio de 2009. «Os seus pais estabeleceram rituais que o obrigam a resistir diariamente? Encorajam-no a esperar? E fazem-no sentir que a espera valeu a pena?».

Por detrás de uma resposta positiva a cada uma destas questões, encontra-se a necessidade de dizer muitas vezes «não» a uma criança e isso. Embora seja «uma das coisas mais difíceis do mundo», como também admite a psicoterapeuta infantil Asha Phillips.
 

Texto: Nazaré Tocha